O superpoder de um técnico de futebol se mistura ao do presidente da nação em mês de Copa do Mundo. Ninguém sabe quem manda mais. Reeleito na Colômbia, Juan Manuel dos Santos pediu os microfones da Rádio Caracol e ofereceu ao vivo e em cadeia nacional a cidadania ao treinador argentino José Pékerman, 64 anos (Foto Eitan Abramovich/AFP). Pékerman sorriu, aceitou e passou a controlar as mentes colombianas. Está há 17 dias no poder. O povo torcedor vive feliz.
A Colômbia disputará inédita as quartas de final contra o Brasil, na sexta-feira, às 17h, no Castelão, casa de R$ 520 milhões e 69.903 lugares.
Com uma irregular história de quatro Copas em 84 anos, 14º lugar como melhor colocação (1962 e 1990) e ausente das últimas três edições, entre 2002 e 2010, a seleção da Colômbia mostrou durante as eleições presidenciais do começo deste mês o real significado de José Néstor Pékerman Krimen – natural de Vila Domínguez, povoado de 1,9 mil almas, filho de donos de pizzaria, ex-motorista de táxi de um Renault 12, em Buenos Aires, e que precisou abandonar a função de volante aos 28 anos por um problema nos joelhos.
Na jornada eleitoral, cerca de 400 mil votos resultaram nulos, na sua maioria constava o nome de Pékerman para presidente, com o zagueiro Mario Yepes, 38 anos, como vice. Longe das urnas democráticas, nos ditatoriais gramados padrão Fifa, ele não só levou a seleção a um posto inédito, como aumentou o seu número de jogos invictos no torneio. Desembarcou nos nove, sábado, contra o Uruguai: quatro agora e cinco na Alemanha, em 2006, quando liderava a Argentina.
Empatou com o recordista Vittorio Pozzo, que dirigiu a Itália nas Copas de 1934 e 1938. No Mundial da Alemanha, Pékerman também era uma unanimidade na Argentina, depois de ter conquistado títulos mundiais nas categorias de base e revelado Sorín, Milito, Aimar, Coloccini, Saviola, D’Alessandro e Aguero. Antes, nos 10 anos em que atuou na formação e captação de jovens no Argentinos Juniors, atraiu Redondo, Cambiasso e Riquelme.
No comando da seleção, foi um dos primeiros a notar que o Barcelona tinha um canhoto que “era de outro planeta”. No dia 29 de junho de 2004, pediu um amistoso com o Paraguai para chamar Messi e afastar quem desejava atrair o prodigioso menino argentino para a seleção da Espanha. Fora do seu país, passou temporadas no México até ser chamado pela Colômbia, em 2012.
A filosofia de trabalho de Pékerman é bem a sua cara de professor, de boa gente, de amigo de todos – até na área técnica dos estádios –, e se traduz numa frase que ele repete (e repete) nos treinos, nas palestras, nos vestiários e nas entrevistas coletivas.
– Precisamos ter tranqüilidade para administrar, sermos protagonistas, termos a posse de bola e nos impor com habilidade e movimentação, tentar assustar.
Mais do que treinador, agregador e pacificador, Pékerman é incansável nos treinos. Sua Colômbia se difere das outras não pelos atletas talentosos, sempre presentes nas seleções, mas pela obediência tática. Ele aproveitou a experiência de todos na Europa e pediu que eles atuassem como se estivessem nos clubes, mas sem esquecer o virtuosismo. Ordens de presidente não se discutem jamais.
Comentários