Com o olhar de quem trabalhou no setor de software de gestão empresarial para 16 países, de todos os continentes, o consultor Ernani Ferrari, fundador e sócio da Mondo Strategies, de Joinville, diz que o Brasil enfrenta barreiras para avançar no setor em função da falta de domínio do inglês e do apagão de mão de obra. Mas um dos novos mercados rápidos que estão oferecendo oportunidades, especialmente a empresas pequenas, é o de sistemas para iPhones e outros aparelhos tecnológicos.
Fundada há cinco anos em Joinville, a Mondo Strategies acumula uma carteira de 30 clientes de consultoria e 20 de programa de capacitação. No mês passado, abriu escritório em Boston, EUA, que tem entre os clientes a gigante Microsoft. Na entrevista a seguir, Ferrari fala da evolução da sua empresa, do setor de software e de redes sociais.
Perfil: Ernani Ferrari
Fundador e consultor-chefe da Mondo Strategies, de Joinville, empresa de consultoria ao setor de software. Ernani Ferrari é paulista de Taubaté, técnico em eletrônica e administrador de empresas com pós-graduação em produção e marketing pela FGV-SP. Tem 22 anos de atuação em processos de software e negócios, foi diretor de Desenvolvimento para a América Latina da SSA Technologies, dos EUA, terceira maior empresa mundial de ERP (software empresarial) e diretor da QAD na Califórnia, outra grande do setor. Atuou em 16 países, nos cinco continentes. Antes de fundar a Mondo foi diretor da Datasul. É casado e pai de dois filhos, Breno (14 anos) e Pietro (11). Nas horas de lazer, gosta de ler e jogar xadrez com os filhos.
A Mondo Strategies completou cinco anos em consultoria de software. Quais são os focos?
Ernani Ferrari – A gente trabalha com três grandes focos para empresas de software, cobrindo todas as áreas: gestão estratégica, que inclui os processos operacionais, a parte de comercialização e marketing, e internacionalização dos produtos, processos e apoios. Completamos cinco anos de atuação com uma carteira de 30 clientes de consultoria, de processos e de estratégia e outros 20 clientes de programa de capacitação. Estamos internacionalizando porque não há ninguém no Brasil e fora muito pouca gente tem o que oferecemos. Trabalhei com isso durante 14 anos na Europa, EUA e Ásia e sei que é muito difícil encontrar essa especialização.
Por que escritório nos EUA?
Ferrari – No mês passado a gente inaugurou um escritório em Boston. Montamos um programa de trabalho que vamos fazer com a TechAmerica, a maior associação de empresas de tecnologia dos EUA. Vamos começar um programa com eles, de capacitação e palestras, tentar dar os primeiros passos trabalhando com o mercado norte-americano, que é muito grande e, principalmente para essa parte de internacionalização. Até porque a gente vem atuando com grandes empresas americanas. Ao mesmo tempo que é desprovido desse tipo de consultoria local, é um país que produz muito software e investe pesadamente no mercado internacional. Para nós, é um mercado bastante rico.
E a cliente Microsoft?
Ferrari – A Microsoft é um cliente recente dessa parte de internacionalização. A gente atuou junto com a solução da empresa NetSuite, com um modelo de software de gestão empresarial como serviços, que não fica instalado na casa do cliente, mas de onde ele quiser, ele acessa da internet. É a empresa que mais cresce no mundo, hoje.
Como estão as exportações brasileiras de software?
Ferrari – De maneira geral, as exportações de software no Brasil estão bastante lentas, mas têm um potencial grande. Há umas quatro semanas, foi publicado, nos EUA, um mapa apontando os principais provedores internacionais de software e, pela primeira vez, o Brasil apareceu nesse mapa. A gente começa a aparecer e ganhar algum reconhecimento internacional alavancado pela visibilidade do Brasil como uma das grandes nações emergentes no mundo. Mas não temos muitas empresas fazendo incursões fora do Brasil.Algumas têm um certo sucesso, mas a gente não tem uma infraestrutura, de maneira geral, para suportar, começando pelo idioma. E como o Brasil cresceu, mais empresas de fora querem avançar aqui.
Como avalia o apagão de mão de obra para tecnologia?
Ferrari – O problema é muito sério. Tenho contato com muitas empresas de software e quase a totalidade está à procura de algum tipo de mão de obra. Isso tem limitado o potencial de crescimento das empresas, limitado a capacidade de entrega e atendimento em relação a seus clientes. Ocorre porque a gente tem um sistema de ensino que ainda fica devendo em relação ao que as empresas realmente precisam. Elas acabam tendo que capacitar ou contratar por salários mais altos. A solução passa pela melhor qualidade da educação.
A série de produtos tecnológicos oferece mais oportunidades ao setor?
Ferrari – Com relação aos novos dispositivos eletrônicos, os iPhones da vida, existe mercado bastante grande, muita gente pequena trabalhando, desenvolvendo soluções para aparelho de auto consumo, baixados da internet, a custos baixíssimos e faturamento alto. Quando você vê números expressivos como 100 mil, que te liga a um negócio por menor que seja, a gente vê que existem oportunidades de negócios expressivas e um número de usuários muito rápido. Há, também, oportunidades no Brasil para os dispositivos móveis.
Quais as vantagens e riscos das redes sociais?
Ferrari – O crescimento das redes sociais tem sido vertiginoso e acredito que as empresas estão até explorando esse tipo de veículo com uma certa riqueza. Você entra num site, elas já têm Facebook, Twitter, blog, os profissionais atualizam, dão informações, muitas empresas têm usado essas ferramentas de comunicação e alavancado negócios. O que a gente acredita é que vai ser muito difícil as empresas não se valerem desses recursos. Mas o que o mundo está vendo, nos últimos meses, é o lado negativo desse uso – que é a exposição de imagem.
Notas
Exportações
Com mercado restrito para exportar software em função da limitação do idioma, especialmente do inglês, há empresas brasileiras que aproveitam os países que falam português para vender lá fora. O empresário Ernani Ferrari diz que as principais oportunidades desse nicho estão em Portugal e Angola, mas é um mercado pequeno, sob qualquer parâmetro. Há algumas exportando softwares empacotados como sistema de RH e de comércio internacional. Outra opção é exportar com o cliente, ou seja, a empresa tem filial lá fora e usa o mesmo software do Brasil.
Educação
O apagão de mão de obra no Brasil, para a área de tecnologia, é resultado da falta de educação de qualidade. O problema acaba resultando em custos maiores para o setor privado, que precisa formar seus profissionais. Conforme Ernani Ferrari, no Primeiro Mundo uma segunda língua se aprende na escola. No Brasil, ninguém faz o segundo grau sabendo uma segunda língua. Salvo quem tem recursos e oportunidade para estudar. Ferrari diz que há centenas de vagas a serem preenchidas e o idioma é um dos obstáculos.
Imagem
Sobre os riscos de exposição de imagem nas redes sociais, o empresário cita o caso de uma empresa que está enfrentando críticas de um cliente que recebeu um produto com defeito. Esse cliente abriu um blog especialmente para denegrir a imagem do seu fornecedor. E essa empresa, talvez, não tenha amparo legal para impedir que ele continue com as críticas.