Leitores e colaboradores do Almanaque Gaúcho dedicaram generosos versos ao Dia das Mães. Reproduzimos aqui alguns poemas recebidos nos últimos dias.
Mãe
Jaime Vaz Brasil
Mãe.
Nossa Senhora do Ventre.
Do parto, do colo, dos braços,
do seio, do beijo e do abraço.
Mãe.
Nossa Senhora do Berço.
Do choro e das noites em claro,
das cantigas e dos amparos.
Mãe.
Nossa Senhora dos Passos.
Dos andares e dos tropeços,
das quedas e do recomeço.
Mãe.
Nossa Senhora da Escola.
Do bom conselho, da merenda
e do joelho que se remenda.
Mãe.
Nossa Senhora da Espera.
Da hora que se ancora à sala,
da noite que se alonga e cala.
Mãe.
Nossa Senhora do Adeus
e do prato fundo que a vida
sempre aquece, nas despedidas.
Só as mães são felizes
Suzana Soriano Corrêa
Por que só as mães são felizes?
Simplesmente,
porque são mães.
Alegram-se sempre,
às vezes, sem motivo;
elogiam sempre,
às vezes, sem razão,
e acarinham,
nos momentos de solidão,
os sonhos não vividos,
ou vividos
de serem mães.
Mãe
Nelly Todeschini Cantele
No cotidiano, tuas batalhas
tuas conquistras,
momentos de desilusão
e de alegria,
projetos de amor todos os dias,
na busca da mais certa das verdades.
E assim tu seguirás,
sendo caminho onde os passos passam
e desaparecem
mas os sonhos se aninham e permanecem,
com nuances de passados
e futuros.
E tu seguirás sendo alegria
e as mesmas horas seguirão contigo,
entre alegres risos e despertat ansioso,
pelos risos, pelas lágrimas
e pelo tempo.
E tu seguirás sendo tristeza,
no entardecer de uma beleza triste,
que se transforma em noite
e volta a ser o sonho,
enquanto a madrugada
te detém desperta
e faz do teu sonho
a claridade incerta,
que espera pela luz
do acontecer.
E tu seguirás sendo esperança,
enquanto teus olhos cativarem
as visões de um infinito,
onde as estrelas acenam como gritos,
ao encontro das respostas
que procuras.
E tu seguirás sendo VIDA,
seguirás sendo retornos e partidas,
seguirás sendo saudade na distância,
até a distância te fazer ETERNIDADE!
Dois homens
Adersen Chrestani
Eles vêm da solidão do tempo
Do plano infinito, do astro água.
Dois homens cavalgando sem parar
Nas entranhas do corpo máter.
Eles vêm da vida célula,
Já atravessaram o estágio vidro
E se perfectibilizam no ventre ninho.
Dois homens e muitos destinos.
Quais deuses adorarão?
Quais símbolos haverão de seguir?
Dois homens que se alimentam do
Sangue pulso de uma menina mulher,
Que lhes dará a luz
E o seio farto do colo MÃE…
E o amor sublime que só ela tem.
Mãe
José Nedel
Ser mãe é distender-se em muitos afazeres,
Sem lamentar-se a si, por lágrimas ou dó.
É como ensina um mestre, rico de saberes:
“Também existem muitas mães em uma só”*.
(*José Outeiral)
Mãe
Suzana Soriano Corrêa
Mãe, símbolo de abnegação.
Aconchego de todas as horas.
Uma embarcação segura,
rumo ao porto da esperança.
Uma história contada em contos,
crônicas, romances, biografias,
enfim, em um contexto
sempre presente nas leituras da vida.
Um feitiço que enlaça,
em prosa e verso,
um amor perpetuado pelos tempos.
Mãe,
autora de uma obra de amor.
Filhos, devotai às suas mães
um amor incondicional!
Mães, devotai aos seus filhos
um carinho especial!
