Na terça-feira, a repórter Letícia Duarte mandou um e-mail para a Redação: “Caras colegas, como vocês devem estar acompanhando, está rolando no Twitter a hashtag #primeiroassedio, em que mulheres relatam o primeiro assédio de suas vidas. Como o PrOA deste final de semana trata de violência contra a mulher, queremos produzir um vídeo com mulheres da redação aderindo ao movimento. Quem topa dar o seu depoimento #primeiroassedio? (Eu e a Cláudia Laitano já estamos dentro.)”
Já foi vítima de assédio? Conte sua história no nosso mural
— Esse chamado movimentou toda a redação — relata Letícia. — O assunto entrou nas rodas de conversa, provocando reflexões também entre os homens. Algumas colegas ficaram com receio de se expor porque sua história era muito traumática, ou porque a família não sabia, ou até porque tinham medo de chorar na frente das câmeras. Mas todas elogiavam a iniciativa, dizendo que era muito importante que a gente falasse do assunto.
Ao longo da semana, 12 colegas aderiram à ideia e gravaram o vídeo, que você pode assistir aqui.
– Quando o vídeo ficou pronto – conta Letícia – um grupo se reuniu para olhar. Várias começaram a chorar, emocionadas. Por se darem conta de que aquela história que guardavam – que em muitos casos nunca tinham contado para ninguém – era uma violência muito mais comum do que supunham. E também por acreditarem que aquela exposição, se por um lado era dolorosa, representava uma contribuição social importante.– Vale lembrar que as piores histórias sequer aparecem no vídeo. Por trauma ou medo, permanecem silenciadas.
Confesso que eu mesma não tive coragem de contar a minha história, ocorrida quando eu tinha sete ou oito anos de idade. Tive medo de me expor, e de expor o familiar que assediou tanto a mim quanto à minha irmã mais velha. Nunca falamos sobre isso, eu e minha irmã, por décadas. Só agora, ambas com mais de 50 anos, um dia contamos e nos surpreendemos por ter ocorrido com ambas. A vergonha e o trauma foram guardados por mais de 40 anos.
– Tive a ideia do vídeo – conta Cláudia – conversando com uma amiga esta semana sobre a campanha #primeiroassedio (criada pelo site ThinkOlga em resposta às mensagens de teor pedófilo que circularam no Twitter durante a estreia do programa Masterchef Júnior). Em meia hora, nos demos conta de que, provocando a memória, lembrávamos de cenas e situações quase soterradas no passado, porque naturalizamos o que não deveria ser natural. Tenho uma filha adolescente, e a geração dela está muito consciente disso: não podemos mais aceitar em silêncio certas coisas. O vídeo é nossa maneira de nos unirmos às nossas leitoras em uma luta que não é de homens contra mulheres ou de esquerda contra direita. É uma ideia de país, de futuro, de humanidade que está em jogo.
Imagino que cada leitora que me lê aqui está, neste momento, pensando na sua história de primeiro assédio. É inacreditável, mas não existe mulher que não tenha passado por isso uma, duas, inúmeras vezes. Conte sua história em nosso mural. Compartilhe conosco e com os leitores para que, como diz a Cláudia, a gente discuta que tipo de humanidade queremos para nossos filhos e netos.