
DA COLUNA COTIDIANO
Ser contra a violência é a regra geral. Portanto, todos somos potenciais caminhantes pela paz, dessas caminhadas como a que houve domingo. A ampla maioria é contra a violência, a favor da paz. Então por que a violência teima em insistir? Não é uma questão intrigante? Talvez, mas só para os menos avisados.
Caminhadas pela paz são necessárias. Mas é preciso muito mais do que elas. É preciso criar um ambiente, existe até a designação da expressão cultura de paz, e é isso mesmo. Sem cultura de paz, sem ambiente de paz, nada feito, e cultura de paz é algo que passa pelo espírito, e não pelos pés dos caminhantes.
Cultura de paz é a construção de um ambiente, muito mais difícil, muito mais complexo do que uma eventual caminhada. Caminhar é importante, mas, em boa parte dos casos, caminha-se, volta-se para casa e tranca-se a porta. Aí não é possível.
Ambiente de paz se estabelece a partir da consolidação de valores e conceitos, impregnados na alma, assimilados pela mente, quando eles se tornam majoritários na convivência geral. Estamos longe disso. É preciso, por exemplo, sair para buscar o outro, ir ao encontro do outro, estabelecer relações comunitárias. Paz individualista, cada um na sua, isso não existe. Para construir a paz, precisa-se necessariamente dos outros, o que exige humildade como princípio de vida. Eu não me basto, eu preciso dos outros. E vivemos em uma época radicalmente individualista, em que é cada um por si. Então caminhar pela paz agarrado a prioridades individuais não tem sentido nenhum.
É preciso mais do que ir ao encontro do outro, no entanto, é preciso buscar a conciliação, ainda que o outro tenha sido o artífice do golpe mais violento. O que não deve eliminar, logicamente, a aplicação da justiça. Mas é preciso lançar pontes de aproximação ou reaproximação, e aqui o mais difícil, deixar portas abertas ao entendimento a todas as pessoas, sem excluir ninguém.
E ainda, paz é resultado da prática da justiça. Calar ante injustiças, portanto, é golpe fatal na construção da paz. Eu sei, eu sei, ficou difícil. Apenas caminhar é bem mais fácil. Desculpem a impertinência. Para começar, precisa de uma decisão pessoal: jogar o individualismo, solenemente, na lata do lixo. Construir a paz só assim, em comunidade, não tem outro jeito.
Postado por Ciro Fabres, Caxias do Sul