Medo e insegurança é o atual sentimento dos universitários da UFSC com onda de assaltos
31 de março de 2015 19O sentimento de insegurança é evidente. Atualmente o medo é constante nos universitários assaltados ou não no Campus da Universidade Federal de Santa Catarina. Há dois meses recebi a informação das ocorrências no campus e ao redor da instituição. Todos os universitários que procurei não me retornaram e-mail ou o contato pelas redes sociais. Pareciam ter medo de dar entrevista. No domingo pela manhã descobri um post do mestrando em Design Alessandro Vieira dos Reis que chamava os universitários assaltados ou inseguros com a atual situação para um encontro. O silêncio foi quebrado com o estudante de Biologia João Victor Krüger Pinto, 18 anos.

Com medo de ir no Campus da UFSC no domingo universitário preferiu dar entrevista em praça de alimentação. Guto Kuerten/DC
Com medo de ir num domingo no Campus da UFSC, João Victor preferiu dar entrevista numa praça de alimentação de um supermercado na Agronômica, onde mora. No último dia 12 esperava a namorada, por volta das 12h30min, no CCB velho. Calmamente chegou um sujeito moreno, magro, com um boné virado para trás e de chinelo.
— Saí da Penita e ganhei um oitão e vim aqui fazer um assalto. Passa o celular — disse o assaltante enquanto simulava ter uma arma na cintura, de acordo com o relatado na ocorrência policial.
— Caso você não entregue eu mato você. Não tenho nada a perder — completou o tranquilo bandido depois de sentar ao lado de João Victor e tirar o relógio que o estudante havia ganhado de presente da namorada.
Depois do assalto, João Victor tentou recuperar as imagens das câmeras de segurança. Uma flagrou o assaltante de costas e a outra não permite ver direito o sujeito. O jovem afirma que sempre tentou se proteger e nunca imaginou que passaria por esta situação dentro da própria faculdade. Atualmente procura andar em grupo e em local movimentado e bem iluminado. Agora tem medo de ir para a aula.
— A Polícia Militar deveria entrar na UFSC. Melhorar a qualidade das câmeras e restringir a entrada das pessoas no Campus da UFSC. Para eliminar esta liberdade que os bandidos estão tendo. Tem que investir em mais segurança, não vejo nenhum tipo de policiamento — argumenta.
Ainda no domingo, conversei com Renato de Souza Amaro, 23 anos, no Campus da UFSC. Era visível a sua preocupação no local. Ele cursa Filosofia. Há duas semanas, por volta das 20 horas, na calçada pelo lado de fora da universidade um jovem de no máximo 17 anos, perguntou se ele já tinha levado um tiro ou se foi assaltado alguma vez.
— Na hora já sabia do que se tratava. Ele disse que estava armado. Mas percebi não ter nada com ele. Foi então que reagi segurando o rapaz. Com a presença de outras pessoas que notaram o que estava ocorrendo ele fugiu — disse. Completamente inseguro e com medo na mesma noite ligou para os pais que moram em Morro Grande e pediu ajuda para se mudar do Pantanal. Foi para a Trindade, onde acredita estar mais seguro.
— Todos os dias me sinto apreensivo. Vou para a aula e fico a espreita. Vivo um trauma que jamais pensei que iria passar. Acredito que poderia ter mais rondas da Polícia Militar no Campus, como estão fazendo nas proximidades da universidade.
Amanda Soares, 19 anos, é caloura de Biblioteconomia. Na sexta-feira saiu da aula por volta das 22h20min e foi para um ponto de ônibus no antigo CED com uma colega de curso.
— Dois homens chegaram, deram boa noite e mandaram a gente passar o que tinha. Me senti muito assustada. Puxaram o celular de minha mão. Eles nos ameaçavam dizendo que estavam armados. Eu corri atrás do que me tirou meu aparelho e segurei ele. Foi quando o outro me empurrou e caí. Machuquei meu braço, minha perna e minha mão. Entrei em choque e reagi sem pensar na consequência. Tenho medo até de andar na rua. Ir para aula é por orgulho mas a vontade é não ir. Um absurdo não termos segurança dentro da própria faculdade. A culpa é da administração que não faz nada com isso que vem ocorrendo com os alunos.
Indyanara Bianchet Marcelino, 24 anos, faz mestrado em Mecânica. Estava saindo de casa ao lado do Campus da UFSC, por volta das 7h, com uma amiga para ir para a aula.
— Dois moleques de no máximo 21 anos exigiram que entregássemos os celulares e dinheiro. Eles não estavam armados. Saíram correndo para lados opostos. Um taxista percebeu e foi atrás e conseguiu recuperar o meu aparelho. Eu tremia de medo na hora — relata.
Ela se formou em 2013 em Engenharia Quimica. Conta que na época da graduação não era perigoso.
— Agora está impossível. Jamais pensei que passaria por algo parecido. Esta inércia que se encontra tem que mudar. Meus pais estão desesperados em casa com o que estamos passando aqui. Todos os dias ligam para saber como estou.
Alessandro Vieira dos Reis faz mestrado em Design. No sábado, por volta das 13 horas, voltava do almoço ao lado do Campus da UFSC. Dois rapazes com capuz perguntaram se eu tinha dinheiro e tentaram assaltá-lo. Conseguiu fugir depois de um vacilo dos assaltantes.
— Eles aproveitam para assaltar dentro e fora para se refugiar dentro da universidade. Precisamos emergencialmente de um policiamento. Questiono apenas como será feito. Todos estão com medo — diz.
Alessandro vai colher depoimentos de alunos para fazer um vídeo curto e expor o drama dos assaltados de quem está inseguro com a situação.
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