Por Elisandra Borba

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A polícia de Cuiabá prendeu na manhã desta quinta-feira (1º) dois homens suspeitos de envolvimento na morte de uma criança de dois anos. O caso repercutiu em todo país, pois a mãe contou no hospital que a criança passou mal após ingerir um achocolatado da marca Itambé. A polícia acredita que o produto foi envenenado por um vizinho da vítima.
O laudo com o resultado da análise ainda não foi divulgado, mas a família contou que a criança ganhou o achocolatado de um vizinho. A Polícia afirma que Adones José Negri, de 61 anos, é suspeito de ter colocado na caixa de achocolatado um veneno usado para matar ratos. O outro preso, Deuel de Rezende Soares, de 27 anos, foi quem furtou a bebida de um mercado.
Entenda o caso
O caso aconteceu em Cuiabá, no Mato Grosso, na sexta-feira (26). A Anvisa suspendeu a venda em todo território nacional do achocolatado Itambezinho após uma criança de dois anos morrer depois de ingerir a bebida. A mãe contou ao hospital que a criança consumiu o produto minutos antes dos sintomas. A polícia civil coletou amostras e encaminhou para análise.
Na segunda-feira (29) foi publicada no Diário Oficial da União uma resolução proibindo a comercialização do produto em todo país. Trata-se do lote 21:18 (val.: 21/11/2016), da Bebida Láctea UHT Chocolate, 200ml, marca Itambezinho, fabricado pela Itambé Alimentos.
Itambém emite nota contando o que aconteceu
Em nota, a Itambé afirma que a investigação apontou que Adones José Negri, de 61 anos, injetou em cinco caixas de achocolatado um defensivo agrícola, também usado para matar ratos. A intenção seria se vingar do outro preso, Deuel de Rezende Soares, de 27 anos, que constantemente furtava alimentos de casas e estabelecimentos comerciais da região.
Deuel teria furtado as caixas de achocolatado da casa de Adones e vendido à mãe do menino de dois anos, que morreu. Confira a íntegra da nota da empresa:
“Ação conjunta soluciona caso de envenenamento que matou criança em Cuiabá
Investigações conduzidas pela Polícia Judiciária Civil, em conjunto com a Perícia Oficial e Identificação Técnica (Politec), apontaram que o menino R.C.S.S, 02 anos, que morreu após a ingestão de uma bebida achocolatada em Cuiabá na quinta-feira (25) foi vítima de envenenamento. Na manhã desta sexta-feira (01) foram presos dois homens suspeitos de participação no evento.
A apuração revelou que Deuel de Rezende Soares, 27 anos, usuário de drogas e que constantemente subtraía produtos alimentícios de casas e estabelecimentos comerciais da região do bairro Parque Cuiabá, realizou o furto de 05 caixas de bebidas achocolatadas de duas marcas na residência de Adônis José Negri, 61 anos.
Segundo as investigações conduzidas pela Delegacia Especializada de Defesa da Criança e do Adolescente (Deddica), essa não seria a primeira vez que Deuel furtava o local, tanto que o proprietário da casa teria ameaçado o suspeito na semana anterior ao crime.
“Revoltado com os constantes arrombamentos à sua residência, Adônis arquitetou a vingança fazendo uso de uma seringa para injetar o veneno nas bebidas, para deixar como uma espécie de isca para Deuel. Ocorre que Deuel não fez uso do produto, mas vendeu o produto à mãe do menino envenenado, D.C.S, 28 anos, pelo valor de R$ 10”, explica o delegado titular da Deddica, Eduardo Botelho.
LAUDO
O laudo toxicológico da Perícia Oficial e Identificação Técnica (Politec), realizado pela Diretoria Metropolitana de Laboratório Forense, deu positivo para envenenamento nas amostras de achocolatado encaminhadas pela PJC e no material biológico da criança que morreu após ingerir a bebida.
O exame pericial detectou a presença da substância Carbofurano nas cinco caixas de achocolatados de duas marcas diferentes.
A substância é o princípio ativo encontrado em pesticidas utilizados para controle de pragas em lavouras, e comumente aplicado como veneno de rato. A técnica utilizada pelos peritos foi a Cromatografia Gasosa e Espectrometria de Massas.
Após pesquisa minuciosa, os peritos conseguiram descartar a hipótese de contaminação biológica por bactéria ou fungo, decorrente do processo de fabricação, e identificar a contaminação externa através de um furo compatível com agulha de seringa na parte lateral superior de cada embalagem.
“Unindo o histórico da morte da criança que veio a óbito muito rápido, e os sintomas apresentados, juntamente com o laudo da necropsia, tracei uma linha de pesquisa sobre a classe de venenos que poderiam trazer esses efeitos, antes de detectá-los no exame”, explicou o perito crimina Diego Viana de Andrade.
Ainda de acordo com o perito, o conteúdo gástrico coletado no estômago da vítima era visivelmente semelhante com o achocolatado enviado para análise.
“Primeiramente a substância foi encontrada no material biológico coletado no aparelho digestivo da criança e, em seguida, a mesma substância estava presente nas cinco embalagens encaminhadas à perícia. Os furos encontrados nas embalagens de achocolatados foram fundamentais para esclarecer que era um caso de contaminação criminal do produto alimentício e o laudo pericial foi definitivo para o desfecho da investigação’’, disse o perito.
PROVIDÊNCIAS
Após representação da Polícia Judiciária Civil, foram expedidos mandados de busca e apreensão e dois de prisão pela 14º Vara Criminal de Cuiabá.
As ordens judiciais foram cumpridas por policiais civis da Deddica na manhã desta sexta-feira (01), com acompanhamento de peritos da Politec que recolheram amostras na geladeira da casa de Adônis a fim de confirmar o veneno utilizado na ação criminosa.
Durante a ação conjunta, outros materiais foram apreendidos na casa de um dos suspeitos, sendo uma bandeja supostamente utilizada na manipulação do veneno, um vestígio de achocolatado dentro da geladeira e outras embalagens lacradas de achocolatado. Todos os materiais estão em análise. A seringa e a substância aplicada não foram localizadas na residência.
Adônis foi autuado por homicídio qualificado com emprego de veneno, além de homicídio tentado já que existe um amigo da família do menino que ainda está internado em unidade hospitalar após ingerir a bebida. Deuel vai responder por furto qualificado, e o procedimento investigativo será conduzido pela Delegacia Especializada de Roubos e Furtos (Derf), de Cuiabá.
Após interrogatório, os dois suspeitos serão conduzidos ao Centro de Ressocialização de Cuiabá (CRC), onde ficarão à disposição do Judiciário.”
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