O texto abaixo está na coluna de Sérgio Zambiasi, na contracapa do DG desta segunda-feira.
De novo, as drogas
Semana passada ouvi um policial comentando que as munições que os bandidos usam devem estar muito baratas, pois é comum o noticiário divulgar sobre indivíduos sendo executados com verdadeiras saraivadas de balas de todos os calibres. Não tem madrugada sem esse tipo de ocorrência. E, normalmente, as vítimas são jovens cujas idades não chegam a 30 anos. Alguns casos até chamam mais a atenção que outros, como o menino de 14 anos morto com quatro tiros a queima-roupa no Guajuviras, em Canoas.
Entre idas e vindas de abrigos, a intimidade com a violência e o envolvimento com drogas colocou o garoto na linha de tiro dos traficantes. Ele chegou a ter acompanhamento do Conselho Tutelar, mas a falta de estrutura familiar e a ausência da figura paterna condenou o jovem Ueverton Carvalho ao convívio de más companhias, ao ponto de largar a escola e virar olheiro de bocas de fumo. Aos 14 anos, já tinha intimidade com armas de todos os calibres e um cotidiano onde a violência é uma questão de sobrevivência.
Corta o coração ver a expressão de desespero da pobre mãe, dona Elaine, que, sem alternativas e nem autoridade junto ao menino, tentava convencê-lo a recomeçar os estudos no horário noturno, pois durante o dia ela pretendia que ele trocasse o comércio das malditas pedras de crack pela venda dos salgadinhos que ela preparava com muito sacrifício. Perdeu o filho para os bandidos. Na cabeça do guri, vender drogas era mais lucrativo. Mas no mundo que ele escolheu, a vida tem pouco valor. As dívidas são cobradas com a própria vida. Não foi um caso isolado. É apenas mais uma notícia, mais um número na estatística. Como disse o delegado Marco Antonio Guns, da 3ª DP de Canoas: em crimes como esse, não há outra motivação que não seja essa situação caótica, sem controle, do tráfico de drogas. Será que estamos perdendo a batalha?
Até amanhã, se Deus quiser.