Há
Pablo Neruda, no
Li, essa
As
Partindo daí, duas investigadoras da
As
A
Postado por ana mariano
Há
Pablo Neruda, no
Li, essa
As
Partindo daí, duas investigadoras da
As
A
Postado por ana mariano
Ontem, passando pela Ipiranga, vi, pela primeira vez, as borboletas que a Fundação Thiago Gonzaga – Vida Urgente – pintou no asfalto para recordar a todos nós os perigos de misturar álcool e direção. Por casualidade, adiante, na Cidade Baixa, uma correria de sirenes e passo bem ao lado de um acidente, que me pareceu bem grave, entre uma moto e um ônibus.
Há sempre, nessas horas, uma mistura de fascinação e horror, as pessoas querem, e não, olhar o acidentado. Alguns assumem a curiosidade, mas a maioria fica ambivalente ( eu, entre eles).
Á noite, também, por pura casualidade, apenas porque estava ali, passei os olhos num livro cujo título é - Como não morrer!
Abri pensando que fosse um apanhado de conselhos: comer pouco, caminhar, cuidar o colesterol, essas coisas. De certa forma, é, mas o enfoque é inverso: começa pela morte.
O livro é escrito por uma médica americana , Jan Garavaglia, chefe do departamento de medicina legal da Flórida. A partir das autópsias que faz, ela dá os conselhos: não beba demais, leia a bula dos remédios, mantenha as vacinas em dia, cuidado com os tapetes soltos…
O sucesso desse livro ( para ter sido traduzido, deve ter vendido bem nos Estados Unidos) se baseia, creio eu, em três coisas: na vontade que temos de seguir vivendo, nessa mistura de fascinação e horror com que se olha a morte violenta e num clima detetivesco que a autora consegue criar.
Ainda que de maneira respeitosa ( naquele corpo sob exame, hoje apenas isso, um corpo - músculos , ossos, sangue- um dia, viveu alguém) a doutora descreve as autópsias em detalhes. Sem citar exatamente, descrevo algumas passagens: em razão da decomposição ela já estava rosa e verde e o cérebro derretia em minha mão como se fosse manteiga. Outra: a morte foi causada por uma ameba que deve ter entrado pelo nariz enquanto ele tomava banho no lago e se instalou no cérebro ( e eu, ignorante, que me criei tomando banho em açude!).
A leitura desse livro, para os que se arriscarem, dá aquela sensação confusa, ambígua, de quem quer e não olhar um corpo no chão. Me lembrou ( de um jeito meio louco mas lembrou) aquela música do Lupicinio: eu não sei se o que trago no peito/ é ciúme, despeito, amizade ou horror/ eu só sei que quando a vejo/ me dá um desejo de morte e de dor.
Postado por ana mariano
Estava pensando no fenômeno que é a Oprah Winfrey.
Semana passada ela pedia desculpas às pessoas que haviam tentado acessar um novo quadro ( não entendi bem qual era, peguei o bonde andando, mas não importa) pedindo desculpas e explicando que por mais que tivessem programado e projetado nunca imaginaram um número tão grande de pessoas tentando acesso ao mesmo tempo, algo como um milhão e meio ao redor do mundo.
O que ocasiona essa audiência?
No que se funda o carisma, a força que ela exerce sobre as pessoas.
Vocês já notaram que, perto dela, todos, ou quase todos se apequenam, se infantilizam, agem como se fossem crianças? Ficam sorrindo, e acenando – Bye Oprah, bye… – exatamente igual a minha netinha de um ano. Até o ator aquele de cinema ( esqueci o nome agora) ao falar da namorada ficou saltando em cima das cadeiras como se tivesse doze anos.
Na televisão brasileira, acho que apenas a Xuxa, nos velhos tempos, e o Chacrinha eram assim carismáticos.
Chacrinha e Oprah, estilos totalmente diversos, o mesmo resultado.
Diversos, não opostos. Ele vestia-se de palhaço, ela é uma mulher elegante, mas, se pensarmos bem, ele era, na verdade, muito sério, palhaço apenas nas roupas, raramente sorria.
A autoridade de ambos na condução do programa é muito semelhante.
O que gera o carisma, no que ele se fundamenta ?
Na sinceridade ou na aparência de sinceridade ? ( estou pensando agora na Eva Perón)
Por que a grande maioria das pessoas se infantiliza frente ao carismático? ( notaram como as pessoas mais humildes choram feito crianças quando falam com o Lula)
Será pela necessidade que todos temos de sermos aprovados por uma Grande Mãe ou Grande Pai? A nossa sempre presente carência?
