O velório das quatro vítimas do acidente entre van e caminhão, em Gaspar no Vale do Itajaí, acontece no ginásio da Escola Estadual Rudolfo Luzina em Nova Erechim. Às 10h15min está marcada uma missa. A cada 15min, após a cerimônia , um corpo será encaminhado para o cemitério municipal. Três corpos serão enterrados no cemitério da cidade. Danielly Ana Hining será enterrada no cemitério da linha São José, interior do município. O prefeito Volmir Pirovano decretou luto de três dias. As aulas também foram canceladas nesta segunda-feira, dia cinco.
Bruna morreu cinco meses após o irmão, também no trânsito
A morte do irmão Rafael Zenni, ocorrida num acidente de trânsito em 19 de março, em Pinhalzinho, ainda perturbava Bruna Zenni, de 16 anos. De acordo com a cunhada, a viúva Elisete Wichroski, no início ela nem queria viajar.
O namorado, Douglas Morelli, contou que ela estava deprimida pela perda do irmão. Por isso ele e os pais de Bruna ajudaram a pagar a viagem.
-Foi um presente de aniversário- disse a mãe, Olirdes Ana Zeni, lembrando que a filha tinha completado 16 anos no dia 18 de agosto. Ela também iria conhecer a praia pela primeira vez.
Depois que perdeu Rafael, Olirdes se apegou mais à filha. Na quinta-feira foi comprar uma barra de chocolate preto, tênis e chiclete, que Bruna havia pedido.
-É doído, agora fiquei sem nenhum- disse a mãe, desolada. O namorado, Douglas Morelli, também continha o choro. –Ela era uma guria muito parceira, dedicada e esforçada- comentou.
Ele recebeu um toque no celular uma hora antes do acidente. Duas horas depois soube que tinha acontecido algo. Quatro horas depois veio a pior noticia. Ele havia ficado sem a companheira de danças gauchescas com quem frequentava os bailes.
Sonho de Renata era conhecer a praia
A viagem para Balneário Camboriú, Itapema e Penha era a primeira que Renata Pezenatto, 14 anos, faria sozinha. –O sonho dela era conhecer a praia- disse a irmã, Ivanilde Pezenatto Giorgio. Renata passou oito dias arrumando a mala para a viagem.
Na escola, era referência tanto no estudo, quanto no esporte. –Ela era atleta- comentou a diretora da E.E.B.Rudolfo Luzina, Noeli Soletti.
Ela jogava futebol de campo e futsal. Em 2009 Renata ajudou o time da escola na conquista do vice-campeonato do Moleque Bom De Bola, nas finais disputadas em São João do Oeste.
Gostava de música e iria começar um curso de violão. Era a caçula de três irmãos e tinha um bom relacionamento com a família. –Se eu pudesse abriria mão da minha vida para ter ela de volta- disse a irmã, Ivanilde.
Apesar da dor, a imagem que ficará de Renata é de alguém que brincava com todo mundo. –Para ela não tinha tristeza- completou Ivanilde, visivelmente emocionada. E Renata morreu alguns quilômetros antes de realizar seu sonho.
Danielly gostava de tocar violão e cantar
Um dos passatempos prediletos de Danielly Hining, 14 anos, era tocar violão e cantar com o tio e padrinho, Wolmey Pandolfo. –Ela gostava de música sertaneja- conta o tio, que ajudou a cuidar da menina nos primeiros meses e vida, enquanto a mãe se curava de um câncer.
Danielly ajudava os pais na cozinha, na alimentação dos porcos e dos bezerros. Gostava tanto de animais que tinha como objetivo fazer curso de Medicina Veterinária.
Estava empolgada com a viagem. –Pai, estou tão feliz, me belisca para eu ver se é verdade- disse na véspera.
O tio, que foi buscá-la na quinta-feira, em Pinhalzinho, onde ela fazia um curso de computação, disse que a menina estava muito feliz.
–Ó padrinho, tirei tudo 10- mostrava. A viagem também era um sonho para ela. Para os familiares, restou lembrar do sorriso da menina que alegrava todos por onde passava.
Professora deixa a filha de 13 anos
Julia Mascarello, de 13 anos, foi uma das sobreviventes do acidente em Gaspar. Mas a mãe, Jocicler Mascarello, não pôde compartilhar esse momento com a filha. A professora foi uma das vítimas fatais. Julia, que já não tinha o pai, falecido cinco dias antes do nascimento, ficou também sem a mãe.
Restaram os avós, tios e primos para cuidá-la. A avó Josefina Catarina Mascarello disse que Júlia está em choque emocional.
–Ela só acordou no hospital- explicou Josefina. Ela agradeceu o apoio da comunidade, principalmente dos familiares, que trouxeram conforto num momento tão difícil.
Josefina disse que a filha sempre quis ser professora, profissão que exercia há 27 anos. Desde 1997 dava aula na escola Rudolfo Luzina, onde foi diretora e atualmente exercia o cargo de supervisora.
Era uma pessoa dinâmica e comunicativa. E morreu junto com aqueles para quem dedicou sua vida: os alunos.