A Redação de Zero Hora tornou-se uma usina de produção de vídeos: foram mais de 450 em julho, ou 15 por dia, publicados nas plataformas digitais de ZH. O número triplicou em sete meses. Em uma revolução que se repete nos principais jornais do mundo, o que era exclusividade de emissoras de TV virou rotina entre jornalistas mais voltados para textos e fotos. Por quê? Simples: porque cada vez mais consome-se informação em formato de vídeos, seja no desktop ou nos smartphones.
O processo começa na reunião de pauta, como explica o editor de Produção de ZH, Rodrigo Lopes:
– Vídeos ocupam boa parte do tempo das discussões. Não raro, começamos a construção dos conteúdos que teremos ao longo do dia pelo debate sobre vídeos. Ou seja, a capacidade imagética da pauta conta muito.
Novas funções foram criadas na Redação, e hoje a equipe diretamente envolvida com roteiros, produção e edição de vídeos conta com 10 pessoas em ZH, que se somam ao time de 17 fotógrafos.
– Em décadas passadas, o fotógrafo trazia a imagem sintética do evento. Hoje, ele precisa contar a história também através de imagens em movimento. Antes, cuidava da composição, da luz, do quadro. Hoje, além desses cuidados para uma boa foto, por exemplo, ele precisa ficar atento ao áudio, detalhe fundamental em um bom vídeo jornalístico – relata Jefferson Botega, editor de Imagem.
– Interessante ressaltar que, nesse contexto multimidiático que o jornalismo vive, a nossa Editoria de Fotografia deu lugar a uma Editoria de Imagem, contemplando fotografia, vídeo e inovações de linguagens e narrativas – complementa Bruno Alencastro, editor assistente de Imagem.
Como se tornou prioridade, vídeo não é uma preocupação exclusiva dos fotógrafos. Pode-se dizer, sem exagero, que todo mundo na Redação está envolvido nisso. Editores precisam prever vídeos em seus conteúdos.
Colunistas transmitem suas informações também por vídeos. Webdesigners criam e editam videográficos.
– Para mim, tudo mudou, em termos de vídeo, no dia em que o editor Rodrigo Müzell me pediu um sobre superávit primário, assunto bastante árido. Inacreditavelmente, ele ficou entre os mais vistos. Agora, várias vezes vídeo é a primeira coisa que eu faço. E me orgulho muito quando vão bem, não por mim, mas pelo interesse no assunto – diz a colunista de Economia, Marta Sfredo.
Além dos colunistas, cada vez mais os repórteres gravam vídeos com smartphones, os editam e os entregam prontos, ancorando suas reportagens.
– Fazer vídeos com o iPhone e editar sozinha, da rua mesmo, tem sido uma forma de complementar o texto, construir a história sob outro viés, mais informal, incluindo um pouco dos bastidores – diz a repórter Lara Ely, que tem tido sucesso também nas redes sociais com suas produções. Uma delas, publicada em julho, teve alcance de 1 milhão de pessoas.
Assuntos do dia a dia, como as recentes cheias, são complementados por vídeos da Redação, e também por imagens enviadas pelo público.
– Cobrimos as inundações em todo o Estado com imagens aéreas dos locais atingidos, e também muita colaboração de leitores, levando quem assiste aos vídeos para dentro da notícia – explica o produtor Felipe Costa.
– Além dos conteúdos diários, factuais, estamos investindo em produções diferenciadas, programas especiais e séries. Com a priorização dos vídeos em ZH, um cronograma está em desenvolvimento para garantir entregas que gerem impacto para o leitor, agora também espectador – explica a coordenadora de projetos de ZH, Sabrina Passos. Ela relembra exemplos como a produção Matopiba Tchê, que virou série no programa Campo & Lavoura, da RBSTV, o documentário Inferno na Terra Prometida (sobre os imigrantes haitianos) e a websérie Entra na Sala, protagonizada pela colunista Fernanda Pandolfi.
– Alguns vídeos especiais, como o da reportagem Inferno na Terra Prometida, têm chamado atenção pelo tempo de engajamento das pessoas ao assisti-los: mais de oito minutos, em alguns casos, quebrando o paradigma de que as pessoas só assistem a vídeos curtos na web – assinala Bruno Alencastro. – Ou chamam atenção pelo número de visualizações, como o vídeo da primeira partida com torcida mista no Beira-Rio, que já foi assistido 1,4 milhão de vezes.