O DC publica amanhã uma reportagem sobre os 20 anos do palhaço Biribinha. Aproveitei a oportunidade e redigi um grifo sobre o documentário É Bucha, de Renato Turnes e Glaucia Grígolo, sobre os 40 anos da companhia de circo teatro mais atuante no Estado.
A família Passos é a fiel depositária da tradição do circo teatro em Santa Catarina. Seu caráter hereditário ajuda a entender a longevidade da companhia, a mais antiga – se não a única nestes moldes – em atuação pelo Estado. Adriano Passos, 38 anos, o Biribinha, detém com os irmãos e os filhos o legado que persevera há quatro décadas e que ajudou a educar pelo menos quatro gerações de catarinenses que tiveram seu primeiro (em muitos casos o único) contato com o teatro pela trupe mambembe. Eu fui um destes que se divertiu e se comoveu, na infância, com as peraltices e os melodramas do pioneiro Palhaço Biriba. A última vez deve fazer mais de duas décadas. Eu julgava que seria a definitiva, porque o circo havia acabado. Até avistar a tenda armada com seus os luminosos incandescentes em um cidade do Vale do Itajaí . O Circo Biriba sempre esteve por aí e continuará, como nos deixa claro o documentário É Bucha, dirigido por Renato Turnes e Glaucia Grígolo, com produção da Vinil Filmes, que esmiúça o baú histórico da célebre companhia. Desde 2006 a dupla acompanha e investiga a companhia. Em 2009, os diretores assumiu a tutela do acervo audiovisual, documental e de imagens dos Biribas. Um relicário de inestimável valor cultural. Ali estão textos originais criados ou comprados pelo fundador Geraldo Passos, o pioneiro Biriba. Os melodramas caíram de uso por seus descendentes. Os tempos são outros, e as plateias pedem por comédia. Turnes e Gláucia mergulharam no acervo e lá encontraram pérolas que remetem aos tempos das novelas dos rádios. Textos trocados ou comprados de outros teatros circos, um inclusive de uma companhia Portuguesa.É Bucha não é a história triste do palhaço desolado pela falta de perspectiva ou pela perda da própria graça com o mundo. É uma fábula real sobre a redenção da arte no seu estado mais perseverante, que se alimenta na esperança das novas gerações dos Passos. A era digital só provou o quanto ainda há o que ser percorrido. A tecnologia ajudou a encurtar a distância entre os Biribas e suas plateias. Em algum lugar, Biribinha e sua prole haverá de estar contando alguma piada, perpetuando jargões e maneirismos. Há dois meses, durante o lançamento de É Bucha, na Maratona Cultural de Florianópolis, perguntei a Adriano o que é ser palhaço. “Não há explicação racional”, justificou.- É tu estares numa sexta à noite em Balneário Camboriú se apresentando no teatro e logo depois contando piada numa casa de swing. Chega ao sábado e você está na Capital em um evento com a presença do governador. Aí fecha o domingo em um festa religiosa em Benedito Novo. É você viver mundos diferentes e ser aplaudido.
Say niiii, “uma fez”?!
O ContraVersão dá dois pares de ingressos para assistir ao filme Pina, documentário elogiadíssimo do alemão Wim Wenders, no Paradigma Cine Arte. Ganham um par de ingresso cada um dos dois primeiros que responderem corretamente à seguinte pergunta:
Qual o nome do filme de Wim Wenders que foi estrelado por Bruno Ganz e Dennis Hopper?
O resultado sai na da tarde de sexta-feira. Boa sorte!
Você pode assistir Homem com a Câmera de Filmar no YouTube, logo abaixo, mas o ideal é ver na grande tela, em maior escala. Monumental experimento de Dziga Vertov, é um dos filmes esteticamente mais influentes não só para os documentários que se seguiram o próprio cinema. Bem à frente do seu tempo, estará em exibição hoje na parede externa da Casa das Máquinha da Lagoa, dentro da Mostra de Documentários do Núcleo de Antropologia Visual (Navi) da UFSC. Será seguido por outro trabalho monumental, Rien que les Heires, de Alberto Cavalcanti.
As sessões da mostra são quinzenais, sempre na quinta-feira, às 20h. Leia mais sobre os filmes a seguir:
* Homem com a Câmera de filmar, dir: Dziga Vertov, 1929, 67’
Homem com a Câmera de filmar é o mais puro exemplo da ruptura total do cinema com a literatura e a dramaturgia, uma autêntica iniciação aos segredos da linguagem cinematográfica. Dziga Vertov criou o Kino-Pravda (Cine-Verdade) e o Kino-Glaz (Cine-Olho), novos conceitos para captação da realidade, formatada dentro de uma montagem visionária que influenciaria o cinema do Pós-Guerra. As imagens são deslumbrantes e de grande impacto visual. Sem dúvida um dos filmes mais importantes de todos os tempos. A trilha sonora é composta e conduzida pela Alloy Orchestra, seguindo as instruções escritas por Dziga Vertov.
* Rien que les Heures, dir: Alberto Cavalcanti, 1926, 60’
Alberto Cavalcanti, cineasta brasileiro – pouco conhecido por aqui – antecipa as sinfonias urbanas de Vertov e Ruttmann, quando realiza, em 1926, Rien que les Heures.
