O ano de cada um pode ser medido pela carga de emoção que alguns fatos, experiências ou acontecimentos vividos oferecem, ou por um prenúncio de emoção, ao menos. É um bom critério. Não é toda hora que a emoção pega de jeito. Então, preservar a capacidade de se emocionar é importante, estar aberto à emoção. Qual foi a última vez que você se emocionou? Quanto mais próxima a experiência que emociona, maior o significado e o impacto pessoal, mas não se deve descartar a emoção quando a fonte dela é mais neutra e distante.
Em 2015, Ana Clara, o menino Ailan, de 3 anos, e a menina Emili, de 2, foram capazes de emocionar. Comoveram intensamente, ainda que tenham sido alcançados por desfechos tristes e trágicos. Não precisa ser apenas esse o perfil dos acontecimentos que comovem. Agora, nestes primeiros dias de 2016, pode-se dizer que Wendell Lira candidata-se como primeiro nome do ano capaz de emocionar, ou pelo menos de nos aproximar de algo assim.
Quem acompanhou ao vivo pela tevê a escolha do gol que Wendell Lira marcou pelo pequeno Goianésia, de Goiás, para receber o Prêmio Puskas como gol mais bonito do ano no mundo inteiro deve ter balançado. É muito provável e saudável que assim tenha se dado. O até há pouco tempo desconhecido Wendell Lira foi alçado repentinamente ao centro de um evento planetário, e não seria surpresa que talvez pudesse tropeçar na emoção ou na timidez. Ele, então, respirou pausadamente, introduziu os primeiros agradecimentos, administrou a engasgada básica e inevitável ao mencionar a esposa e o filho, mas o fez no tamanho certo, para imprimir a dose necessária de humanidade, sem exageros. Então, atacou de trecho bíblico na festa da Fifa e do futebol mundial, mas uma passagem pertinente, sobre Davi e Golias. E encaminhou o rápido discurso no rumo de seu desfecho, o que fez de forma arredondada, segura e clara, sem deixar dúvida.
Estava todo mundo torcendo pelo brasileiro que não era Neymar. Estava todo mundo torcendo para um brasileiro humilde. E foi um vislumbre de emoção constatar que ele foi além de fazer um gol maravilhoso. A gente balançou. Aplausos, Wendell Lira. Não sei se você é o cara, mas tudo indica que sim. Porque você foi capaz de emocionar.