
Jogadores de Inter e Atlético-MG protestam em nome do Bom Senso FC, em novembro de 2013 (Agência RBS/BD)
João Henrique Chiminazzo, 34 anos, é advogado, especialistas em direito desportivo. O paulista travou batalhas ao lado do Bom Senso FC, mas deixou o grupo. Ele fala sobre a realidade do jogador no Brasil.
O torcedor brasileiro entende que o jogador de futebol ganha uma fortuna. Certo?
Há um mito em torno dos rendimentos do jogador de futebol. Há realmente uma pequena parcela que ganha muito bem, como ocorre em qualquer profissão, como médico, advogado, empresário, dentre outros. Para se ter uma ideia, há no Brasil aproximadamente 15.136 atletas registrados, sendo que 12.784 (84%) ganham até dois salários mínimos. Apenas 0,42% ganha os salários astronômicos de mais de R$ 300 mil. Nota-se que a realidade não é de grandes salários. Essa é a exceção e infelizmente é essa que é divulgada na mídia. Posso afirmar que apenas uma pequena parcela ganha muito bem no futebol brasileiro.
Você tem uma ideia da média real dos salários do atleta profissional no Brasil?
Como disse anteriormente, 84% dos atletas ganham até dois salários. No Brasil, todos esquecem os clubes profissionais que são 684, mas somente cem deles disputam as séries A, B, C ou D do Campeonato Brasileiro. O restante, que é a grande maioria, não disputa competição nacional, apenas regional. Mas isso não é divulgado.
O jogador consegue guardar dinheiro e enfrentar uma aposentadoria medianamente confortável?
Uma pequena minoria consegue fazer o seu “pé de meia” durante a carreira, mesmo porque a grande maioria não ganha o suficiente nem para o próprio sustento. Tenho um bom amigo jogador, que tem um filho de
12 anos e o garoto já estudou em 17 escolas diferentes, em razão do pai sempre mudar de emprego e cidade. Essas mudanças geram custos, e o jogador não consegue fazer sua reserva para depois da carreira. Há muitos exemplos de jogadores de expressão que, após o término da carreira, ficaram literalmente pobres.
Quantos brasileiros jogam profissionalmente hoje? Você tem números aproximados?
Há aproximadamente 15.136 contratos de profissionais em vigência no Brasil. A CBF não libera esse número com facilidade, mas o número é basicamente esse.
O Bom Senso FC levantou uma bandeira em nome dos jogadores. O movimento, que deseja mudar o futebol, tem futuro? Qual a sua opinião?
O Bom Senso surgiu como um movimento buscando a melhoria do futebol como um todo, não apenas para os jogadores. Infelizmente, por diversos fatores, acabou perdendo um pouco de força. A CBF não se importa com o futebol praticado no Brasil. Sua única preocupação é a Seleção. O que me assusta é que todo mundo com quem converso é a favor do Bom Senso, mas ninguém se manifesta. Parece que todos têm medo. Mesmo assim, acredito no movimento e ainda acho que muita coisa pode acontecer.
O que você acha que falta para o jogador brasileiro assumir um papel de protagonista também fora de campo?
Coragem. Falta um pouco de coragem para os jogadores brasileiros. Eles são os protagonistas do futebol. Sem jogador, não há futebol. E, do jeito que está, o futebol no Brasil vai acabar. Acredito que a classe dos jogadores deve se unir mais e mostrar sua verdadeira força. Sempre que posso digo isso, a solução para o futebol brasileiro está na união dos jogadores e na paralisação dos campeonatos.
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