Fracassos se oferecem como momentos de profunda introspeção. Podem ser individuais ou coletivos, pontuais ou prolongados. Esses últimos, mais especificamente, são fruto da falta de planejamento, do afrouxamento dos controles, da incapacidade de correção de rumos. Quando eles chegam, são relativamente anunciados, era uma consequência possível e previsível. Já os fracassos individuais podem ter causas episódicas, circunstanciais, até mais acidentais. Nos coletivos, essas causas são entrelaçadas, o que torna mais aguda a falta de planejamento e de providências. É o caso do Caxias, fulminado por um fracasso retumbante que começou cedo e só culminou agora, para tristeza profunda de seu apaixonado torcedor.
Fracassos desnorteiam. Nem pode ser diferente, e é preciso desnortear para que seja possível readquirir o norte sem a contaminação do fracasso recente. O Brasil já levou os 7 a 1, o Juventude fez uma viagem da Série A à Série D sem escalas. O momento é de escombros no Centenário. E agora, estrago consumado, é produtivo que assim seja.
É preciso consternar-se com o fracasso, sim. É direito adquirido. Sangrar, até chorar. Olhar em volta, ruminar, buscar e oferecer apoio aos parceiros de sempre, alcançados pelo infortúnio. Respirar fundo. Curtir o momento. As grandes perdas são momentos intensos, únicos. Devem, sim, ser curtidas. Mas também é preciso logo retomar a visão. E se alguma coisa tem utilidade no fracasso, é o efeito gerador da reação, que ele favorece. Limpar a área, começar de novo, começar do zero, vacinar-se contra os mesmos erros são algumas das possibilidades oferecidas por um fracasso.
Essa é a tarefa do Caxias a partir de agora. Talvez não necessariamente de imediato. Nem precisa ser. Ainda há muita poeira em meio aos escombros, ainda é compreensível que o momento seja de recolhimento, de prostração, de perplexidade, de dor. É preciso respeitar as etapas. Só é intransferível: daqui a pouco, é preciso fazer tudo o que não foi feito com a competência que se exige. No caso do Caxias, ao que parece, exige pensar bem antes, traçar uma estratégia sobre o que se quer para o futebol, como vai ser, e fazer como foi pensado. Chega de improvisação, que vem de há muito tempo. Sangrar agora, sim. Mas fazer bem feito logo depois.