Na direção do automóvel, mas sintonizado no viva voz do celular, o cardiologista Sérgio Rassi, 58 anos, fica espantado quando ouve que gremistas e colorados tratam as partidas com o Goiás, no Serra Dourada, no Planalto Central, como seis pontos perdidos.
– Verdade? Não sabia. É novidade.
O presidente do Goiás não tem uma explicação lógica na ponta da língua. Pensa um pouco. Fala.
– Pode ser o ar seco de Goiânia, a falta de umidade. Quem sabe as dimensões do gramado do estádio (118m x 80m contra 105m x 68m da Arena e do Beira-Rio, padrão mundial Fifa). Confesso, não sabia desse tabu. Bom, nós quase nunca vencemos em Porto Alegre também. Fica tudo igual então (risos).
Como falava com ZH pela primeira vez, o goiano Rassi, na liderança do clube desde 2014, que morou nos Estados Unidos e na França, pediu se poderia fazer um elogio sincero.
– Claro.
– Eu gosto demais de tratar com as pessoas do Rio Grande do Sul. Vocês têm uma cultura superior, talvez seja a vizinhança com o Uruguai, não sei bem. Prefiro contratar atletas no seu Estado do que em Minas Gerais, no Rio de Janeiro, em São Paulo ou no Nordeste.
– Qual o motivo? – pergunto.
– O atleta é mais articulado, mais trabalhador, segue melhor as ordens táticas do treinador. Sabe se comportar melhor fora de campo. É exemplo para todos.
O Goiás buscou jogadores no Grêmio, Caxias, Novo Hamburgo, Brasil-Pel, Cruzeiro, de Cachoeirinha, entre eles Lucas Coelho, Patric, Fred, Rafael Foster e Wesley nos últimos dois meses. Mas nem todos enfrentam o Grêmio neste domingo. Outro nome fora dessa lista, porém, é certo. Joga.
– O goleiro Renan (ex-Inter) é o grande líder, uma referência.
– Você tem atração por Grêmio ou Inter, presidente?
– Meu coração bate apenas pelo Goiás. Nem pela Seleção Brasileira eu tenho simpatia.
Eu concordo. Apoio.
O dirigente goiano, filho de pai libanês, garante que atrair jovens jogadores do futebol do extremo sul do Brasil faz parte da estratégia da sua gestão.
– Quando assumi o clube, a dívida era de R$ 50 milhões. No caixa havia um saldo negativo de R$ 11,8 milhões. Sabe qual era a receita do Goiás?
– Não.
– Chegava aos R$ 2,5 milhões a cada 30 dias. Meti o pé no freio, repensei tudo e apostei na austeridade. Nossa folha de pagamento encostou agora em R$ 1 milhão mensal. Nosso teto por jogador não passa de R$ 50 mil, fora o salário do goleiro Renan que recebe mais. E tem outra. Os direitos econômicos dos jogadores, exceto os emprestados, são todos do Goiás. O que nos dá um alívio.
Sua gestão tem as chuteiras na boa governança e até o técnico, o Helio dos Anjos de sempre, quinta vez no comando, trabalha por um salário modesto, na casa dos R$ 50 mil mensais. Recebe em dia, o que é um conforto.
– Sei que o mundo do futebol é sujo e quero trazer meus valores ao clube. Quero fazer uma gestão transparente e equilibrada. Seguir pagando obrigações trabalhistas e fiscais em dia. O Goiás não atrasa salários de ninguém – admite.
Rassi informa que o Goiás, 72 anos de vida, tem entre 2 milhões e 3 milhões de torcedores (pesquisas exibem números mais modestos). Sem um quadro de sócios signicativo, patrocinadores robustos – a Caixa não quis ajudar o clube, o que fez o dirigente protestar bem alto – ou grandes rendas, a solução é vender as estrelas. O Goiás exibe uma, diferenciada e cobiçada.
– É o Erik, um atacante, ágil, rápido e goleador. Ofereceram R$ 11,5 milhões. Achei pouco. Segurei o menino. Espero receber no mínimo uns R$ 23 milhões na janela de transferência de agosto. Mas só a Europa poderá buscá-lo.
O Goiás foi eliminado da Copa do Brasil na quarta feira passada. Rassi não se preocupa. Explica.
– Estou arrumando a casa. Se tivesse o dinheiro que vocês (gaúchos) têm para investir faria uma revolução no futebol brasileiro.
Se pobre o Goiás sempre assusta a Dupla, imagina rico.
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