O celular toca na Redação às 17h12min de sexta-feira:
– Alô. Luiz? É a Patrícia.
Patrícia Filler Amorim, 41 anos, presidente do Flamengo, cumpre a promessa. ZH estava na lista das suas entrevistas do dia, ao lado dos jornais The New York Times e As, da Espanha, e da revista Isto É. Ela prometeu chamar. Ligou. Ela nunca disse que iria contratar Ronaldinho. Contratou:
– Eu tive muito cuidado no anúncio. Estava escaldada. Havia perdido Felipão para o Palmeiras, o atacante Emerson para o Fluminense e o Adriano voltou para a Roma. Não queria encher a torcida de expectativas. O caso Bruno nos arrasou. O 2010 foi muito complicado para os torcedores do Flamengo.
– Foi difícil negociar com o Milan e o Assis?
– Sim, muito, mas não vou entrar em detalhes. O Ronaldo, preciso dizer, tem muito respeito pelo Grêmio, mas queria jogar no Flamengo. Eu sempre quis ter o craque. Conheço a família dele, temos amigos em comum desde o começo da década passada.
– Desde o tempo em que a Marlene Mattos cuidava da carreira dele?
– Exato. Eu sempre o encontrava no Rio e dizia que o Ronaldo precisava jogar no Flamengo. Quando ganhei a eleição (final de 2009) recebi uma ligação do Assis. “Agora ele vai para o Flamengo”, ele brincou. Fazia muito tempo que conversávamos. Eu estava só esperando a hora certa. Chegou, né.
– O Grêmio não a preocupou?
– Claro, o Palmeiras também, mas eu estava bem calçada nas negociações. Ciente. Fiz tudo com calma, esperei o momento certo. Sei que os gremistas ficaram magoados. Vai passar. São coisas do futebol. Tenho as melhores relações com o clube, adoro os gaúchos, gosto demais do Grêmio Náutico Gaúcho, que é nosso parceiro em esportes amadores.
– E o gaúcho Fábio Koff?
– Sim, claro, sou muito amiga dele, fiquei ao seu lado na eleição do Clube dos 13, votei nele. Ele é uma das minhas referências.
– O Dr. Koff, com o Clube dos 13, se envolveu no “Caso Ronaldinho”?
– Nããooo, quis poupar o coração gremista dele (risos).
A primeira pessoa a levantar o dedo, pedir a palavra na Gávea e dizer que Ronaldinho era sonho possível foi Patrícia Amorim, mãe de quatro filhos. Aliás, um dos primeiros a saber que tudo tinha dado certo foi o primogênito Vitor, 14 anos, irmão dos gêmeos Ricardo e Daniel, nove, e de Leonardo, quatro – Fernando, o pai, tem 41.
O time de futebol de salão familiar de Patrícia, todos rubro-negros, é o que mais importa, mas é o Flamengo que toma 90% do tempo, mais do que a Câmara de Vereadores do Rio, onde ela, em terceiro mandato, defende o esporte com a bandeira do PSDB.
– Entro na Gávea (sede do Flamengo) às 9h. Às vezes saio às 23h quando não tenho compromisso como vereadora. Minha vida social bate no zero. Não tenho tempo.
– Nem para nadar?
– Nadar? – ela brinca. – Só no verão. No inverno, caminho. Hoje tenho medo, pavor de água fria. Sinais de outros tempos (risos). Percorro os quilômetros de tênis pensando no Flamengo. O clube não sai da minha cabeça.
Peço que ela ouça com atenção os próximos 30 segundos da minha fala que toca no seu passado de nadadora campeão:
– 28 títulos brasileiros, 29 recordes sul-americanos, 85 brasileiros e 180 estaduais em mais de 15 anos de carreira…
– Meus números – ela diz com orgulho indisfarçável. Eu era feliz e não sabia (risos).
Ela, que saiu da piscina, não entra em vestiário. Fica na porta. Cumprimenta um, saúda o outro, um terceiro beija a sua mão. Há um respeito enorme. Patrícia é presidente de uma nação de 35 milhões de torcedores.
– Quando busquei o Ronaldo pensei um pouco nos meus filhos. O clube deve crescer. O sorriso de Ronaldo é sinal para as crianças, para o futuro. Venham para o Mengão.
Ronaldinho é carioca graças a Patrícia.
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