Catarinense, 49 anos, Marco Antônio Martins é presidente da Associação Nacional dos Árbitros de Futebol. A Anaf abriga 27 sindicados estaduais, quase 10 mil árbitros, entre eles 600 ligados diretamente à CBF, que os utiliza nas principais competições do Brasil.
Martins quer afastar a arbitragem da CBF e das federações e acredita que a Fifa não permitirá arbitragem eletrônica no Brasil em 2016.
Leia abaixo um resumo da nossa conversa por telefone.
A CBF prometeu usar arbitragem eletrônica em 2016. Parar o jogo, usar o vídeo e decidir o que aconteceu. Se foi pênalti, impedimento, lance de cartão vermelho, entre outras decisões depois de jogadas polêmicas. Você sabe o que a Fifa decidiu?
Não vai rolar. A Fifa não vai autorizar. A mudança é muito complexa. Não depende só da CBF, do Brasil.
Qual o motivo da negativa?
A Fifa deixou a tecnologia da linha do gol (Gol Line) como herança da Copa do Mundo de 2014. A CBF não utilizou. Alegou que não conseguiria bancar o custo de R$ 10 mil por jogo. Não querem pagar o preço, dizem que o custo é sempre muito alto. Tudo é justificado quando um investimento precisa ser feito. Não se investe em árbitro no Brasil. Os clubes não gostam nem de pagar a taxa de arbitragem. Sempre reclamam.
A tecnologia de auxílio ao árbitro é mais barata?
A CBF deseja criar o cargo de árbitro de vídeo, o AV. Precisará treinar dezenas de pessoas, cinegrafistas, auxiliares. E a imagem do lance? Quem fornecerá? A TV Globo? O árbitro de campo perderá o controle da partida. Não será mais dele a decisão final. O homem que apertar o botão do vídeo é que decidirá tudo. Aí, os clubes e a imprensa passarão a criticar o homem do botão e não o cara do apito (risos).
Os árbitros foram muito criticados na temporada passada. O que é preciso fazer para que eles consigam melhores performances?
As críticas são comuns. O árbitro é um alvo fácil. Mas eu considero a média de atuações dos árbitros brasileiros como boa, muito boa. Olha a quantidade de partidas decisivas que ele apita por ano. É desumano, nem consegue se preparar correramente.
Desumano?
Sim, ele sai de casa de manhã, leva o filho na escola, pega um avião e apita um clássico à noite.
Ele ganha mal?
Recebe mais de R$ 3,8 mil por jogo no Brasileirão. Às vezes, a partida entre duas grandes equipes rende quase R$ 4 milhões. Com sorte, ele ganhará R$ 15 mil por mês. É muito se a gente pensar no brasileiro comum. Mas é pouco, muito pouco, se for comparado com os salários dos jogadores e a arrecadação dos clubes.
O que fazer para ajudar o árbitro nos jogos?
Preciso retirar os árbitros da órbita da CBF e das federações. A Anaf tem condições de cuidar dos árbitros em todos os sentidos. Mas não vejo nada diferente no horizonte. Algo legal para ajudar o árbitro seria a volta dos assistentes que ficavam ao lado das goleiras. Nós vamos conversar com a CBF, pedir a sua volta.
O que a CBF diz sobre o futuro da arbitragem?
Olha, a CBF vive numa grande confusão. Eles estão preocupados com outras coisas. Está indecisa. Não consegue avançar em algumas questões importantes. Aliás, o futebol brasileiro está confuso como um todo. A arbitragem brasileira precisa de um novo modelo, assim como o futebol. O Estado precisa ajudar na mudança. O torcedor exige.
Quem é foi o melhor árbitro brasileiro da temporada?
Sou presidente da Anaf, tenho mandato até 2018. Não falo.
Não mesmo?
Certo, você insiste, mas entendo que não tem um melhor. Arbitro é que nem jogador. Está melhor num período, não é necessariamente o melhor de todos. O Anderson Daronco, um jovem gaúcho, foi o melhor de 2015. Mas como ele estará no mesmo patamar no ano que vem? Ninguém sabe.
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