
Mõnica Filgueiras, Gilberto – organizador da mostra -, eu, Tomie Ohtake e Lygia Roussenq – Foto: acervo pessoal
Lembranças da grande, embora pequena na altura, Tomie Ohtake, que morreu hoje em São Paulo, aos 101 anos de idade. Em 1987 eu era presidente Acap, Associação Catarinense de Artistas Plásticos, na época uma entidade bem ativa e contemporânea, alavancada por Janga, que sempre me incentivou nessa área. A sede ocupava uma parte do andar térreo da Casa da Alfândega. E foi ali, em 1987 (a história está aqui no blog), através de contato com a galeria da Mônica Filgueiras, em São Paulo, e que viria ao Sul com uma inédita exposição de gravuras em metal da Tomie, ela mesma soube e quis vir conhecer a Ilha e expor aqui também. Tomie ganhou reconhecimento por sua arte abstrata, mas como pessoa, embora discreta, era pop.

Uma das gravuras em metal que Tomie expôs em Floripa – Foto: Reprodução
FÔLEGO DE SAMURAI
Ela queria tanto mesmo expor aqui que abriu mão de vários procedimentos usuais, nem a passagem de avião nós precisaríamos pagar. Apenas hotel e algumas coisas em relação ao trabalho, como molduras brancas para as gravuras, convite padrão, todo branco também, e nada mais.
No dia da sua chegada fui buscá-la com minha mãe no Aeroporto Hercílio Luz. Quando a vi descendo pela escada do avião meu coração quase saltou pela boca; Tomie desceu do avião e percorreu o trajeto até a entrada lentamente, no meio do caminho ela se agachou, como se procurando alguma coisa por um bom tempo, segundos que parecia um século, fiquei preocupada, mas logo percebi do que se tratava. Ela queria ver bem de perto uma florzinha entre a grama e a calçada. Essa era a Tomie. A calma como uma oriental legítima, e com uma energia que eu chegava a pensar que ela tinha 15 anos de idade. Naquele dia fomos jantar, no seguinte almoçar, conferir se a montagem da exposição estava como ela queria, e estava, UFA!, e depois visitar o seu amigo catarinense Harry Laus, então diretor do Masc – Museu de Arte de Santa Catarina. E à noite o vernissage, pra lá de prestigiado.
Depois, jantar, claro. Como na véspera Tomie comeu ostras, bebeu caipirinha, e perto dos 80 anos, continuava a mil em disposição. Eu, ela e minha mãe, também animadona. Quando pensei em leva-la ao hotel Tomie me olhou com aquela carinha sorridente perguntado: e pra onde vamos agora?
Foi esta grande mulher e artista que chegou aos 100 anos de idade produzindo, mandou um livro com cartão de agradecimento depois, a gentileza materializada, pura luz, carisma sem ruído.
Foi uma das grandes honras da minha vida e digo e repito, ter sido anfitriã dela e sua exposição em Florianópolis entrou para o meu currículo.

Tomie Ohtake, Harry Laus, eu e Lygia Roussenq, no Masc – Foto: Arquivo pessoal
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Que legal, parabéns! Eu tive um papo bacana com o Harry Laus em Porto Belo. Numa madrugada de um final de ano que não me lembro. O cara era uma figura. Um abraço pra vc que tem o privilégio de contar esse momento bacana com Tomie Ohtake!
Demais Ju Wosgraus. Não sabia disso!!!! Tem mais fotos da exposição?
bjo
Lu
show né? Não encontro mais fotos, muita coisa, na mudança até a gravura que eu tinha dela se perdeu, beijos
Oi Celso, realmente dois grandes, o Harry ainda está merecendo mais reconhecimento, foi o primeiro crítico de arte da revista Veja, era respeitado até na França, ia todo ano dar palestra para escritores, como escritor tb era fera, enfim, esse privilégio destas convivências são mesmo relíquias e que deixaram boas sequelas! Abraço grande