Chamam atenção a longevidade, a discrição, a trajetória e a imposição política de uma nome da república: Michel Temer. Tantos outros são preferidos pela imprensa, alçados aos holofotes, a uma superexposição e até à execração pública. Não é o caso de Temer, que encarna o perfil da raposa política, no melhor sentido da expressão.
Esta semana, essa imposição política se manifestou de forma categórica, se ainda havia alguma dúvida. Alçado à condição de articulador político do governo, único em condições de fazê-lo a ponto de controlar o PMDB e sua tinhosa bancada, Michel Temer surgiu no cenário para enquadrar o peemedebista rebelde _ se é que isso é possível _ Eduardo Cunha, presidente da Câmara.
Também esta semana, em outro fórum, nos salões da CIC, ninguém menos do que Pedro Simon vaticinou: Temer é o nome do PMDB para 2018. Ninguém tem dúvida sobre as credenciais de Simon para emitir declarações sobre o partido e a república. Pois também ele está se rendendo a Michel Temer. É uma façanha. Vale lembrar que o PMDB gaúcho, durante muito tempo, inflou-se de orgulho por diferenciar-se do PMDB do resto do país. Pois Temer, a cada aparição em solo gaúcho, tradicionalmente hostil ao PMDB nacional, não perde a elegância em suas manifestações, demonstra paciência e bom humor e vai consolidando seu espaço para transitar também aqui com o respeito político necessário.
A imprensa, as redes sociais e as manifestações de rua apontam o dedo para tantos políticos. É uma vocação. Mas não conseguem chamuscar Temer, até porque ele faz seus movimentos com relativo resguardo e preservação. Temer sempre foi alvo de muitas ressalvas, representante máximo de um PMDB interessado em cargos, que não arreda pé dos governos. Mas ninguém, imprensa, Ministério Público e Polícia Federal, nunca cavoucou uma irregularidade capaz de voltar-se contra ele. Temer, apesar de sua trajetória _ próxima e até orientadora desse PMDB de verniz fisiológico _ sugerir coisa bem diferente, mantém-se impoluto e irretocável, como os ternos que veste e sua expressão facial.
Pois esse Temer que é o próprio centro político em pessoa, equidistante de tudo, consolida-se no cenário nacional com imposição política e uma credibilidade em outros tempos improvável. É fruto de fazer as coisas com respeito, habilidade e sem cometer deslizes. É um político tradicional, mas raro, uma esfinge ainda por ser decifrada.