Mães de Bagé
Roselaine Funari
saudades do útero verde
caminhos que não percorri
saudades dos Pampas meu vô
histórias que não vivi
saudades de manhãs e lares
colares que não conheci
saudades guardadas no tacho
doces que não servi
saudades são mães de Bagé
Alziras Corinas Albertinas
prendas que nunca vi
e capeando este poema
nem sei se é mesmo minha
a saudade que sinto de ti
Mãe! Uma canção de amor
Pedro Porcher Neto
Ao longe o cantarolado
luz de um céu azulado
o suor no vestido floriado
um suspiro de dor!
O caminhar apressado
um tesouro bem guardado
a prontidão do cuidado
o perfume da flor!
A ternura do beijo molhado
consolo imaculado
o olhar iluminado
uma cançaõ de ninar!
Belezura do rosto rosado
o doce colo ganhado
estrela guia do sonhado
a missão de amar!
O eterno berço aleitado
alimento infinitado
o canto entoado
um sorriso de alegria!
O buquê ornamentado
um coração consolado
o verso inspirado
o rimar da poesia!
O grande amor incondicionado
refúgio do xale dourado
o sonho do céu estrelado
uma doçura no explendor!
O cheiro da bravura no canto acarinhado
perfume na esperança do caminho ilustrado
a saudade no cantarolar lagrimado
Mãe! Uma canção de amor…!
Mãe
Maira Vicenzi Knop
Obrigada mãe por me deixar vir
por estar comigo enquanto crescia
por apoiar planos e trajetórias
por me incentivar
na descoberta de novos caminhos
obrigada mãe
por repartir comigo tua ternura
teus sorrisos
teu dia-a-dia
me ensinaste com teu amor
a ser grande e crescer como pessoa
hoje não sou mais quem fui ontem
sou ainda melhor
pois perto do teu coração
me espelhei desde cedo
e ao longo de minha vida
te tenho como recompensa
enquanto a premiada
serei sempre eu
Mãe
Alexandre Ruszczyk Neto
enquanto viveres eu sonharei
se me faltares, só terei a noite
és o melhor que a vida me trouxe
o olhar mais puro, o sorriso mais doce
contigo, tenho um pé no chão
e outro pé na primavera do homem
a vida nas árvores agarrado na tua pele
o fruto maduro sagrado
na tua ausência, serei só lembrança, vento
Imortalidade
Jaime Katz
Minha mãe viajou dia dois
deste ano de dois mil e cinco
Não levou roupas nem malas
Não levou sequer seus brincos
Foi passear entre as estrelas
De ninguém se despediu
pra brincar nos meteoros
de mãos dadas com meus tios
Minha mãe era tão boa
e também era tão linda
como poucos são ainda
neste mundo não gentil
Não vos quero entristecer
ao falar desta senhora
Já não era assim tão moça
mas que falta faz agora
Pela mãe que Ele deu
de presente para mim
e que afinal recolheu
para enfeitar o seu jardim
Desconfio, minha gente
mesmo sendo irreverente
que o Senhor onipotente
tinha ciúmes de mim
Quando se adora uma mãe
com a mais pura devoção
ela não morre, sesteia
e para sempre passeia
na alma do coração
Mãezinha
Neida Rocha
Tua Metade adormeceu!
Tua voz calou!
Teu braço caiu!
Tua perna parou!
Estás incompleta!
Estás pela metade!
No entanto,
teu coração está vivo
e a metade que funciona
é justamente
onde está teu coração.
Agradeço
por poder te dedicar
uma parcela do amor,
que tanto me dedicaste.
Sei que tudo isso é passageiro
e que tua garra e tua vontade
te levantarão mais cedo
do que todos pensam.
E sem ter que provar
nada, a ninguém,
breve estarás “inteira”.
E quero ainda dizer-te,
que mesmo estando incompleta,
és mais completa do que muitas
“perfeitas”!
