
Por que o Inter, com comissão técnica de Seleção Brasileira e elenco estrelar, não avança no Brasileirão? Apesar dos investimentos feitos, mais um Brasileirão vai passando e vê o clube na fila, assim como ocorre desde 1979. Dezesseis pontos atrás do líder, Cruzeiro, o Inter repassa as suas esperanças e a sequência de Dunga no Beira-Rio para a Copa do Brasil. Zero Hora levanta alguns pontos que mostram os problemas do time na temporada.
Vestiário
A temporada 2012 deixou cicatrizes no Beira-Rio. Dunga, dono de imagem forte e reconhecido líder de vestiário, foi buscado para chefiar um grupo caro e recheado de estrelas. Fez o que a direção sempre sonhou: tornou o vestiário um lugar hermético. Comprou brigas internas para deixar tudo ao seu gosto. Fechou tanto o vestiário que, em momentos de dúvida, quase não tem com quem se aconselhar, a não ser com os próprios líderes do grupo. A sua relação é fria com Newton Drummond, o Chumbinho, gerente de futebol nos anos dourados da década passada. Os diretores de futebol são relativamente novos na função, e o presidente Giovanni Luigi, este sim com mais rodagem de vestiário, como vice de futebol de Vitorio Piffero, está envolvido em outros temas do clube numa temporada atribulada. Ou seja: Dunga tem o vestiário impermeável. Até mesmo para receber mais oxigênio a partir de ideias novas.
Ano de expectativas
Em um ano complexo, sem o Beira-Rio, o Inter buscou Dunga com uma missão urgente: evitar o descenso. Em dezembro de 2012 era esse o temor nos gabinetes colorados. Havia dúvidas sobre o efeito de jogar sempre fora de Porto Alegre. O técnico aprumou o time e venceu o Gauchão. O otimismo cresceu, assim como a perspectiva da direção. Um título nacional entrou no horizonte. Ele ainda pode vir, mas só pela Copa do Brasil. No Brasileirão, até mesmo as chances de G-4 se reduziram. A pressão externa sobre o técnico cresceu depois das derrapadas das duas últimas semanas. Ainda que D’Alessandro e Juan tenham saído em defesa do técnico, uma pancada na Copa do Brasil pode precipitar mudanças. A direção, em conversas reservadas, já planeja 2014 e deflagrá-lo agora não está descartado. Até porque a ambição é estrear o novo Beira-Rio na Libertadores.
Time
Nesta quinta-feira, contra o Atlético-PR, o Inter disputará a 52ª partida no ano. A temporada acabará em 76 dias e ninguém sabe dizer de cor o time titular. Kleber e Fabrício se alternam na lateral esquerda. Os volantes passam por rodízio. Todas as duplas possíveis já foram formadas: Airton e Josimar, Josimar e Willians, Ygor e Josimar, Airton e Willians, Ygor e Willians. Até com três volantes o meio-campo já foi escalado: Airton, Josimar e Willians. Otávio entrou, ganhou status de titular e já saiu para dar lugar a Caio. Scocco e Alex também oscilaram entre o banco e o time. O melhor momento no Brasileirão, com quatro vitórias em sequência sobre Vasco, Fluminense, Flamengo e São Paulo, teve Kleber na lateral esquerda e Fabrício e Jorge Henrique no meio-campo.
Culto aos campeões
A conclusão é de que alguns ciclos se encerraram no clube. Mas é tardia. Há uma dificuldade do Inter em reformular o grupo. Principalmente quando se trata de expoentes das conquistas recentes. E esses jogadores são voz ativa no vestiário. A troca de Caxias do Sul por Novo Hamburgo é exemplo. O pedido do elenco para jogar mais perto de Porto Alegre foi atendido _ ainda que os resultados no acanhado Estádio do Vale tenham despencado.
Dos tropeços
O Inter parece gostar dos grandes jogos. Mas o Brasileirão não é composto apenas por eles. Há também os encontros com Náutico, Bahia, Portuguesa e o renovado Santos pós-Neymar. E o Inter caiu para todos esses. Em seis pontos contra o Bahia, nenhum foi ganho. Com o Vitória, foram dois empates. Só o Flamengo, além do Inter, perdeu para o Náutico. A única vitória da Portuguesa fora do Canindé foi no Estádio do Vale. Foram 19 pontos atirados pela janela.
Zagueiros
Rodrigo Moledo foi vendido em junho. Chegou a pedir para ficar de fora contra o Cruzeiro, em junho, na véspera do recesso da Copa das Confederações. A direção concluiu que era desnecessária a reposição. Havia confiança de que contavam com seis zagueiros de “alto nível”: Alan, Juan, Índio, Ronaldo Alves, Jackson e Romário. Índio e Ronaldo Alves se revezaram ao lado de Juan. O sistema defensivo é o ponto mais fraco do time. Dunga não conseguiu corrigi-lo. Só cinco times levaram mais do que os 32 gols do Inter no Brasileirão.
Justificativas
O fato de jogar fora de casa foi usado como escudo. Sempre aparece como justificativa nas derrotas. Se Dunga blinda seus jogadores, a direção blinda Dunga. Usa, além da questão local, o desgaste físico, as convocações e as lesões para atenuar tropeços. Mesmo que todos os clubes enfrentem esses mesmos obstáculos, e o Atlético-PR, mesmo jogando no estádio do Paraná, seja o terceiro colocado.
O fator Estádio do Vale
Caldeirão às avessas, o estádio de Novo Hamburgo tem se mostrado um péssimo negócio para o Inter em termos de resultados. São duas vitórias, quatro empates e duas derrotas. Um desempenho pífio para um grande clube atuando como mandante. Confira:
Inter 2×2 Atlético-PR
Inter 0×0 Atlético-MG
Inter 3×3 Goiás
Inter 1×0 Corinthians
Inter 1×2 Santos
Inter 2×2 Vitória
Inter 0×1 Portuguesa
Inter 3×0 Salgueiro*
* Pela Copa do Brasil
Aproveitamento: 41,6%