Aos 44 anos, 26 de futebol, o ex-zagueiro, campeão da Copa Libertadores da América com o Grêmio, tem saudade do Olímpico, diz que treinaria o Inter, onde jogou, em 1993, e reclama de parte da imprensa e dos dirigentes.
A cabeça de Adilson Batista está do outro lado do mundo. Desempregado desde o dia 25 de maio, após cinco vitórias, quatro empates e uma derrota no árido banco do Atlético-GO, onde ficou 55 dias, ele quer trabalhar na Ásia.
– No Japão, talvez. Gosto de lá, há uma possibilidade.
Ele jogou no Jubilo Iwata (1997/1999) e depois dirigiu o mesmo time (2006/2007).
– Pode ser o Japão, sei lá. Quem sabe outro time menor do Brasil. A ideia é recomeçar, quieto, longe dos holofotes, assim, tranquilo, subir de novo. Já pensava assim quando aceitei treinar o Atlético. Não deu, né.
O paranaense Adilson Dias Batista, 44 anos, 26 nos estádios, vive incomodado, mesmo em Curitiba, onde mora, mesmo que o futebol mais perto seja o do rádio e da TV.
– Hoje todo mundo fala sobre futebol no Brasil. Todos têm a sua tese, ideias, solução definitiva para todos os problemas, seja dentro ou fora de campo. Parecem especialistas. Mesmo quem não tem formação alguma na área pega o microfone e sai falando. Escreve, dita teses. É um massacre. O treinador não pode trabalhar em paz.
Ele segue com as queixas.
– O técnico chega numa semana, não conhece ninguém, e na outra já precisa estar com um time montado. Antes mesmo do cara assinar o contrato, antes de pisar no clube, os sites já estão fazendo pesquisas. Querem saber se a torcida aprova ou não. Antes de trabalhar, o profissional é pré-julgado. Como julgar se ele não começou ainda? Acho um absurdo.
Não é só parte da imprensa que o incomoda. Há outros alvos:
– Quem comanda mesmo fica lá em cima. Trocar de técnico é mais fácil. Os dirigentes transferem o problema. Demitem o técnico, acalmam a torcida e acham que podem começar de novo. Manda embora uma dúzia de jogadores, traz outros 10. Vida fácil, não?
Entre 2010 e 2011, Adilson passou por Cruzeiro, Corinthians, Santos e São Paulo, equipes top do cenário nacional. Mostrou bom trabalho em Minas Gerais, mas perdeu uma final de Libertadores, no Mineirão. Nos outros três times de massa, não fez mais do que 30 jogos, somados. Caiu, massacrado pela crítica paulista e pelos torcedores. Ele sentiu o golpe.
– Vivi bons momentos, outros ruins. Errei e acertei. Não é hora de achar culpados. Tudo explode no colo do treinador. Não é só ele o responsável. O meio fala bem de mim. Os profissionais recomendam. Quem joga futebol sabe quem eu sou. Fale com o Gilberto Silva e o Kleber, que estão em Porto Alegre. Pergunte ao Elano (Santos), Rogério Ceni (São Paulo), Gilberto (ex-Cruzeiro), Paulinho (Corinthians). Eles sabem.
Adilson está acelerado. Precisa falar:
– Eu tenho consciência do que eu faço. Aprendi. Convivi com Ênio Andrade, Felipão, Paulo Cézar Carpegiani, Nelsinho Baptista, Carlos Alberto Silva. Só bons professores.
Na conversa interestadual, que não foi atrapalhada pelo sinal arranhado do celular, ele acha que ainda volta ao Grêmio (“um dia isto vai acontecer”) e diz que nunca se negou a treinar o Inter (“é lenda, sou profissional”).
Acredita que “às vezes é preciso recuar um passo, depois se avançar dois”. Ele continua confiando no seu taco, apesar dos baques recentes e de ter saído da mira das equipes de ponta. Ele vai recuar, não desistir.
– Ainda vou voltar para um time grande. Só é preciso um pouco de paciência. Não sou mais o técnico que trabalhou no Olímpico em 2003. Estou diferente, mais tranquilo e equilibrado. Os gaúchos não me reconheceriam.
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