O governador Sartori deve apresentar a Caravana da Miséria ao Ministério Público, Defensoria Pública, Legislativo, Judiciário e Tribunal de Contas. Esse pessoal todo recebeu um bom aumento no início do ano. A qualquer trabalhador é devida a reposição da inflação, é justo, mas aumento acima do índice inflacionário é generosidade explícita. Ocorre que para tudo existe um contexto, que é esquecido para uns e lembrado para outros.
Quando percebeu que a crise era séria, o governo sacou da cartola a Caravana da Transparência, batizada de Caravana da Miséria, e saiu Rio Grande afora para explicar à população a razão do aperto do cinto, esperando que cada gaúcho e cada gaúcha contribuam para a superação do momento muito difícil. Mas são sempre os mesmos os que são chamados a contribuir. Os primos ricos, esses são poupados do sacrifício, sob argumento de que não cabe ao governo interferir nos demais poderes e órgãos. Agora, quatro meses após assumir, o governo quer protelar reposição salarial acordada com os policiais. Estoura nos de sempre.
Mas por que o governo não lembra os membros de Ministério Público, Defensoria Pública, Legislativo, Judiciário e Tribunal de Contas do contexto das finanças públicas? Como se precisasse… Deveria chamá-los a dar sua contribuição, em especial os que ganham mais, muito mais do que professores e policiais, para poupar a sociedade gaúcha de mais sacrifícios. Mas não. Sanciona-se o aumento a essas categorias sem um pio. É de uma obviedade apalermante que, se o aumento é generoso para os primos ricos, sobrará menos para os primos pobres, como se vê agora.
Então, levar a Caravana da Miséria a esse pessoal do Ministério Público, do Tribunal de Contas, do Legislativo, do Judiciário se justifica. Eles fazem de conta que não entendem o que está se passando. Que tal convocá-los a uma cota de pequeno sacrifício, por assim dizer, já que ganham muito bem, para que não se suspendam as horas extras de policiais nem aumentos anteriormente acordados? Não haverá governante capaz desse diálogo franco, desse papo reto? Vai estourar nos de sempre eternamente, na educação e na segurança? Até quando assistiremos boquiabertos a aumentos salariais pacíficos para quem ganha mais e a uma cota maior de sacrifícios para quem recebe menos?