Espera-se que o Oscar premie os melhores da temporada em Hollywood, e é por isso que se pode sentir falta de alguns atores, de algumas atrizes, de algumas músicas e de alguns filmes entre os indicados. Os casos abordados na matéria publicada esta manhã em ZH.com correspondem às especulações que não se confirmaram com o anúncio dos eleitos em cada categoria, ou seja, dizem respeito ao que se esperava de maneira geral. Neste post vou ser mais direto e dizer quem e o quê, na minha opinião, foi injustiçado pela Academia de Cinema.
Drive
Dirigido por Nicolas Winding Refn e estrelado por Ryan Gosling, este longa é tão superior a alguns dos indicados a melhor filme que a comparação chega a ser constrangedora. Como, então, ele não está entre os nove concorrentes ao principal prêmio? É a pergunta que, a mim, parece mais difícil de responder desde a divulgação dos concorrentes. A ideia de que se trata de um título menos “palpável” faria sentido em outros tempos, não quatro anos depois da consagração dos irmãos Coen com Onde os Fracos Não Têm Vez. Drive poderia concorrer a melhor direção, ator, roteiro adaptado (li o livro, a recriação da história na linguagem cinematográfica é primorosa), montagem, trilha sonora e música (com Nightcall, de Kavinsky/Lovefoxxx, ou A Real Hero, do College/Electric Youth).
Tudo pelo Poder
Belo thriller político assinado por George Clooney, foi um dos recordistas em indicações ao Globo de Ouro. Assim como Drive, é estrelado por Ryan Gosling – que não chega a fazer tanta falta entre os melhores atores, já que, em princípio, a lista parece bem interessante. Seu esquecimento na categoria melhor filme, especula-se, pode ter a ver com o fato de que 2012 é ano eleitoral nos EUA, e Tudo pelo Poder, além de pessimista em sua visão sobre o sistema político norte-americano, é considerado um retrato fiel da desilusão da era Obama. Faz sentido, o que só tornaria sua ausência no Oscar, além de decepcionante, constrangedora – agora, além de pessimista, não se pode ser crítico em âmbito político? Nem sempre foi assim.
Andy Serkis
Planeta dos Macacos – A Origem me parece um ótimo exemplo de blockbuster inteligente, longa que se comunica com o grande público e, ao mesmo tempo, o faz pensar. Mesmo que Avatar, um blockbuster em sua essência, tenha sido derrotado por um filme “pequeno” como Guerra ao Terror (em 2010), o Oscar ainda é um palco para as grandes produções, vide a indicação de Cavalo de Guerra, de Spielberg, a melhor filme neste 2012. Tudo bem ignorar Planeta dos Macacos, você pode argumentar, não se trata de uma produção arrebatadora, mesmo. Mas a não indicação de Andy Serkis, que interpreta o macaco César, de fato comprova que, se deixou o conservadorismo para trás em muitos aspectos, a Academia de Hollywood ainda não consegue pôr num mesmo patamar as interpretações “puras” – no registro que for – e aquelas construídas numa parceria entre o ator e os responsáveis pelos efeitos de pós-produção. Não deixa de ser um preconceito – exatamente o preconceito contra o avanço da técnica de que fala o favorito ao prêmio O Artista.
Tilda Swinton
Vamos ser diretos: qual performance da atriz britânica é melhor, a de Conduta de Risco, belo filme de Tony Gilroy que lhe rendeu a vitória no Oscar de 2008, ou a de Precisamos Falar sobre o Kevin, belo filme de Lynne Ramsey que não lhe deu sequer uma indicação ao prêmio máximo da indústria do cinema? Alguém vai dizer, com razão, que são atuações incomparáveis. Mas é difícil pensar neste equívoco cometido pela Academia de Hollywood em 2012 esquecendo do prêmio de quatro anos atrás. Depois de muitos papéis secundários em diversos bons filmes entre os anos 1990 e os 2000, a atriz evoluiu, apareceu cada vez mais e, em Precisamos Falar sobre o Kevin, parece ter chegado a um ponto tão alto que vai ser difícil de superar. E não foi nem indicada ao Oscar…
Rio e Tintim
Entre as cinco animações concorrentes, há duas da Dreamworks (Gato de Botas e Kung Fu Panda 2) e nenhuma da Pixar (que poderia concorrer com Carros 2), o que por si só já é algo sui generis. Mas que não indica exatamente um esquecimento. As grandes questões nesta categoria são as ausências de Rio e As Aventuras de Tintim. Este último foi excluído da categoria por não ser considerado animação pela Academia, o que faz sentido, já que foi rodado com atores reais que acabaram transformados em figuras animadas na pós-produção. Para mim, Tintim não faz tanta falta assim. Rio, por outro lado, é mais interessante do que ambos os filmes da Dreamworks. Não faz sentido que ele não esteja entre os cinco melhores do ano.