DA COLUNA COTIDIANO
Quem tem olhos para ver que veja. Uma fileira de órgãos públicos e conselhos de preferência, que vale a pena listar: Conselho Tutelar, Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente, Brigada, Conselho Municipal de Entorpecentes, Comdica, Ministério Público, FAS, entre outros. Eu vi e trago aqui o relato. Já faz alguns dias, coisa aí de nove horas e pouco da noite, percebe-se uma aglomeração de meninos e rapazes, uns quatro ou cinco, em uma das calçadas da Ernesto Alves, na subida logo depois da Avenida Brasil, ao lado de um terreno abandonado, embaixo de árvores. A região é toda escura, perigosa, degradada, apenas os carros a passar frenéticos e embalados.
Pois ali reúne-se uma rapaziada, inclusive adolescentes franzinos, a consumir crack em plena calçada de uma rua do centro da cidade. E isso é toda noite. Certamente que os órgãos de segurança pública já sabem dessa situação, a menos que viatura nenhuma circule por ali. Essa movimentação dos meninos esparramados na calçada, alguns sentados, outros deitados, começou a chamar a atenção, a ponto de, numa noite desta semana, fixar a atenção e o olhar ao passar de carro. E ali testemunhei o menino sentado ao meio-fio, franzino, com ar de perplexidade, a fumar com seu cachimbo de lata. Quem fica mais para perto do muro, mais escondido, parece mais velho, o da beira da calçada não esconde o ar quase infantil.
A cena é chocante, na penumbra de uma rua degradada. Estamos deixando o crack se esparramar agora pelas calçadas centrais, com indiferença. Isso que a polícia diz que está avançando no combate ao tráfico. Imagina se não estivesse. A verdade mais cruenta, no entanto, é que estamos perdendo a guerra. Vamos parar de nos iludir. O que não haverá de ocorrer, é de se imaginar, em regiões ainda mais inalcançáveis a nossa vista e à circulação de pessoas, mais alcançáveis, em contrapartida, à ação dos traficantes?
Um pouco de iluminação pública ali naquele trecho. Um pouco de cuidado público para não permitir a deterioração de ruas e ambientes. E muito mais impostura, vontade, muito mais ânimo, humanidade, determinação, obstinação e competência nessa guerra que acaba com nossas crianças e adolescentes, é tudo o que ainda nos falta. Está difícil.
Quem tem olhos para ver que veja. À noite, ali na calçada da Ernesto Alves.
Postado por Ciro Fabres, Caxias do Sul