Como escreve Elizabeth Sussex, “Rien que les Heures, o primeiro filme que ousou mostrar a vida comum do dia a dia de uma cidade, merece um olhar com o olho do presente. Isso nos ajuda a desvendar a carreira de Cavalcanti como um todo: o approach dramático, a consciência social contrastando as vidas de ricos e pobres. Sua reputação sofreu uma negligência inicial porque seu impacto foi roubado pelo Berlin, de Ruttmann, realizado depois mas exibido antes na Inglaterra e na América”.
O ano é 1964, o cenário é o Centro de Florianópolis, e os atores eram os garotos da banda The Snakes, que como muitos, amavam os Beatles a ponto de serem conhecidos como os fab four ilhéus _ mas na verdade era um quinteto, como na formação original dos Beatles. A foto é um dos raros registros do documentário Bolachas, produção da Vinil Filmes e direção de Marco Martins, que estreará na Maratona Cultural de Florianópolis, domingo, às 15h, no Cinema do CIC. O filme é uma ode ao rock, da relação fraternal entre o gênero e seus entusiastas que passa por décadas, costumes e modelos (do vinil, cassete e CD à música digital). Veja o tumblr do projeto.
Bolachas traz depoimentos _ ricos e também irreverentes _ de músicos, artistas, pesquisadores e jornalistas. É um resgate da memória afetiva da Cidade sob a ótica do rock.
Na difícil tarefa de datar o desembarque do estilo na Ilha, Marco Martins partiu do primeiro registro fonográfico de uma banda na Ilha. É aí que o filme encontra os The Snakes. Os integrantes estão na ativa até hoje e lembram que a banda era “os Beatles com um jeito mané”. Foram para o Rio gravar disco como The Snakes e voltaram como Os Rubis. Foram obrigados a se refundarem por obrigação contratual, já que à época havia uma banda carioca com o mesmo nome da qual fazia parte um tal de Roberto Carlos. Nas malas trouxeram o álbum O Sabor de Avanço que, até que apresentem prova em contrário, é o primeiro disco de uma banda florianopolitana.
A foto cedida pela produção do Bolachas mostra os “quatro rapazes da Ilha” em um show sobre a marquise dos saudosos Ponto Chic e Confeitaria Chiquinho, na esquina mais efervescente do Centro da Capital. Para entender um pouco dessa relação passional e histórica entre a Ilha e a beatlemania. Paul McCartney até que demorou a aparecer por aqui.
Trailer Bolachas from vinil filmes on Vimeo.
Documentário Marley, do diretor Kevin Macdonald, passou bem pela prova de fogo no festival de Berlim, que encerrou ontem. Da crítica vieram elogiosas referências, inclusive de que se trata de uma biografia definitiva sobre o mítico cantor jamaicano que popularizou o reggae pelo mundo a partir da década de 1960. Macdonald (que dirigiu O Último Rei da Escócia) fez o que um documentário de verdade deve legitimar: mostra o ídolo em suas virtudes e o homem envolto em suas fraquezas (como as relações extraconjugais e filhos fora do casamento). Marley estreará em abril nos cinemas, ou em algum “link” mais próximo de você.
Bolachas, documentário de Marco Martins, que na verdade é um garimpo genealógico sobre o rock na Ilha de Santa Catarina, está pronto. A produção é da Vinil Filmes e o lançamento ficou acertado para março, durante a Maratona Cultural de Florianópolis. Bancado pelo Funcine, trata-se de um registro histórico e pioneiro. O teaser está no ar. Preparem seus corações:
Trailer Bolachas from vinil filmes on Vimeo.
Gênio primata, arauto dos conhecimentos do lado obscuro das artes, o “príncipe do Isopor” Gurcius Gewdner está morto e reencarna em um jovem rapaz em um documentário que tem tudo para ser a mais absoluta mentira, se não fosse a sua vida uma fantasia verdadeira. A Vida e a Morte da Reencarnação de Gurcius Gewdner é uma homenagem de um trio de estudantes ao poeta, artista plástico, músico (das históricas Os Legais e agora Os Ambervisions) e cineasta outsider catarinense (de Mamilos em Chamas!).
O vídeo, disponível na íntegra no YouTube, leva a assinatura da produtora joinvilense Brain Films, encabeçada por Victor Bello (na foto), que além de dirigir o filme é o protagonista que reencarna o ídolo enfant terrible (no detalhe). Esta foi a saída encontrada pelo trio para retratar o “artista máximo de Joinville” (palavras do comparsa e diretor gore Petter Baiestorf), já que o próprio corre o Brasil como a sombra do mítico cineasta cult Ivan Cardoso. Voltando ao Baiestorf, Gurcius é o “cineasta do amor, das imperfeições, bailarino da vida e cachorro de Ivan Cardoso”.
Marcos Espíndola é jornalista, titular da coluna Contracapa do caderno Variedades e integrante do programa Bola nas Costas, da rádio Atlântida. O ContraVersão é mais que a mera reunião dos conteúdos dos blogs do Marquinhos e Tra-la-lá (RIP), é a derradeira tentativa de se cavar uma nova trincheira, que opere por conta própria, independente da cobertura diária dos seus respectivos espaços no DC. Música, literatura, cinema, quadrinhos e todas as formas possíveis e subversivas de arte estarão sob o foco deste caleidoscópio da cobertura pop. A junta psiquiátrica que assiste este blogueiro agradece desde já a compreensão e o incentivo de todos. Afinal, pense bem: ele poderia estar roubando, né?