O porto-alegrense Roger Machado Marques pede mais 30 minutos. São 20h. O ex-jogador de Grêmio (1994/2003), Vissel Kobe (2004/2005), do Japão, e Fluminense (2006/2008) está com as mãos sujas de massa. Monta pizzas para as filhas, Júlia, nove anos, e Gabriela, seis.
No novo horário sugerido, ele atende no segundo toque do telefone. Roger Machado, que completará 40 anos em 2015, é técnico de futebol em busca de espaço. Enquanto está sem time, estuda. Viaja e aprende, algo típico da nova geração que busca espaço numa profissão que perde cabeças a cada final de semana. Só no Brasileirão, campeonato de 20 clubes, 23 treinadores foram abatidos em 36 rodadas.
– Vamos ao futebol, é o que garante a pizza das gurias – brinca.

Roger, ex-lateral investe na carreira de técnico (Agência RBS/BD)
Roger passou 33 dias na Europa. Fez aquela jornada de estudos e observações que todos os técnicos iniciantes, como ele, ou experiente, como Tite, sonham.
Visitou Itália, Espanha, Inglaterra, França e Portugal, onde foi recebido por Claudio Pitbull, ex-Grêmio, que se recupera de uma cirurgia no joelho. Assistiu a partidas dos campeonatos nacionais destes países e frequentou os bilionários encontros da Liga dos Campeões. Chegou ao PSG, na capital francesa, pelas mãos do ex-companheiro de Fluminense, o zagueiro Thiago Silva. Entrou no Real Madrid escoltado pelo lateral-esquerdo Marcelo.
Recebeu tratamento VIP em dois dos maiores clubes do mundo.
– Aprendi muito. Me liguei em treinos e jogos. Os treinamentos me impressionaram. Observei que o trabalho é muito intenso, do começo ao fim, bem mais do que no Brasil. Que há uma concentração tremenda dos atletas na prática. Ninguém brinca, desacelera. Os treinos também são extremamente competitivos e mostram algo mais ao treinador.
Lateral-esquerdo de origem e zagueiro bissexto, Roger viu também as novas funções do volante, o centromédio dos velhos tempos, um jogador estratégico nos times europeus mais competitivos:
– Notei que os times têm um número 5 alto, bom na bola aérea, capaz de proteger os zagueiros por ar e pela grama, mas também exibem o bom passe. Muitas jogadas ofensivas começam por ele, sempre com qualidade.
Quem convidou Roger foi Adaílton, 37 anos, que atuou 12 anos na Itália. O ex-atacante gaúcho fez um estágio no Juventude, seu clube de formação, quando Roger treinou o time serrano no começo da temporada. Como Adaílton passaria um período ao lado da comissão técnica do Chievo Verona, Roger sentiu firmeza e embarcou junto.
– O futebol obedece a ciclos, se encolhe e se expande. O futebol vencedor dos nossos dias está concentrado no 4-3-3. Sistema que pode se transformar num 4-1-4-1 ou num 4-2-3-1. O time se defende num campo pequeno, todos concentrados, e ataca num campo mais expandido, sempre com transições ofensivas e defensivas muito rápidas.
Roger jogou durante 15 anos em três equipe. Teve 28 técnicos. Enumera os estrangeiros com que nunca trabalhou, mas servem de espelho, José Mourinho, Pep Guardiola, Diego Simeone, Carlo Ancelotti e Marcelo Bielsa. Aponta os brasileiros que são referências, Tite, Felipão, Celso Roth e Julinho Camargo. Classifica seu período de aprendizagem com Vanderlei Luxemburgo, no Grêmio, entre 2012 e 2013, como “sensacional”.
– Busco o melhor de cada um, guardo ensinamentos. Tive o bom de treino, de vestiário, de intervalo, de torcida, de entrevista e por aí vai. A compilação me ajuda.
Se a soma de todos pode dar um, Roger não sabe. Ele está de sobreaviso, o telefone sempre por perto. A temporada 2015 se aproxima, dezembro é tempo de mudanças radicais. Ele recebeu sondagens. Gostaria de tentar desbravar o mercado paulista. Quanto mais competitivo o lugar de trabalho, melhor.
– Sou novo, tenho tempo, mas não posso perder oportunidades. Se não rolar nada agora, vou continuar meus estudos.
Roger Machado está pronto.
Falta o desafio.
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