Klécio Santos
Que Hugo Chávez é pouco afeito a preceitos democráticos, não é novidade. A decisão de ontem sobre o ingresso da Venezuela no Mercosul, porém, foi tomada diante de um dilema. Até que ponto a exclusão do país não seria prejudicial, isolando ainda mais a Venezuela? A própria oposição chavista, que teve poderes usurpados, defendeu o ingresso no bloco como forma de conter o caudilho bolivariano. Pode ser ingenuidade, mas o certo é que a ofensiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para aprovar a entrada da Venezuela deu resultado, apesar de resistências, inclusive na base do governo. Dois ex-presidentes e aliados de Lula, José Sarney e Fernando Collor, sempre se opuseram à inclusão do vizinho, mas não colocaram obstáculos à votação na Comissão de Relações Exteriores. À oposição, restou o discurso de que a participação da Venezuela abala a credibilidade do já combalido Mercosul. Essa retórica é muito mais uma tentativa de atingir Lula e associá-lo a Chávez do que convicção ideológica. Afinal, as exportações só crescem, o que atende aos interesses de empresas brasileiras.
O superávit comercial do Brasil em relação à Venezuela, calculado em US$ 4,6 bilhões, é 2,6 vezes maior do que o registrado com os EUA. Até mesmo o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, passou a enxergar a possibilidade de ampliação de negócios nesse jogo comercial, uma vez que a Venezuela é importador de alimentos. Dando como favas contadas a votação no Senado, Lula capitalizou a vitória in loco, jantando com Chávez em Caracas.
Postado por Sucursal Brasília
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