Não tem jeito: sem política, não vai, gente.
Tenho acompanhado com viva curiosidade essas manifestações todas que tomam as ruas do país, em que boa parte de seus integrantes contesta a política e os políticos, de uma forma geral.
Então tento decifrar qual a mágica proposta pelos manifestantes de tentar mudar o rumo dos acontecimentos sem a ferramenta da política e dos partidos, eleitos os grandes vilões da história, junto com a presidente Dilma e o PT, claro. Só que não há mágica alguma. Ninguém vai consertar nada, ninguém pode consertar nada sem a… política.
Porque política é a ferramenta para algumas tarefas inevitáveis. Há providências a serem tomadas para o bem de todos, para as quais são arrecadados recursos, os impostos. Simples assim. E aí, como é que faz? Um diz que é assim, outro diz que é assado. Tudo muito natural, e nascem assim os partidos políticos. É da vida. Não há como escapar. Mas tem gente que não quer saber de partidos, ainda que, sem querer ou saber, façam parte do partido dos que não querem partido, ou do partido que quer a volta da ditadura militar, ou do partido que é contra Dilma e o PT.
É um estrondoso engano esse desprezo aos partidos e à política. Engano que a reflexão geral e acadêmica não tem sabido detalhar, que os jovens não têm conseguido perceber. Muitos desses jovens, aliás, para aplauso geral, declaram que a maneira que encontram de participar passa bem longe dos partidos. É uma armadilha. Então, de muitos anos para cá, não surgem mais lideranças jovens na política, daquelas que apontam um rumo, que incendeiam seguidores. Ocorre que, enquanto assim pensam os nossos queridos jovens, Renan Calheiros, José Sarney, Jair Bolsonaro, até Paulo Maluf, seguem dando as cartas no Congresso.
O problema é que os partidos aprontam e afugentam bons interessados. Mas afastar-se deles só facilita o espaço para os mesmos de sempre. Porque partido sempre haverá, queiramos ou não. Ninguém muda uma realidade sem a política e os partidos. É dos espaços políticos que saem as decisões, de preferência respeitando a voz das ruas.
Cazuza cantava a ideologia. Queria uma pra viver. Hoje em dia, parece que todo mundo virou as costas para Cazuza. Mas ele sempre esteve certo, a despeito dos jovens de hoje. O que é preciso é não brigar nem roubar em nome de ideologias. Para isso, não tem jeito: sem política, não vai, gente. Sinto muito.