Forçada a eliminar dois ministros em apenas sete meses de governo por denúncias de irregularidades, a presidente Dilma Rousseff estuda conduzir uma reforma ministerial em dezembro.
Ela pretende se livrar de parte da herança de Lula e das imposições dos partidos aliados. Amparada na exigência legal de afastar até 30 de março os ministros que irão disputar as eleições municipais de 2012, a presidente já revelou que antecipará o troca-troca. Com esse argumento, ela renovará a Esplanada, despachando além dos ministros candidatos, os subordinados com resultados pífios e também seus desafetos.
Pelos menos oito pastas devem sofrer mudanças. Contudo, a lista pode aumentar. Outros 12 titulares correm o risco de perder assento. Dilma nunca ocultou dos auxiliares mais próximos que foi obrigada a aceitar no primeiro escalão ministros com os quais não simpatizava e outros em quem não confiava.
Demitido sob suspeitas de operar um esquema de cobrança de propinas, o ex-titular dos Transportes Alfredo Nascimento era um dos políticos do espólio de Lula. Mesmo disposta a reformular o primeiro escalão apenas no final do ano, Dilma advertiu que será implacável contra novas denúncias de corrupção.
Ela também alertou que não tolerará insubordinações. O destinatário do segundo recado é Nelson Jobim (Defesa). Descontente, ele passou a enviar mensagens cifradas para a chefe. Em junho, durante discurso em homenagem aos 80 anos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, Jobim afirmou que “os idiotas perderam a modéstia”. Na terça-feira, ele revelou ter votado em José Serra em 2010.
– Ele provoca porque acredita que Dilma não teria coragem de demiti-lo antes de aprovar a Comissão da Verdade – diz um integrante do governo.
A presidente, no entanto, tem emitido sinais de que considera a situação de Jobim insustentável. Sem alarde, ela estaria articulando com Lula a demissão do peemedebista. O ex-presidente do PT José Genoino (SP) já estaria fardado para sucedê-lo, ainda que a presidente não tenha dado garantias de que irá promover o petista a ministro.
Entre os ameaçados, figuram Mario Negromonte (Cidades), Ana de Hollanda (Cultura), Iriny Lopes (Mulheres), Luiza Helena de Bairros (Igualdade Racial) e Pedro Novais (Turismo). A presidente estaria incomodada com a gestão apagada deles. Há 10 dias, Novais foi apresentado ao humor peculiar de Dilma.
Na ocasião – mais de seis meses após a posse –, ele foi recebido para sua primeira audiência com a presidente. Novais faz parte do rol dos considerados “ineficientes” e “inadequados”. Dilma chegou ao encontro 30 minutos atrasada e tentou descontrair:
– Dizem que não nos falamos.
– Mas é verdade – retrucou Novais.
– Então, me diga o que o trouxe aqui – ordenou Dilma.
Com uma ladainha, o ministro do Turismo despejou a pauta. Ao final da palestra, a presidente olhou para o subordinado e disparou:
– Se era esse o assunto, realmente, não havia motivo para ter pressa em recebê-lo.
O estilo contundente de Dilma Rousseff dissemina calafrios nos integrantes do governo. Reconhecida pela impaciência com erros e desempenhos medíocres, a presidente costuma emitir senhas quando está prestes a desancar um subordinado. Segundo assessores, o primeiro sinal da irritabilidade de Dilma é ela chamar o interlocutor de “meu filho” ou “minha filha”.
No entanto, o ápice da exasperação presidencial, que geralmente culmina com uma carraspana, se traduz no momento em que ela trata o auxiliar por “meu santinho”. A chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, se transformou em uma espécie de “babá” dos ministros em situação vulnerável. – Gleisi faz um papel para o qual a presidente não tem paciência.
À época em que estava na Casa Civil, Dilma nunca chamava ministro para conversar, e sim para dar bronca – conta um auxiliar do governo.
Uma das novas atribuições de Gleisi é tentar reabilitar os ministros visados por Dilma. Escalada para conversar com o pelotão intermediário, ela tem alertado os colegas, em tom professoral, a buscarem foco. Na lista dos advertidos, nomes como Ana de Hollanda, escolha pessoal da presidente. Orlando Silva (Esportes) é um dos raros que saíram do limbo para as graças de Dilma. A presidente tem elogiado o baiano pelo trabalho à frente da organização da Copa. Uma das ministras chamuscadas é Iriny Lopes (Mulheres). Dilma tinha grandes expectativas, mas se queixa que a auxiliar tem se dedicado mais para tornar viável sua pré-candidatura à prefeitura de Vitória (ES) do que ao governo.
Comentários