
Por Alexandre Ernst
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Leandro Vuaden apitará seu Gre-Nal de número nove. Foi sorteado para ser o árbitro do Gre-Nal 400, domingo, na Arena, a partir das 16h. Acredita que o clássico requer a mesma concentração e atenção que os jogadores nos clubes, enxerga o confronto como a Copa do Mundo do Estado e antecipa intolerância contra qualquer cântico de cunho racista ou que, ao ser juízo, seja visto como ofensa deste teor.
— Poderíamos usar o bom senso e não se cantar músicas deste tipo — disse o árbitro sobre a canção “chora macaco imundo”, entoada pela torcida gremista.
Zero Hora — O clássico histórico também mexe com a arbitragem?
Leandro Vuaden — É evidente. O Gre-Nal é a nossa Copa do Mundo. Tudo aquilo que é protocolo, pré-jogo, reunião e planejamento, concentração, da mesma forma que as equipes fazem, nós também faremos. Queremos que seja um grande espetáculo. Sabemos da responsabilidade que temos.
ZH — Já começou a pressão por ambos os lados?
Vuaden — Já fui indagado por torcedor, hoje. As pessoas, mesmo pedindo para ajudar o time, não fazem com desrespeito. O futebol é assim, apaixonante. Teria de lamentar se fosse desrespeitoso, grosseiro. E eu respeito, respondo sempre com educação.
ZH — O vice presidente do Inter, Marcelo Medeiros, avaliou a arbitragem do Gauchão como ruim.
Vuaden — É uma opinião de dirigente. Eu, Leandro, poderia falar de arbitragem, sei do dia a dia e sei como as coisas funcionam. É opinião dele e não cabe a mim falar sobre isso.
ZH — No último Gre-Nal que você apitou, houve uma polêmica com o Paulão. Você interpretou como pênalti e os colorados reclamaram muito, alegando bola na mão.
Vuaden — Todo lance de interpretação é complicado. Ouço muito sobre movimento natural do braço, braço estendido, braço encolhido. Eu prefiro usar a seguinte pergunta: o que é mais fácil explicar, a decisão de marcar ou não marcar? E daí se joga para a opinião pública e ela que julgue. Não vamos apitar conforme a opinião publica, claro, mas criamos uma linha de tomada de decisão. É dificil. Para o árbitro, não é interessante polêmica. Ele pode acertar 99 vezes e errar erra que vira polêmica. E você não lembra mais das 99 que ele acertou. É coisa da vida. Em qualquer setor, a credibilidade é importante.
ZH — Você reviu o lance? Ainda avalia como pênalti?
Vuaden — Se o jogador (do Grêmio) em questão tivesse tomado aquela bola, dominado e marcado o gol, o que deveria ter sido marcado? Veja como é interessante isso. Às vezes, as decisões precisam ser explicadas, confrontadas. Mas após a decisão tomada, não vou mudar nunca. Claro, não vou brigar com a imagem. Mas, nesse fato em si, posso inverter a situação para saber se está acertada a tomada da decisão.
ZH — Será o primeiro Gre-Nal após a questão envolvendo o Márcio Chagas da Silva em Bento Gonçalves. Qual será tua atitude em relação a possíveis cânticos de cunho racista?
Vuaden — O momento atual é delicado. Esse cântico não é um fato novo, é antigo. E nunca se teve repressão a isso. Ele sempre foi entendido como cântico do jogo. Nunca racista. Mas o momento atual é delicado. Poderíamos usar o bom senso e não se cantar nada que dê margem à interpretação de racismo. Se eu entender que isso interfere e é um ato ofensivo vou repreender e, se for o caso, parar o jogo. Acredito no bom senso e na educação das pessoas. Eu não sou só contra o racismo dentro do campo. Eu sou contra o racismo 24h do meu dia. Isso o que está acontecendo é uma injustiça.