Postado por ana mariano
Sinto Muito é o título do livro que Nuno Lobo Antunes, irmão de António Lobo Antunes, o consagrado escritor portugues, acaba de lançar.
Aos que o comparam com o irmão, Nuno responde: “ António é Stravinski eu sou Julio Iglesias.”, o que não deixa de ser uma frase inteligente uma vez que, dependendo do gosto, pode ou não ser humilde.
O livro, que Nuno define como de confissões, conta as experiências do autor como oncologista pediátrico num hospital de Nova York.
O assunto é complicado, não apenas por ser triste, pesado, mas porque pode facilmente descambar para o melodrama, a pieguice.
Cristóvão Tezza, no seu também autobiográfico, O Filho Eterno, soube fugir dessa armadilha.
Não li o livro, não posso comentá-lo.
O que trago hoje é um trecho da entrevista concedida pelo autor ao jornal espanhol El País.
“ A medicina não se destina apenas a curar, mas também a diminuir o sofrimento, e pode acontecer que isso signifique acabar com a vida, mas é para mim muito claro que há ocasiões em que é preciso dar morfina sem medo do que possa suceder.”
O assunto é polêmico, delicado.
É uma escolha difícil que precisa ser tomada com serenidade.
Sei porque, de forma um pouco diferente, eu a enfrentei ao decidir que minha mãe, com 89 anos, não passaria mais uma vez ( a sexta) pela agonia de ter um tubo enfiado em sua boca, machucando-a, quebrando-lhe os dentes, apenas para que permanecesse viva por mais algumas meses.
Fiz de tudo para mantê-la comigo. Chegou um momento em que foi preciso deixá-la ir com dignidade.
Postado por ana mariano
Ás 7 da manhã, enquanto estava na esteira ( é, eu me esforço…) assisti no Canal Brasil a um documentário sobre Niemeyer com depoimentos do Chico ( aquele que a dona Edna diz que não sabe nada), Ferreira Gullar (companheiro de PCB) e muitos outros.
Talvez por ter crescido vendo nascer Brasília, sempre me orgulhei de Niemeyer. Pela mesma razão, habituei-me a ele, via sem ver .
Depois de hoje ele deixou de ser uma abstração. A segurança com que com os seus, então, mais de 80, explicava cada um dos projetos, e o repetia, esboçava, na hora, sobre o papel, era de dar inveja a uma desmemoriada como eu.
A genialidade do Niemeyer aparece quando, deixando-se influenciar por Le Corbusier ( aquele arquiteto francês, um dos maiores do século XX ) , o modifica totalmente. Onde o outro via retas, Niemeyer criou curvas.
“A lição maior que Corbusier me deu – palavras dele – foi ensinar que arquitetura é invenção.”
Com essa frase do seu “mestre”, parece que Niemeyer sentiu-se autorizado a ir além, ousou deixar de lado a lógica para buscar o ideal. Ou seja, tornou-se um sonhador, aquilo que os pais da gente recomendam que não sejamos, mas com os dois pés no chão. Esse paradoxo o torna genial e, claro, paradoxal.
Ama o ser humano, faz arquitetura pensando nele, ao mesmo tempo, não tem a menor paciência. Seu homem também é ideal. Lá pelas tantas ele diz:
“ Imagina que chegaram ao absurdo de me perguntar porque a Praça dos 3 Poderes não tem árvores! Mas isso é evidente, será que não percebem? A mediocridade ativa é uma merda…” Não é uma delícia essa última frase?
( aqui entre nós, faço parte dessa mediocridade ativa porque, se ele não explica – porque é um espaço oficial e não privado – eu não saberia)
Postado por ana mariano
Dia 24 de agosto, aqui no Uruguai é, por decreto, La noche de la Nostalgia. A idéia surgiu há 30 anos pela cabeça de um cidadão chamado Pablo Lecueder e movimenta mais pessoas que a noite de Reveillon. Vocês podem acreditar nisso?
Todos nós já fizemos, ou pensamos fazer, uma festa lembrando os velhos tempos, as mesmas músicas, as mesmas bebidas, até as mesmas roupas.
Mas uma festa nacional, aprovada por lei e movimentando um país inteiro há 30 anos é algo que só pode acontecer dentro de um jeito especial de ser, um jeito nostálgico e uruguaio de ser.
Já li, em jornais daqui, reportagens comentando o quanto esse jeito de estar sempre com um olho no passado faz mal para o Uruguai. Até pode fazer, quanto a negócios, produtos, mas, quanto a turismo, é um grande achado.
