Alberto Guerra, 36 anos, dava os seus primeiros e firmes passos no Olímpico aos 10 anos de idade quando Renato, 47, driblava o mundo em Tóquio em 1983. Vinte e sete anos depois, numa segunda feira de inverno, de crise e de caras feias em azul, preto e branco, ele estava ao alcance dos olhos do velho herói num restaurante da Zona Sul do Rio de Janeiro na missão mais importante da sua vida de dirigente.
Sob uma espaçosa mesa de toalha branca, num espaço frequentado pelos VIPs cariocas, uma proposta para que o melhor jogador da história gremista voltasse ao palco de cimento de algumas de suas melhores atuações, sem as velhas chuteiras, com o abrigo de treinador. O salário passava dos R$ 200 mil, mais um prêmio de R$ 1 milhão para colocar o clube na faixa da Libertadores em 2010 e afastava a questão pessoal, o amor ao clube, a força do coração.
A visita era profissional.
Com 15 anos de Grêmio, com atuação na área jurídica, de onde saíram grandes nomes da história do clube, o advogado Guerra, casado, duas filhas, se policiou para não contratar a lenda. Ele ainda vê uma aura em Renato, uma visão tipicamente gremista depois de tantas lembranças, mas, naquele dia, precisava notar algo mais.
Não queria mentir para si mesmo, nem estender qualquer falsidade aos outros milhões de gremistas que precisam enxergá-lo como o novo (e forte) homem de futebol do Grêmio. Logo, ele baniria Rodrigo do vestiário e implantaria a sua marca. Foi uma mensagem interna.
Depois, olho no olho, deu um recado definitivo ao grupo de jogadores em cinco minutos de porta fechadas.
“O Grêmio está acima de todos, sempre”.
Na conversa de quatro horas com Renato, eles não tocaram no passado, se agarraram no presente difícil – mais complicado ainda depois da derrota de quinta-feira que sacou o Grêmio da Copa Sul-Americana.
Guerra sabatinou o técnico que foi campeão da Copa do Brasil. Questionou os conhecimentos táticos do treinador, sentiu sua motivação, observou a confiança, se comoveu com o desejo que o ex-jogador demonstrou para treinar a equipe e vencer. Se surpreendeu com o conhecimento que Renato tem dos jogadores gremistas. Guerra sentiu que Renato é hoje um agregador, mais ainda, um disciplinador, bem diferente da imagem de rebelde que o atacante cultivava nos seus tempos de jogador.
Renato mudou.
É outra pessoa. Está mais centrado.
Alberto Guerra chegou ansioso ao restaurante. Saiu convicto de que Renato Portaluppi, nascido em Guaporé, filho de família humilde de origem italiana, é o técnico ideal para a complicada realidade gremista no Brasileirão, atolado na zona do rebaixamento, 10 jogos consecutivos sem vitória.
O novo homem do futebol gremista não buscou o eterno jogador, a lenda, o autor da maior e mais famosa jogada da história do clube. Contratou um profissional que foi campeão da Copa do Brasil, que disputou uma final de Copa Libertadores da América, mas também com tropeços em quase uma década de carreira.
Um dos dirigentes mais jovens do clube – de um Grêmio que não se aplica na renovação dos seus quadros diretivos, onde a política clubística superou a paixão pelo Tricolor em algumas instâncias –, Guerra está colocando na ponta da lança dos resultados o seu futuro. Ele sabe que sua experiência ao lado de Luiz Onofre Meira no futebol não foi boa. Os resultados são a maior prova, apesar do título gaúcho. A torcida se afastou do estádio, está carente, está indignada.
Guerra é jovem, aprendeu.
Ele se aliou a Renato. Está confiante.
Não há parceiro melhor no momento no nervoso Olímpico.
Pode procurar.
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