O domingo histórico para o mundo aqui em casa marcou também um mês da morte de minha mãe. Batalhadora pela justiça e liberdade como era, com certeza ela iria querer estar lá na Praça da República, em Paris, onde estivemos juntas tantas vezes, com os braços erguidos, caminhando e cantando a Marseillaise. Porque a dona Ivone mal arranhava o francês, mas o hino da França ela sabia cantar inteirinho. Já por aqui, eu sigo com as lembranças e a saudade aumentado a cada dia.
Aos 86 anos de idade, Ivone de Oliveira Lemos Ferraz Wosgraus era dona de cultura e consciência política raras, vontade de viver idem. Meu pai, Francisco, dizia que ela sempre acordava adolescente. Em certo sentido – constatei já adulta -, era isso mesmo. Que bênção amar a vida assim! E era também a representante da REBRA – Rede Brasileira de Escritoras, com sede no Rio de Janeiro, sob o comando de Joyce Cavalccante, que já fez homenagem em rede à sua “rebrinha” que partiu.
E tudo estava isolado e vazio em torno do Arco do Trinunfo pois era o dia do resultado da primeira eleição do Sarkozy, e uma hora depois a Avenida Champs Elysés e arredores, estaria tomada especialmente por jovens revoltados com a derrota da candidata socialista, Ségolène Royal, em 2007, quebrando tudo e queimando carros e motos. Alertadas, a essa hora já estávamos no hotel. A imprensa local, e internacional já estava bem posicionada enquanto ainda circulávamos por ali, na cidade da multiplicidade. E que hoje mostrou uma coragem e amor próprio que emocionou junto boa parte do mundo.

Ivone Ferraz Wosgraus, catarinense de Porto União, Norte do Estado; professora, escritora, escultora e pintora que nos deixou há um mês dedicou sua arte ao não preconceito e respeito às diferenças, o que deixou claro em seu livro infantil “O Menino que veio do Céu”
No exercicio pleno da Liberdade, d. Ivone, agora sem passaporte, sem fronteiras, “estava” la’ sim…Ela era Charlie!
Adalberto querido, que lindas palavras e pensamento. Obrigada. Ela sempre teve um carinho imenso por você. Merci!