Alvaro Machado analisa o enredo de uma das favoritas ao Carnaval do Rio de Janeiro 2013, Unidos de Vila Isabel. Confira:
“Embalada por um dos mais belos sambas de 2013, na minha opinião o melhor, e apresentando um dos melhores enredos de 2013, na minha opinião o melhor, a Vila Isabel se credencia novamente à conquista do título do carnaval carioca. A Escola de Martinho, decidiu levar para a avenida um dia na vida de um lavrador.
Até ai, tudo poderia parecer óbvio e até certo ponto, cansativo. Mas, pelo olhar da carnavalesca o enredo nos chega cheio de simbolismos, retratando mais que a riqueza gerada pela agricultura, a riqueza expressa pelo personagem central da história, o agricultor, desde seu despertar diário, o som do sino da igreja que anuncia uma nova jornada, o trabalho árduo da enxada, os frutos plantados e colhidos da terra, a luz do lampião que clareia à noite, o encontro com os amigos, a reunião festiva ao anoitecer com sua gente.

É uma forma extraordinária de contar a importância do trabalho do campo, do plantar, do colher, do gerar riqueza. Nada é mais adequado do que contar essa história narrando o cotidiano daquele que faz surgir da terra seu sustento e uma das principais riquezas do Brasil.
Além do samba e do enredo, a Vila tem Rosa Magalhães, que parece ter reencontrado o caminho dos grandes desfiles que já realizou. E digo isso pelo cuidado que percebi na escolha do tema, na forma de apresentação do mesmo, nas possibilidades plásticas que ele transmite, transformando o fruto que surgirá da terra, do roçado, do interior do Brasil, em um fruto cheio de poesia.
Porém, o que me chama mais a atenção no enredo é a ideia de trazer ao centro dessa história seu personagem principal, conduzindo a narrativa. Correto, como falar da agricultura sem falar do agricultor e de seu mundo particular, cheio de sons, lugares, ideais e representações? Me parecem sinais de que teremos um desfile emocionante, que nos levará além do fato de falar da agricultura, transformando o agricultor no grande responsável pela “cara” do Brasil, seja ela uma cara mestiça, negra, índia ou oriunda de imigrações.

É essa a cara responsável pelo fruto da terra de onde se plantando tudo dá, pela certeza de colocar mais água no feijão para acolher o visitante, por trabalhar não apenas a terra mas o coração, tirando de suas mãos a música das violas do campo. Isso aqui é um pedaço do Brasil, expresso por uma Escola que luta pelo seu espaço como campeã e que ano passado, perdeu essa posição por muito pouco.
E não vai faltar a súplica pela chuva, a fauna e flora de nossos interiores, o Brasil com a cara do caipira, do sertanejo, do agricultor. E o samba, que brotará da Vila, unindo todos ritmos desse Brasil para homenagear a figura central do enredo.
Parabéns Vila Isabel pela escolha do enredo. Parabéns Rosa Magalhães pela tradução desse enredo em mais uma lição de como fazer um tema que pode parecer duro e óbvio em algo mágico, poético, que nos enche de expectativas do que poderá surgir e que possibilitou esse samba fantástico que encerrará os desfiles do grupo especial em grande estilo.
Como o samba já nos diz, a Vila vem colher felicidade ao amanhecer. Essa é minha impressão clara. A Vila plantou um enredo e um samba fantástico e, deverá colher seus frutos.”