
Luís Eduardo Schmidt, 31 anos, puxa a cadeira estofada e ocupa uma das mesas de um café localizado num dos largos corredores do BarraShoppingSul. Pede um In Love, café com leite condensado, no começo da tarde de sexta-feira. O vaivém das compras começou.
Os porto-alegrenses passam, à esquerda, à direita, e não o reconhecem.
Deveriam?
Camisa preta, óculos escuros, pendurados num dos botões de cima, ele espicha as pernas e acomoda os tênis de grife, tamanho 41, sob a mesa. Luís seria outro Luiz qualquer, como eu, não fosse ele o Edu, atacante do Inter – um paulista do Interior formado entre os garotos do São Paulo, companheiro de Ronaldinho nas seleções de base da CBF e nos Jogos Olímpicos de Sidney, que atuou nove anos na Espanha, entre o Celta e o Betis, com 250 partidas no currículo europeu e 60 gols.
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“Nunca me escondi. Sei que posso colaborar”
Mas o Edu do Inter não é referência para a torcida vermelha, nem um dos rostos mais conhecidos do clube, que esgrima uma das suas mais graves crises dos últimos anos. Desde agosto do ano passado no Estádio Beira-Rio, Edu fez 20 jogos, marcou três gols. A média não é boa, é fraca, e o jogador concorda. Se ele tivesse vindo direto da sua Jaú natal, tudo bem, mas ele chegou sem escalas do Primeiro Mundo. 
A cobrança, assim, regula com o tamanho das exigências do Gigante da Beira-Rio. Edu sacode a cabeça e diz:
– A readaptação de um brasileiro na volta é difícil. Não conheço ninguém que tenha voltado e jogado seu verdadeiro futebol de cara. É preciso um tempo.
– E por que você não está jogando o que pode e sabe? – eu questiono.
– A temporada 2008/2009 foi muito difícil. Sofri uma lesão. Joguei pouco, perdi a sequência, oito meses sem usar uma chuteira. Cheguei ao Inter em agosto de 2009, não fiz pré-temporada. Depois sofri nova lesão muscular. Parei um tempo, voltei aos poucos e ainda não consegui ser o jogador importante que fui nos outros clubes. Sempre tive o reconhecimento das torcidas. Nunca me escondi.
– Que tipo de jogador você é? – pergunto.
– Alguém útil ao grupo, capaz de fazer gols, mas de oferecer assistências também. Gosto de passar. Eu me alegro com o passe.
– Você está feliz?
– Não, claro que não. Ninguém pode estar legal quando o time não ganha. Jogador de futebol só está bem quando as vitórias acontecem. Mas não posso perder a confiança. Todo mundo está ciente de que as coisas não estão dando certo. Estamos tentando. Eu tento.
– Por que não está dando certo?
– Que pergunta… O conjunto não está respondendo bem.
– E você?
– Eu acho que fui bem no jogo com o Cerro. Em Quito, apesar da altitude, entendo que não fui mal. Na derrota para o São José, é difícil falar. É a sequência que eu falo… Não adianta jogar só uma, duas, quatro partidas… Sei o que posso fazer, sei que posso colaborar.
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“A torcida precisa entender: eu não sou um Nilmar”
Em pouco mais de 200 dias com a camisa do Inter, Edu encontrou três treinadores diferentes, Tite, que não o conhecia bem, Mário Sérgio, que trabalhou com ele rapidamente no São Paulo, e Jorge Fossati, que o acompanhava na Espanha. Aos três precisou se apresentar, explicar as funções táticas que poderia fazer e as que “gostava” de fazer.
Na Europa, ele foi centroavante em raras ocasiões. Sempre jogou como um atacante aberto pelo lado esquerdo (em certas partidas Rafael Sobis era quem corria pelo lado direito), um jogador que entrava na grande área com facilidade, batia bem de pé direito, marcava gols de cabeça e servia de garçom.
– Eu atuava num sistema 4-2-3-1. Jogávamos com dois atacantes abertos, que voltavam, e abasteciam o centroavante. Muita gente diz que eu não posso jogar ao lado do Alecsandro, que nós somos jogadores com as mesmas características. Não é verdade. Sou um jogador de movimentação. Mas a torcida precisa entender, antes, que eu não sou um Nilmar. Comparações são injustas.
Alecsandro, Taison, Walter, Marquinhos, Damião e Kléber Pereira são os que precisam chamar o gol de seu. Edu está entre eles, mas a crise técnica do time embaralhou os nomes. Ninguém sabe quem é titular, reserva. A única pista é que Walter se transformou no cara da vez. Os outros seis atacantes giram em torno dele.
– Ainda não exibi no Rio Grande do Sul o mesmo futebol que mostrei na Europa.
Edu vive numa panela de pressão. Sabe que joga mais, mas sabe também que a torcida está desconfiada, os dirigentes incomodados, o técnico indeciso. Ele entende. A vida de jogador de futebol é um recomeço diário. No Inter, ele precisa começar de uma vez por todas.
O tempo está se esgotando.
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