Gremistas e colorados deliberadamente juntos em estádio, como vai ocorrer no Gre-Nal deste domingo no Beira-Rio, já aconteceu em passado recente, vimos aqui na edição de ontem. Em 1967, Grêmio e Inter estrearam no Torneio Roberto Gomes Pedrosa, o Robertão, desde 1950 a mais charmosa competição nacional, só disputada entre clubes de Rio e São Paulo. Mas as estrelas Santos, Botafogo, Flamengo, Corinthians, cobravam cota mínima nas viagens ao Sul. Era necessário garantir boa renda, daí a campanha inédita pela presença de gremistas em jogos do Inter e de colorados nos do Grêmio. Um Comitê Robertão mobilizou a cidade na Rua da Praia e a dupla Gre-Nal adotou a ideia de união.
Houve um Gre-Nal de início, e azuis e vermelhos conviveram em paz no Olímpico, cada um em seu reduto. Viriam mais jogos, a campanha chegou aos bairros e a imprensa pediu aos torcedores que “emprestassem o apoio ao rival”. O público atendeu. Quando o Inter venceu o Flamengo no Olímpico (todos os jogos do Robertão foram lá), os gremistas compareceram e aplaudiram a vitória colorada, uma cena impensável em 58 anos de rivalidade até então. Os colorados retribuíram quando o Grêmio empatou com o Santos. Vibraram no gol de Alcindo e se calaram no de Pelé. Parecia um milagre, e os jornais chamaram os ordeiros de Torcida Gre-Nal, como escreveu Rodrigo de Cardia na monografia Jean Marie, o Brasil vai até o Chuí. O Flamengo levou de volta 25 mil cruzeiros novos, e o Santos, 40 mil – os gaúchos estavam aprovados.
Quando o Grêmio voltou do Rio com uma vitória e um empate, até colorados foram ao aeroporto. Antes de Grêmio e Portuguesa, o filho de um dirigente tricolor mostrou uma bandeira vermelha.
Durou pouco a urbanidade. Na inauguração do Beira-Rio, em 1969, Grêmio e Inter se engalfinharam em batalha campal jamais vista no clássico.