Muito se fala em legado olímpico. E, quando é este o assunto em pauta, o papo converge para a infraestrutura. O que é válido, diga-se de passagem. As instalações são top e, se bem administradas, significam muito para o esporte.
Outro caminho comum para o papo sobre a herança dos Jogos é o viés econômico. Apenas uma administração escandalosamente caótica conseguiria não gerar lucro. São milhões de ingressos vendidos, patrocínios milionários etc. Em tese, fica um bom caixa à disposição do poder público.
Há um terceiro mote recorrente: a infraestrutura não-esportiva. Outro tópico meritório. Transporte renovado com metrô e afins, passeios públicos revitalizados, pontos turísticos rejuvenescidos.
A conversa também pode se direcionar para os ganhos esportivos, o que é motivo de orgulho: melhores tempos para atletas, mais dinheiro para preparações, incentivo para novos esportes.
De todos os legados, nenhum dos quatro acima é o que mais mobiliza minha emoção. Todos são palpáveis, materiais, porém um bem imaterial pede passagem. Trata-se da mensagem de amor ao esporte, de valor incalculável e que vem de mãos dadas com tolerância, saúde, comunitarismo, superação e patriotismo.
Estádios podem perder-se sob má administração, e o Pan e a Copa mostraram que, infelizmente, este posa ser o trágico caminho. O quase certo lucro tende a se esvair num país sem vergonha de pulverizar recursos públicos.
O que fica de infraestrutura é um percentual pequeno do que seria necessário para um Rio sem perspectiva de viabilidade. Os ganhos esportivos logo se diluem se a política esportiva não for mantida, o que, a se conhecer o Brasil, deve acontecer à reboque da crise econômica. Então, sobrou o quê? Justamente o inconsciente coletivo acariciado com o mais saudável e cheiroso perfume possível: o espírito esportivo.