(homenagem da autora à própria mãe, que sofreu um derrame e perdeu os movimentos do lado direito do corpo)
Milagre da vida
Francisca de Carvalho Messa
Depois de uma noite de amor
Pode acontecer a concepção
A natureza tal uma flor
Abrirá a corola é a benção
A futura mãe vai gerar o embrião
Alguns meses essa mulher
Nutrirá o fruto dessa união
Até chegar o dia de nascer
O esperar desse filho amado
É prazeroso cheio de expectativa
Seu corpo fica por Deus dignificado
A postura da futura mãe é receptiva
A alma cheia de ternura e docilidade
Feliz de quem realiza esse sonho
A mulher fica plena com a maternidade
Foi atingida pelo Milagre da Vida
Outros leitores preferiram enviar versos escritos por outros autores. Confira:
Ao que deve chegar
Regina Gregory Brunet
Como uma nuvem,
como um perfume…
Música que se pressente,
brisa que foge,
vaga forma de sonho –
– era como estavas em mim.
E agora já palpitas
em teu claustro misterioso
e te debates,
como pequenino pássaro aprisionado
Sofres a saudade
dos anjos com que brincavas,
– ou é a esperança
do mundo que te chama?
Já te cansa o teu retiro, talvez…
– queres distender-te, respirar…
e eu quisera guardar-te, ainda,
poupar-te ao impacto
desse aqui-fora que se imporá a ti,
e te receberá,
fazendo-te chorar…
Mas…é tempo de acordar:
– de pisar as estradas ásperas,
de tocar os espinhos agudos.
Mas é tempo, também,
de expandir-se ao sol
e deliciar-se com os belos frutos.
Porém mais que tudo,
– é tempo de aprender
a conciliar esses opostos,
de construir um mundo novo,
– meu filho, –
ser um homem.
(Poema de 1956, enviado pelo filho da autora, Júlio Brunet)
Embalos no colo da mãe
Dilan Camargo
Me embala, mãe
me embala
bem juntinho do teu colo
que me enrolo
que me enrolo
sou um novelo no teu colo.
Me embala, mãe
me embala
no quentinho do teu colo.
Faz um bolo
faz um bolo
que depois não te amolo.
Me embala, mãe
me embala
me dá um beijo e uma bala.
Me embala, mãe
me embala
é só um pouquinho de balda.
Pai e Mãe
Dilan Camargo
Só pai leva ao futebol?
Só mãe arruma o lençol?
Só pai faz um pão com queijo?
Só a mãe é que dá beijos?
Pai só leva a tiracolo?
Só a mãe leva no colo?
Pai só faz coceira na barriga?
Só a mãe canta uma doce cantiga?
Só o pai paga e salda?
Só a mãe que troca fraldas?
Só o pai assa salsicha?
Só a mãe é que cochicha?
Pai só se arruma?
Só mãe se perfuma?
Só o pai faz mágica?
Só a mãe é trágica?
Só o pai trabalha?
Mãe só limpa tralha?
Pai e mãe! Quantas perguntas
pra respostas que andam juntas!
(Poemas enviados por Magda Brito)
E três textos enviados pela leitora Natália Setúbal:
Já mocinha, olhava minha mãe limpar um frango,
estava calma e doce. Descansou a faca na mesa, pôs
a mão na minha cabeça e me falou ensinando como boa mãe: olha aqui, Pia,
um frango bem picado, contando com os pés e a cabeça, dá vinte e um pedaços.
Achei que éramos especiais, pois sendo então uma família de sete pessoas,
cabiam a cada um três pedaços exatos. Minha mãe me quer.
(Adélia Prado)
De fato, és bem filha de tua mãe (Ezequiel, 16:45)
O amor de mãe
por seu filho é
diferente de qualquer outra coisa no mundo.
Ele não obedece lei ou piedade,
ele ousa todas as coisas
e extermina sem remorso
tudo o que ficar em seu caminho.
(Agatha Christie)