Martim Koham, o professor argentino que falou sobre Borges no festival de inverno, disse, brincando e não, que quando quer encontrar a velha Argentina vem para o Uruguai.
Eu também encontro aqui um Brasil antigo, de uniformes colegiais, guarda-pós brancos e laços azuis, um Brasil sem pressa e bem educado, um Brasil do tão esquecido bom dia, boa noite, como vai a senhora, do por favor e obrigado. Encontro e gosto. É mais ou menos como os produtos orgânicos, podem não ser tão exuberantes, mas têm público fiel.
Hoje, quando chegava no edifício depois de uma volta de bicicleta, um cara de moto parou ao meu lado na porta da garagem. Não me assustei, não pensei – pronto, estou sendo assaltada. Apenas nos cumprimentamos porque imaginei que fosse, como realmente era, alguém chegando ao edifício para fazer uma entrega.
Postado por ana mariano
A Angela manda essa bela poesia que me fez lembrar a história de um poeta que o Borges admirava e cujo nome não lembro agora ( juro que depois eu procuro) que, casado, descobriu estar apaixonado por uma moça com quem ele trabalhava, se não me engano numa biblioteca, porque ao despedir-se , ao final de um dia comum de trabalho, deu-se conta da falta que ela lhe faria até o dia seguinte.
( eu tiraria o – se- antes de ilumina, tenho a mania de arrumar poesia dos outros)
Crespúsculo
É quando um espelho, no quarto,
se enfastia;
Quando a noite se destaca
da cortina;
Quando a carne tem o travo
da saliva,
e a saliva sabe a carne
dissolvida;
Quando a força de vontade
ressuscita;
Quando o pé sobre o sapato
se equilibra…
E quando às sete da tarde
morre o dia
- que dentro de nossas almas
se ilumina,
com luz lívida, a palavra
despedida.
DAVID MOURÃO FERREIRA
Postado por ana mariano
Parece que eu tinha razão, eu e a cidade já somos amigas. Ela ontem me mandou dois presentes. O primeiro, um bando de leões marinhos, provavelmente fêmeas, com seus filhotes. Iam apressadas, “conversando”, pareciam mãe levando os filhos ao colégio.
Mais tarde, quando eu andava de bicicleta, uma baleia! Grande! o corpo cheio de cracas. Para estar tão perto da costa, devia estar com filhote.
Essas duas fêmeas me fizeram lembrar o poema da Adélia Prado que postei outro dia.
Aquele que fala em santas e doidas.
Falamos num dos aspectos do poema, o envelhecer, discutimos como a palavra – velho- pesa mais nas mulheres, como as exigências do manter-se jovem atacam muito mais as fêmeas que os machos.
Mas há outro ponto nessa expressão “ santas e doidas”, o sexo.
Acabei de ler um livro muito bom de Rubem Mauro Machado – A idade da Paixão. O Rubem , gaúcho de Santa Maria, morando no Rio, é da minha geração, um pouco mais velho. Escrito há 20 anos, o livro recebeu o prêmio Jabuti.
A história acontece em 1961, conta um ano na vida de um rapaz de 18 anos que vem estudar em Porto Alegre: as pensões de estudantes, as namoradas, os entusiasmos políticos.
Quanto ao sexo, o “quase tudo” de uma época em que era proibido transar com “ moças de família” , o personagem, ambivalente, quer que a namorada aceite seus “avanços” MAS fica chocado quando ela responde com “a mesma voracidade”, a acha fácil.
Esse trecho, escrito 20 anos atrás, continua atual:
“ As garotas, ensina-nos a sociedade, têm de ter a dúplice e contraditória qualificação de castas e sensuais. Nós a queremos demônios ( o cinema não lhes aponta o caminho?) e santas.”
É o mesmo, dito de outra forma. O pior é que a nova geração de mulheres ( falo da faixa dos 30 a que conheço melhor) continua precisando manter o sutil e instável equilíbrio entre ser doida e santa. Caíram algumas barreiras, surgiram outras.
Postado por ana mariano
Amizade, não é algo que se faça de lançante, leva tempo, dá trabalho. Assim como as pessoas, uma cidade, onde tu não te criaste, começa a te conhecer quando és capaz de lembrar com ela as casas que existiam onde hoje se levantam edifícios. Quando começas a distinguir suas cicatrizes, suas saudades. Acho que eu e a cidade estamos ficando amigas. Ontem, um cachorro de rua me acompanhou durante a caminhada. Os cães têm faro para essas coisas.
Postado por ana mariano