Em entrevista exclusiva ao blog, Massa rebate rótulo de azarado: "me considero um cara de muita sorte"
27 de setembro de 2014 12Em 2008, um título perdido a 500 metros da bandeirada. Em 2009, uma mola na cabeça quase fatal. Nos quatro anos seguintes, um papel secundário na Ferrari dominada por Fernando Alonso. A expectativa com a mudança para a Williams, em 2014, foi abalada após uma série de resultados ruins e acidentes, nos quais não teve culpa na maioria. Azar? Para Felipe Massa, não.
Embalado pela volta ao pódio na Itália, o brasileiro afasta o rótulo de pé frio, mesmo sem vencer há quase seis anos. Para ele, as críticas da torcida são só na internet, nunca “cara a cara”. Em entrevista a ZH, por e-mail, Felipe demonstra confiança. Diz que sua experiência tem sido decisiva para o sucesso da Williams. Elogia o companheiro Valtteri Bottas e até o espanhol a quem teve de deixar vencer na Ferrari. Não fala em se aposentar, mas em “viver o momento”. Mas admite: vencer, neste ano, só se a Mercedes quebrar.
Veja, a seguir, a entrevista na íntegra.
Você foi o único piloto além dos da Mercedes que conquistou uma pole neste ano. Em Monza, na Itália, conquistou seu primeiro pódio pela Williams. Mas, na temporada, teve mais acidentes e problemas do que glórias. Que balanço faz do teu desempenho?
Perdi muitos pontos por coisas que escaparam ao meu controle, como no acidente da primeira corrida, aquele do Canadá, na primeira volta em Silverstone e na capotada na Alemanha. Por tudo isso, poderia estar em situação bem melhor no campeonato. Mas, em relação ao ritmo, acredito que esteja fazendo uma boa temporada.
A Williams deu uma guinada incrível em relação a 2013 e muitos atribuem grande parte dessa reviravolta à tua contribuição e experiência. Quais são as principais diferenças entre trabalhar na Williams e na Ferrari? O que se pode esperar da Williams para o restante do campeonato? Vencer é uma questão de tempo?
Com muita humildade, devo reconhecer que minha vivência tem ajudado. Trouxe uma grande experiência para a equipe, assim como outras pessoas que chegaram até antes e iniciaram a reformulação do lado técnico, como o Pat Symonds e um grupo de engenheiros. Minha experiência tem contribuído em todas as áreas: carro, motor, aerodinâmica… Uma vitória, no entanto, ainda não parece provável, a menos que a Mercedes tenha algum problema, como foi o caso nas três provas que a Red Bull ganhou.
Em 2008, você perdeu o título a poucos metros da bandeirada. Em 2009, foi vítima de uma fatalidade improvável e sofreu um grave acidente. Neste ano, envolveu-se em muitos acidentes que não foram sua culpa. Muitos alegam te faltar “estrela” e te carimbam o rótulo de azarado. Como você vê isso? Até que ponto isso abala sua confiança?
Para quem tomou uma “molada” na cabeça e passou pelo que passei, me considero um cara de muita sorte. Não acredito que isso tenha influenciado na forma como guio.
Os números mostram que teu desempenho foi inferior desde o acidente em 2009, comparado com o período 2006-2008. Até que ponto o acidente influenciou na tua capacidade de pilotar e no teu desempenho na pista?
Não acredito que aquele acidente na Hungria (em 2009) tenha afetado meu modo de pilotar. Continuo o mesmo, arriscando quando é o caso, guiando do mesmo jeito. Passei por uma situação difícil na Ferrari, como todos lembram, mas o que pode ter acontecido depois foram apenas algumas coincidências. Depois, as coisas foram voltando ao normal, como está ocorrendo agora.
Você teve companheiros de equipe campeões, como Michael Schumacher, Kimi Raikkonen e Fernando Alonso. Agora, está ao lado de Valtteri Bottas, um talento da nova geração. O fato de ele estar com mais pontos e ter obtido mais pódios do que você te pressiona? A relação de vocês é tranquila, apesar da disputa interna e do episódio na Malásia, quando você descumpriu ordem do time para deixá-lo ultrapassar? Quem foi o teu melhor companheiro de equipe até hoje?
Bottas é muito talentoso, um piloto capaz de vencer corridas e disputar títulos. Trabalhamos bem em conjunto, ele me ouve, acompanha o que faço, mas também presto atenção nas coisas dele, porque ele tem um ótimo feeling do carro. Dos meus companheiros de equipe, o Alonso, sem dúvida, foi o mais impressionante.
Desde a morte de Senna, a torcida cobra muito dos pilotos brasileiros a conquista de um título. Rubinho foi massacrado, muitas vezes. Depois, você virou o alvo. Como lida com essa situação? Ao mesmo tempo em que você é criticado no Brasil, os italianos te ovacionaram no pódio em Monza. Isso te magoa de alguma forma?
Na realidade, só vejo críticas na internet, que é um mundo muito amplo e aberto. Na rua, cara a cara, nunca tive qualquer problema. É legal sentir o respeito que tenho em todos os países onde vou, não apenas na Itália, mas foi muito legal sentir o carinho dos torcedores em Monza, especialmente numa reta de quase um quilômetro onde as pessoas gritavam meu nome.
Até que ponto as mudanças no regulamento da F-1 para 2014 favoreceram os jovens pilotos? Na Red Bull, por exemplo, Ricciardo vem superando Vettel com naturalidade. Na Williams, Bottas tem mais pontos e pódios do que você. O que se pode projetar em relação a isso para 2015? A tendência é de um nivelamento maior?
Eu não posso reclamar do regulamento. As mudanças podem favorecer os novatos, porque com regras novas é igual para todos. Mas não incluo o Bottas e o Riccardo neste caso. Eles já estavam na Fórmula-1 e estão indo muito bem não por causa do regulamento, mas porque são mesmo talentosos.
A FIA proibiu que a equipe ajude a melhorar o desempenho do carro com instruções via rádio. Para alguns, isso favorecerá os melhores pilotos. Para outros, é renegar a tecnologia e punir a competência dos engenheiros. O que você pensa sobre isso? Até que ponto as tecnologias e a novas regras fazem as corridas serem decididas menos “no braço”?
No começo, era inaceitável, porque não era natural como até perigoso interferir no lado técnico. Proibir a comunicação técnica leva ao risco de que poucos carros cheguem ao final da provas. O piloto depende da equipe na parte técnica. Um freio que superaquece, por exemplo, pode provocar um acidente grave. Para que esse tipo de comunicação fosse proibido os carros teriam de ser bem mais simples. Quanto à proibição de comunicação sobre a parte desportiva, como na forma de pilotar, posição dos pilotos e outras, nada tenho contra. Ela até ajuda os mais experientes.
Quais são seus planos para o futuro na F-1? Até quando pretende seguir na categoria? Poderá voltar a vencer ainda neste ano? Ainda sonha e acredita que pode ser campeão?
Toda vez que entro no carro penso apenas em fazer o meu melhor e, se possível, vencer. Quanto tempo em que permanecerei na Fórmula-1, não sei. Prefiro viver o momento. Enquanto eu puder contar com um carro e uma equipe competitivos vou continuar correndo.
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