Destaque da programação do 8º FestFoto, o americano James Estrin é editor do Lens, o ativo blog fotográfico do New York Times, que reúne ensaios, slideshow e vídeos de profissionais do próprio jornal e de colaboradores de todas as partes do mundo.
As fotos desta publicação fazem parte de sua série Observance, sobre experiências espirituais e religiosas. Por e-mail, ele respondeu aos questionamentos do editor do Caderno PrOA, Carlos André Moreira, e do repórter fotográfico Bruno Alencastro.
Boa leitura!

Em 2001, o senhor participou da equipe do New York Times que venceu o Pulitzer com a série How Race is Lived in America. Este ano, as duas categorias de fotografia do Pulitzer premiaram séries em vez de uma única imagem. Com essa tendência, é mais difícil obter aquela imagem única?
Nos últimos 15 anos, a maioria dos vencedores do Prêmio Pulitzer inscreveu séries de múltiplas imagens. Presumo que é uma tendência que vai continuar. A internet deu aos fotógrafos a oportunidade de publicar muitas fotos sem as limitações de espaço de impressão. Contar histórias com imagens múltiplas tornou-se mais comum, o que, penso, é uma boa coisa. Ao mesmo tempo, imagens individuais tornaram-se menos importantes, o que é lamentável, porque haverá menos fotos icônicas. Haverá no futuro imagens únicas de que todos nós nos lembraremos, como a tirada por Nick Ut da jovem Kim Phuc correndo nua pela estrada depois de ser atingida por Napalm durante a guerra do Vietnã? Tenho a sensação de que a força de uma única imagem diminui devido ao número surpreendente de imagens que vemos todos os dias na internet.

Fala-se muito da crise do jornalismo impresso, mas essa crise parece não se estender ao fotojornalismo. A imagem pode migrar com mais qualidade e impacto para o meio digital?
Em alguns aspectos, a fotografia é mais importante do que nunca, porque a internet tem base visual e todo mundo está tirando fotos com seus telefones celulares e compartilhando-as nas mídias sociais. Assim, as fotos são talvez mais importantes hoje do que nunca, o que torna às vezes difícil para os fotógrafos profissionais ganharem a vida com suas imagens.

Apesar do amplo desenvolvimento das câmeras de celulares – que hoje podem ser comparadas com as câmeras digitais – as pessoas têm o hábito de alterar suas imagens com aplicativos e filtros que as deixam com um aspecto de antigas. Seria uma tentativa de buscar alguma originalidade em meio à enxurrada de imagens que são compartilhadas hoje?
Sou um grande fã dos smartphones, e não acho que faz diferença qual câmera você usou para capturar uma imagem. Entretanto, ando cansado do uso excessivo de aplicativos e filtros para alterar imagens. Uma imagem forte tem de se sustentar por si mesma.

Na sua opinião, a popularização e difusão de imagens ajuda ou atrapalha o desenvolvimento de uma educação visual para o leigo?
Essa é a questão central para os fotógrafos de hoje. Há centenas de bilhões de fotos tiradas a cada ano com smartphones e postadas em mídias sociais como Instagram, Snapchat e Facebook. Isso significa que todas as fotos têm o mesmo valor, porque receberam “likes” de muitas pessoas, ou será que o fato de que todo mundo é um fotógrafo vai levar essas pessoas a se interessarem mais pelas imagens dos “fotógrafos sérios”? Eu sou um otimista. Acredito que haverá mais pessoas do que nunca interessadas em fotografia.

Em outubro de 2013, o senhor publicou um artigo na National Geographic defendendo que a democratização da fotografia será benéfica para a própria democracia. Mas como se encaixam, neste cenário, os países que monitoram, limitam ou até mesmo bloqueiam o acesso a determinados sites e imagens?
Ditaduras tentam bloquear a internet e as mídias sociais precisamente porque pensam que palavras e imagens têm efeito e são um perigo para quem quer ter controle sobre sua população. Longe vão os dias em que os ditadores podiam controlar apenas um punhado de jornais e estações de TV e rádio. Na maioria dos países, é uma batalha perdida censurar a internet.

O senhor ainda consegue se surpreender com as fotos que recebe todo dia para publicação, entre centenas enviadas por profissionais e amadores ao redor do mundo? Que tipo de imagem o fascina?
Sempre fico mais interessado nas imagens que me fazem sentir alguma coisa. Qualquer coisa. Elas podem me fazer rir ou chorar. Ou, pelo menos, nas imagens com as quais eu aprendo algo que me faz olhar para as coisas de uma maneira nova. Eu provavelmente vejo mais de 6 mil projetos por ano, e posso dizer com segurança que há trabalhos magníficos e inovadores sendo realizados por fotógrafos ao redor do mundo.

O senhor conhece o trabalho de algum fotógrafo brasileiro?
Admiro as imagens que Rogério Reis fez do Carnaval e que publicamos no blog Lens. Gosto também de muitos trabalhos de Claudio Edinger, incluindo suas fotos de um hospital psiquiátrico de São Paulo que também já publicamos. Preciso, é claro, acrescentar Sebastião Salgado. E temos publicado com frequência fotos de Maurício Lima, que fotografa para o Times e é um excelente fotógrafo.

Para além da necessidade de trabalhar como multimídia, combinando áudio, fotografia e vídeo, quais são os desafios que o senhor vê para os fotógrafos de agora em diante?
Tudo muda tão rapidamente que nós temos que ser ágeis e estar dispostos a nos ajustarmos às novas circunstâncias tecnológicas. Temos de aceitar a mudança constante, para que possamos continuar a contar as histórias que precisam ser contadas. Além disso, precisamos nos esforçar continuamente para encontrar maneiras novas e diferentes para contar histórias de forma que nossas imagens destaquem-se entre os milhares de milhões de outras imagens. Nós também precisamos empurrar as fronteiras da nossa linguagem visual e ao mesmo tempo manter padrões éticos e morais.
