Por RICARDO STEFANELLI, Diretor de Redação de ZH
Em nossa reunião de editores de segunda-feira passada,abri um debate sobre a edição dominical da véspera. Tínhamos boas matérias no domingo passado, um cardápio variado como sempre, alguns textos bem cativantes, mas nenhuma que causasse furor, provocasse emoção ou indignação. Contei aos editores que trazia o tema à mesa pois recebera um e-mail de um habitual leitor, profissional criterioso e de ideias qualificadas, elogiando a edição dominical. Mesmo com o afago externo, pedi na reunião o tradicional discernimento daquele grupo de gestores de modo a não baixarmos nossos níveis de exigência.
Na reunião de editores das segundas-feiras, no início da tarde, temos o hábito de avaliar a edição do domingo recém passado e a do seguinte, além de alinhar planos para os próximos dias ou semanas. O mais importante para quem faz jornalismo diário é planejar a edição que está por vir, sem esquecer de escarafunchar a mais recente na tentativa de não repetir erros. O jornal que o leitor recebe hoje,
portanto, é uma mostra de como é feita Zero Hora. O ceticismo sobre a dominical passada foi a arrancada para a edição que considero de luxo, de hoje. Mesmo líder, nosso grau de esmero não pode dormir em berço esplêndido.
Por isso, peço atenção especial dos cativos desta Carta. Reparem na profundidade da análise das páginas 4 e 5, nas quais o repórter Moisés Mendes pontua o momento exato em que os dois principais candidatos à Presidência viraram a chave – e se tornaram administradores públicos, ambos com capacidade assentada sobre um nível de cobrança capaz de impressionar interlocutores e assombrar assessores.
Sugiro um olhar especial para a entrevista – exclusiva, como gostamos – com Laura Pollán, líder das Damas de Branco, movimento de mulheres e mães de 75 presos políticos cubanos. Por telefone, ao repórter Léo Gerchmann, ela não poupou críticas ao presidente brasileiro: “Lula nos decepcionou, porque veio dos trabalhadores, conhece a repressão, conhece o sofrimento que tinham os familiares”.
Quem gosta de surpresas, abra a revista Donna: você sabia que as missas na Catedral Metropolitana, principal templo católico do Estado, estão nas mãos de um religioso de apenas 33 anos, que malha todos os dias, faz palestras em PowerPoint, baixa filmes da internet, usa perfumes, sofre com o seu time do coração e se embala ao som de hip hop? Pois foi o que descobriu a editora Mariana Kalil, ao visitar a igreja a fim de… preparar seu próprio casamento, marcado para o próximo mês.
Dentro do espírito de antecipar informações, o repórter Fábio Schaffner, da Sucursal de Brasília, circulou pelos bastidores da Casa Civil para apontar, em primeira mão, as prováveis obras gaúchas prometidas pelo PAC 2. Guardados no Palácio do Planalto, os investimentos pré-eleitorais só serão anunciados na segunda-feira. Serão pelo menos mais 10 obras para fiscalizar até que saiam do papel e virem realidade, uma missão já incorporada à rotina da Redação.
Em busca de explicações para os fiascos do milionário time do Inter, a editoria de Esportes esmiuçou os motivos que tiraram do técnico Fossati o controle do grupo colorado. Há horas, o futebol não é prioridade no vestiário vermelho, pode-se concluir após a leitura das páginas 39 e 40. É uma tentativa de ir além do noticiário diário, repleto de resultados e entrevistas que habitualmente não querem dizer nada.
Fecho o cardápio chamando a atenção para o mais relevante de nossos temas: a campanha do crack, que na terça-feira inicia um novo capítulo. Num relato dolorido, os repórteres Marcelo Gonzatto e Maicon Bock mostram como a droga destrói não apenas a vida dos viciados, mas a rotina de quem convive com eles.
Seja forte para ler a história da mãe que já teve de internar por seis vezes o filho de 11 anos (sim, 11 anos), a da esposa que viu suas duas lojas de roupas femininas, carro e casa novos se esvaírem com o marido em troca da droga, a do garoto de 12 anos que trocou os pais viciados por uma tia e o drama do antes melhor amigo que apresentou o crack ao hoje estranho viciado.
Ao destacar meia dúzia de reportagens, deixo de celebrar outras tantas da mesma edição, como a especial do Caso Isabella a partir da página 34. Mas o leitor não ficará contrariado, pois a omissão só expõe nosso ímpeto de transformar ZH dominical imprescindível para quem vive neste Estado.
Siga as páginas e confie que elas vão lhe despertar emoção, acrescentar informação e serviço e qualificar as conversas deste domingo, como já é tradição no Rio Grande.