A indústria náutica catarinense poderá alcançar, em breve, a liderança no Brasil. É com esta visão que o diretor-geral do Ministério Italiano do Desenvolvimento Econômico, Pietro Celi, esteve no Estado, nos últimos dias, participando de seminário na Exponáutica, em Biguaçu. O foco foi fomentar joint ventures de empresas da Itália e de SC.
Por que a Itália busca parceria com o setor náutico de Santa Catarina?
Pietro Celi – A Itália detém uma posição importante no setor náutico, o primeiro ou o segundo lugar em nível mundial. O país tem excelência na produção de lanchas e iates, incluindo projeto, design, construção de embarcações, acabamentos internos e acessórios. Neste momento em que a náutica de países mais ricos enfrenta dificuldades, a Itália se destaca em megaiates, embarcações com 25 metros ou mais. Este ano, deverão ser produzidos no mundo, 700 unidades dessas embarcações, e 50% estão sendo feitos em estaleiros italianos. Nos últimos cinco ou seis anos, a Itália tem mantido a liderança na produção desses megaiates. Santa Catarina apresenta potencialidade significativa na náutica de lazer. E, neste momento em que o Brasil está consolidando o seu crescimento econômico, o Estado, é o segundo maior polo náutico do país, atrás de São Paulo. Com investimento, colaboração, tecnologia e know-how italianos, o Estado pode se constituir no primeiro polo de indústria náutica do Brasil.
Duas empresas italianas já produzem aqui, a Sessa Marine e a Azimut. Outras poderão vir para produzir em SC?
Celi – É este o objetivo pelo qual estamos conversando com o governo catarinense e buscando parceria com o setor privado. Depois da experiência dos investimentos – Azimut-Benetti e Sessa Marine –, vemos uma condição favorável para que outras empresas italianas possam investir em SC. Investir significa produzir aqui e não importar da Itália. A intenção é produzir tudo, inclusive peças e equipamentos.
Como está o setor náutico italiano nesta fase de crise europeia?
Celi – Neste momento, o ponto positivo são as exportações do setor. Cerca de 55% da produção italiana está sendo vendida fora do país. Os maiores compradores são os Estados Unidos, países do Mediterrâneo e o Brasil, que é um dos cinco ou seis melhores mercados do setor. O Brasil importou cerca de US$ 200 milhões, no ano passado, em iates e lanchas. Desse total, cerca de US$ 80 milhões foram relativos a megaiates feitos na Itália.
Santa Catarina tem interesse em parcerias com outros setores da economia italiana, entre os quais moda, alimentos, móveis, máquinas e infraestrutura. Há interesse de empresas do país em investir mais aqui?
Celi – Temos produtos excelentes nos setores de alimentos, mobiliário, moda e outros. Mas é difícil vender ao Brasil em função dos altos impostos e taxas para importação. Exportamos muitas máquinas, especialmente ao setor têxtil. Temos interesse em investir mais em infraestrutura, obras para a Copa e Olimpíada. Uma empresa italiana que já atua em obras da Copa é a Tecnogym, líder mundial em equipamentos para academias.
A economia italiana está em recessão. Quando voltará a crescer?
Celi – O período de maior dificuldade já passou. Hoje, a economia da Itália está numa fase de recuperação, e a expectativa é de que, a partir da metade do ano que vem volte a crescer, inicialmente 0,5%.
A Itália, a exemplo dos EUA e outros países, tem muitas indústrias produzindo na Ásia, o que reduz a atividade econômica nas suas matrizes. Nos EUA, se fala em trazer parte da produção de volta. A Itália pode fazer o mesmo?
Celi – A Itália transferiu uma parte da produção para outros países, mas teve o cuidado de manter as atividades mais diferenciadas para ter competitividade e manter ocupações. Se faz no nosso país o design, a criação. Quando houver condições econômicas melhores do que as atuais, a expectativa é de que as empresas voltem a produzir mais na Itália.
Notas
De Messina
Pietro Celi nasceu na cidade de Messina, Sicília, Sul da Itália. É graduado em Ciências Políticas na Universidade de Messina, com foco em política internacional. Ingressou no Ministério de Relações Exteriores e, mais tarde, cursou a conceituada Escola Nacional de Administração (ENA) da França. Segundo ele, essa instituição proporcionou uma diferenciação significativa na sua formação.
A propósito, a Esag de Florianópolis tem uma filial da ENA.
Na OMC e OCDE
Entre os trabalhos que Pietro Celi desenvolveu, sempre na carreira pública, estão negociações para a Itália no âmbito do GATT, atualmente a Organização Mundial do Comércio (OMC) na área de serviços. Depois, foi representante da Itália na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), encarregado dos contatos com a América Latina, especialmente com o Brasil. Hoje, no ministério, trata da colocação de produtos italianos e promoção de empresas do país no exterior.
Navegar é preciso
Natural de uma cidade à beira-mar, Pietro Celi diz que é apaixonado pelo mar. Revela que tem uma pequena embarcação para navegar em Messina. Em SC, ele conheceu a lancha C40 (foto), feita pela italiana Sessa Marine com a Intech Boat, de São José. A joint venture já produziu 35 embarcações este ano. Ele aproveitou para fazer um passeio marítimo na região de Florianópolis.
Grupos de peso
Pietro Celi mostra orgulho ao falar sobre a presença de grandes grupos italianos no Brasil. Cita a Fiat e a fabricante de pneus Pirelli, que são consideradas empresas brasileiras. Recentemente, ele esteve em Minas Gerais para a inauguração de uma expansão da Fiat. A montadora atingiu a liderança nacional, com 23% do mercado.