
Em conversas informais, já há algum considerável tempo tenho notado que muita gente que um dia já teve participação efetiva no Carnaval de rua de Porto Alegre (prestigiando ensaios, desfilando ou assistindo das arquibancadas) está afastada da festa. No máximo, tem acompanhado os desfiles pela transmissão da tevê.
Embora as razões para esse afastamento, segundo me dizem, sejam muitas e variadas, com certa frequência, aparece alguém que, como justificativa, alega o desgaste do Carnaval. A ele, somam-se as facilidades atuais para passar o feriadão na praia ou, até mesmo, no Rio de Janeiro.
Além disso, nesse meio tempo, o palco dos desfiles mudou-se da área central da cidade para o Extremo Norte – o que, inegavelmente, significa uma dificuldade a mais para quem mora no Sul.
Em relação à não frequência aos ensaios, muitos a atribuem à insegurança de sair à noite, à demora no início das atividades pelas escolas de samba, aos intervalos prolongados etc…
Se fizermos um balanço honesto, não poderemos deixar de dar razão a essas pessoas. Até para que façamos uma reflexão, selecionei alguns acontecimentos lamentáveis da virada do Século.
Obs: Não me cabe aqui expor os nomes dos envolvidos, mas vale relembrar os fatos.
1999:
Dirigente de uma grande escola, inconformado com a perda do título, usou o microfone para acusações, como a de que adversários teriam comprado jurados, entre outros ataques pessoais. Sem comprovação alguma.
2000:
O início do desfile sofreu um atraso de mais de três horas. Além disso, a Bambas da Orgia desfilou sem carros alegóricos, provocando muito choro entre seus componentes e simpatizantes.

2001:
Na noite das campeãs, as quatro escolas do Grupo Especial (quatro primeiras colocadas) desfilaram sem carros alegóricos. No final, a explicação: o presidente da campeã disse que era um protesto para exigir a construção de um sambódromo.
Pergunta: o protesto atingiu as autoridades ou o público que foi assistir?
2002:
O mais traumático dos Carnavais. A Muamba Oficial teve a participação de apenas três das sete escolas do Grupo Especial. As demais boicotaram para pressionar a prefeitura a liberar, para as entidades, o dinheiro arrecadado com a venda dos ingressos da passarela do samba.
Pergunta: o boicote atingiu as autoridades ou aos carnavalescos, que curtem a muamba?
No desfile oficial do Grupo Especial houve um atraso de seis horas, devido à quebra do carro abre-alas de uma das entidades, numa das ruas de acesso à passarela. A alegoria impedia a passagem dos carros das demais escolas. Mesmo assim, só foi retirada depois de muita briga e discussão. Quando a última entidade desfilou, a passarela já estava vazia.

Ainda no clima desses desgastes, o Sambódromo foi transferido da Avenida Augusto de Carvalho para o Porto Seco, em 2004.
Além de evitar a repetição dos erros, o Carnaval necessita de uma recuperação de imagem, para voltar aos bons tempos em que os ingressos para as arquibancadas eram muito disputados com antecedência. Vale lembrar que as filas para a compra de ingressos já duraram dias:
1997: O público esperou dois dias e três horas em filas no Tesourinha. Os ingressos para o Grupo Especial esgotaram-se no primeiro dia de venda.
1998: As filas duraram três dias e 17 horas. Os ingressos para a arquibancada especial se esgotaram em dois dias de venda.
1999: As filas duraram quatro dias e 21 horas. Em dois dias, esgotaram-se os ingressos para as numeradas. Sobraram 3,47 mil para as gerais, que foram vendidos nos dias seguintes.
2000: o local de venda dos ingressos (Gigantinho) só foi revelado com dois dias de antecedência. Em duas horas de venda, esgotaram-se os ingressos para as numeradas (do Grupo Especial). Os demais foram vendidos nos dias seguintes.
2001: Foram colocados à venda 24.780 ingressos para três noites (Grupos Intermediários A, B e Especial). Foram vendidos apenas 6.873.
2002: Foram colocados à venda 43.350 ingressos para cinco noites. Foram vendidos 5.733 (4.801 para o Especial).