Técnicos brasileiros passam longe da lembrança dos dirigentes dos clubes top da Europa. Quando um time começa a cambalear na tabela, nossos treinadores não são levados em conta, não constam nas listas preferências de Milan ou Chelsea, Barcelona ou Bayern de Munique, PSG ou Benfica – nem de clubes mais periféricos.
Os europeus acham que o jogador brasileiro nem precisa de técnico em seu país. Sua individualidade é tamanha que ele consegue jogar sem ajuda de um treinador ou de um sistema tático muito definido. Claro que o conceito soa absurdo, mas é real. Vive no imaginário do estrangeiro. Talvez tenha sido assim nos anos dos supercraques de camisa amarela, não é mais. A demissão de Mano Menezes é nosso espelho.
O que a Europa não vê, nem nós, é um intercâmbio de treinadores, o mesmo que existe entre Espanha e Inglaterra ou Itália e França, entre outros.
Não há técnico brasileiro visível no primeiro mundo do futebol. Não existe estrangeiro na Série A do Brasileirão. Quem joga no Exterior é a Seleção Brasileira. Com um calendário contrário ao do europeu, os nossos times estão fora de amistosos ou torneios. O jogador quando vai, fica.
A imensa maioria dos nossos técnicos é incapaz de dialogar em inglês ou espanhol com colegas de outros países – ao contrário de argentinos, chilenos e uruguaios, que fazem sucesso fora. O brasileiro é mais um prático, moldado no terreno de jogo, usando a sua capacidade e experiência de ex-atleta, do que um teórico, um estudioso, um especialista.
O treinador nascido na Europa é mais globalizado, mais preparado, estuda bem mais. Têm mais opções de emprego. Seu campo de trabalho não se resume ao país de origem.
Em agosto passado, o presidente da CBF, José Maria Marin, disse à Agência Reuters, em Londres, depois da Olimpíada, que seria praticamente impossível contratar um técnico estrangeiro na sua gestão. Ao mesmo tempo, lembrava que os cinco títulos mundiais do Brasil foram conquistados com a ajuda de treinadores locais e os elogiava.
Se o jogador estrangeiro é sempre bem-vindo no futebol brasileiro, se já ganhou seu espaço, ninguém mais estranha, todo o time deseja um especial, um treinador também deve e pode ser. Pep Guardiola seria uma opção espetacular. Poderia oferecer ao Brasil novos conceitos, os mesmos que fizeram o Barcelona jogar como a Selecão Brasileira dos melhores tempos.
O Brasil procura seu futebol perdido. A Seleção cinco vezes campeã do mundo, feito inédito, não se apresenta mais com a melhor de todas, não encanta e não oferece esperança ao torcedor. Claro, a falta de grandes jogadores, de craques de verdade, ajuda.
A Espanha de hoje é o Brasil de ontem. Os espanhóis copiaram o Barcelona de Xavi e Iniesta. Professor do novo Barça, Guardiola pode ajudar a Seleção. Abrir uma nova porta de conhecimento, acelerar um intercâmbio e ajudar a renovar o futebol brasileiro a partir da cabeça dos treinadores.
Mas não observo em Marin coragem para começar uma revolução no futebol brasileiro meses antes da Copa do Mundo de 2014. Mas ele, que jogou futebol no São Paulo, sabe que o futebol brasileiro vai mal e que é preciso pensar em algo maior. A demissão de Mano foi um começo.
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