Cinquenta tons de cinza deveriam sugerir variadas possibilidades. O título do livro é feliz e didático. Na verdade, há infinitos tons de cinza, infinitas possibilidades, nuances, superposições. Mas algo está mal estruturado em uma modalidade generalizada de raciocínio e reflexão. De tal forma que sobram apenas o preto e o branco, o vermelho e o azul, a praga da grenalização disseminada de forma burra e avassaladora, como um sintoma de que algo vai muito mal. Deveria acender o sinal vermelho, mas nem assim nos alertamos da simplificação das visões de mundo massificadas que circulam por aí sem nenhum embaraço.
O preto e o branco estão presentes, como de praxe, no debate em torno da redução da maioridade penal. Identificar-se com uma das duas alternativas parece revestir a pessoa, automaticamente, de todo o pacote esquemático de ideias e concepções a respeito do assunto. Claro que não é assim.
De pronto, é preciso assinalar: reduzir a maioridade penal, mandar jovens entre 16 e 18 anos para os presídios, definitivamente não. É uma questão de racionalidade, de lógica elementar. Enviá-los às penitenciárias será contribuir decisivamente para que nossa realidade torne-se ainda mais violenta e insegura. Simples assim. Imagina-se ser desnecessário esmiuçar os argumentos, tamanha a simplicidade dessa questão. O que não significa defender a impunidade para essa faixa etária, como tantos simplificam.
Há jovens que sabem muito bem o que fazem e é preciso haver para eles a noção de consequência quanto aos atos praticados. Porém, a solução não é a redução da maioridade penal, lamentavelmente em vias de ser aprovada no Congresso. Deus nos livre e guarde. As consequências serão terríveis.
Aperfeiçoar as sanções já existentes ao jovem infrator, combinado com a qualificação básica dos centros de atendimento, é a tarefa da qual não podemos fugir. Claro, isso dá mais trabalho. Bem mais simples é baixar de alto abaixo a norma da redução da maioridade penal, e fim de papo. Porém, há a riqueza das possibilidades intermediárias, o que, no nosso estágio de convivência com ideias diferentes, é algo quase impensável. Antes tarde do que nunca, precisamos considerar sutilezas, detalhes, circunstâncias e o contexto na hora de pensar sobre o que nos acontece. Mas ainda é pedir demais. Não somos treinados para os tons de cinza.
A vida é simples, só não deve ser simplificada.