O Grêmio lançou o Projeto Victor, quer o goleiro até 2017, a torcida faz coro, mas o jogador enxerga a Europa depois da Copa e encontra a Fiorentina como opção de futuro.

Você leu em primeira mão aqui, cinco dias atrás, as informações iniciais do até então quase secreto “Projeto Victor”. Você sabe assim que o clube espera segurar o seu goleiro até 2017. Sabe que Victor pularia dos seus quase R$ 100 mil mensais de hoje para mais de R$ 200 mil no novo contrato. É um suculento salário, digno dos melhores centroavantes, dos meias mais criativos, dos zagueiros especiais.
Salário de goleiro mais substancial no país só mesmo o de Rogério Ceni. É no goleiro do São Paulo que o Grêmio se espelha para segurar Victor de azul. Ceni ficou famoso, rico e multicampeão defendendo o time desde 1990. Victor tem contrato até 2013.
O Grêmio quer entregar a definitiva chave de ouro da pequena área a um dos melhores goleiros da história do Estádio Olímpico, inaugurado em 1954. A torcida exige que a direção gaste todos os neurônios em busca de uma solução e treme só de pensar que seu goleiro sinta o desejo de ver um carimbo estrangeiro no passaporte – apesar da nova frustração de quinta passada, do fracasso na Taça Fábio Koff.
“A Europa é um caminho”
E o que fala Victor Leandro Bagy, 27 anos, paulista de Santo Anastácio, desde o dia 19 de dezembro de 2007 em Porto Alegre?
– Não sei.
Como assim?
– Ainda é cedo, não posso adiantar meu futuro. Não consigo, não agora, não na véspera da Copa do Mundo da África do Sul. A ideia do Grêmio é superlegal, me sinto valorizado. Foi uma surpresa muito positiva. O carinho dos gremistas é demais. Me emociono.
Mas você sabe por que o melhor jogador do Grêmio dos últimos dois anos ainda não se decidiu? Ou se decidiu não quer falar?
Porque a Europa está no seu horizonte, clara como o dia, tranquila como o sono. Não pense que Victor necessita de ar espanhol, italiano ou inglês para respirar melhor ou que ele desdenhe um oceano de paixão gremista.
Nada.
É que Victor e os outros 99% dos brasileiros que nascem para a bola, crescem com a bola nos pés com um sonho único, sejam eles nascidos nas favelas cariocas ou na classe trabalhadora paulista: jogar na Europa. Correr no Santiago Bernabéu, em Old Trafford ou no Allianz Arena é realização de uma vida inteira.
– Não no Estádio da Luz (do Benfica), em Lisboa? – eu pergunto.
– O interesse do Benfica não é de hoje. Eu sei. A Europa é um caminho – ele afirma.
– É caminho desde quando? – eu insisto.
– Acho que o Luizão (zagueiro do clube português, colega de Victor na Seleção) andou falando qualquer coisa por lá… (risos) – ele responde.
O destino de Victor pode ser Florença. A Fiorentina o quer desde 2009, fez proposta, deve colocar R$ 15 milhões em cima da mesa – R$ 7,5 milhões para o Grêmio que tem 50% dos direitos federativos do atleta.
O empresário do goleiro, Fábio Mello, é o mesmo de Réver, e o Grêmio o conhece melhor do que Victor e Réver somados. O presidente Duda Kroeff fez tudo para o zagueiro continuar tricolor. Mas empresário de futebol ganha dinheiro quando o jogador troca de clube. Eles são ágeis, articulados e decididos. Não têm interesse em deixar o jogador muito tempo numa mesma equipe. Não é boa ideia, não para os empresários.
Um goleiro como Victor pode ganhar no seu primeiro ano de Europa um salário de R$ 500 mil mensais, algo proibitivo para cofres gaúchos. O jogador quer ir, o empresário faz força, o clube europeu o adula. Quem resiste? Ninguém.
Não há na história do futebol brasileiro dos últimos 20 anos um só jogador que tenha resistido ao assédio do futebol europeu – leiam-se euros.
Victor não agirá diferente. E ninguém pode culpá-lo. Ele deve sair do Olímpico na janela de agosto. Seu empresário prefere vendê-lo agora, valorizado. Sua convocação ainda é um risco. Ninguém conhece o nome dos dois goleiros de Dunga depois do titular Júlio César.
Se você perguntar se ele vai ou fica, Victor repete:
– Não sei.
–
“Ainda estou em evolução”
Victor mora em Porto Alegre com a noiva, Gisele. Ele se acha um cara caseiro, pacato, que se derrete com uma boa moda de viola. Ao fundo, na entrevista por telefone, se ouve os ruídos da cadelinha Alícia. A dachshund foi uma exigência de Gisele, sua companhia durante as constantes viagens do jogador.
Dias atrás eu conversei com o goleiro Gomes (do Tottenham e cotado para a Seleção), e ele falou muito bem de Victor. Desfilou elogios.
– O Gomes é boa gente. Foi colega de quarto na Copa das Confederações na África do Sul no ano passado.
– Você está pronto para Copa?
– Olha, tenho trabalhado ao máximo. Quero ser convocado. Estou bem. Eu trabalho para ser reconhecido. As minhas atuações falam por mim. Você concorda?
Eu digo que sim e faço outra pergunta:
– Você é um goleiro pronto?
– Não, ainda sou um goleiro em evolução.
– Quando você soube que a torcida gremista o considerava um goleiro especialíssimo?
– Foi no dia 3 de agosto de 2008 numa partida contra o Vitória. Creio que fiz grandes defesas. A torcida gritou meu nome, cantou e naquele domingo o Grêmio manteve a liderança no Brasileirão.
Victor não é um goleiro espalhafatoso, voador.
– Acho que falho pouco, tenho regularidade. Meus pontos fortes são a saída de gol e a colocação.
Victor pode ter menos de 30 dias como jogador do Grêmio se for convocado para Copa e se apresentar em maio. Pode não voltar.
A Europa é irresistível.
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