Eis a entrevista com o jornalista, DJ, blogueiro, tradutor e oráculo das amenidades pop Alexandre Matias, nosso convidado do projeto Lero-Lero Musical, que conversará conosco neste sábado, às 19h, na Livraria Saraiva do Shopping Iguatemi. A convergência entre tecnologia e música é um dos assuntos que o chapa adiantou na entrevista publicada na minha coluna Contracapa de hoje, mas que disponibilizo na íntegra aqui. O cara manja, será um excelente papo, ainda mais que depois ele, juntamente com o parceiro de carrapetas, Luciano Kalatalo, pilotam a estréia da festa Gente Bonita, Clima de Paquera lá no Drakkar Fusion.
Mas não esqueçam também que o Matias estará conversando com os internautas no chat promovido pelo Diario.com a partir das 17h deste sábado. É só clicar aqui e participar.
Abaixo, Matias abre o jogo e solta a boiada!
Contracapa _ Com a difusão da música digital percebe-se que um grande cenário se descortinou para às bandas independentes, mas pelo menos aqui no Brasil, as rádios ainda se mostram um tanto quanto restritivas quanto a possibilidade de incorporar este universo à sua programação, restringido-se às recomendações das gravadoras. Seria corre presumir que as rádios, por conta deste anacronismo, se tornarão dispensáveis, haja vista as possibilidades de divulgação ofertadas pela Internet?
Alexandre Matias _ Acredito que a internet se tornará o novo rádio. Para muitos, ela já é. E, como no caso da crise do disco, a culpa é das próprias rádios, que hoje soam cada vez mais formulaicas e parecidas entre si. Essa mesma falta de visão de longo prazo que apressou a morte do CD também mudará o cenário dos rádios e das TVs.
Contra _ O futuro da rádio está na Internet? Até que seria uma possibilidade interessante, pois neste caso, você não necessita do %22cabresto%22 da concessão pública! O que você acha?
Matias _ Acho que sim. A gente esquece que o Brasil tem 120 milhões de linhas de telefone celular e esses aparelhos estão cada vez mais com cara de computador. Em 2008, veremos o primeiro passo da troca de dispositivos _ sai o computador de mesa e entra o computador móvel, que pode ser o celular. Aí é questão de saber como fazer o público brasileiro ouvir rádio no celular.
Contra _ Pois é, é fato que a internet facilitou muito o poder de fogo das bandas independentes e iniciantes no que diz respeito à promoção e difusão. Mas como tornar esta ferramenta digital também lucrativa para os artistas? É possível mesmo ganhar dinheiro vendendo músicas pela web?
Matias _ Essa é a pergunta da hora. Por enquanto, a resposta diz que é possível ganhar dinheiro vendendo MP3 pela internet, mas não vai ser nem de longe a principal renda do artista. Mas isso tudo pode mudar.
Contra _ Em princípio era o Napster, depois vieram os torrents e, nessa brincadeira, o segmento de compartilhamento de arquivos caminha para aonde?
Matias _ Para o fim do download. O YouTube é uma prova de que você não precisa mais baixar as coisas no seu computador – basta entrar no site e assistir o quanto quiser. Com conexões cada vez mais rápidas e HDs cada vez mais potentes, hoje em dia você acha qualquer música que quiser em questão de minutos, a partir de qualquer computador. Quando inventarem algo que substitua essa pirataria ainda considerada ilegal por um serviço de assinatura de conteúdo, como a TV a cabo, não tem porque você carregar um monte de gigas de MP3s em seu computador pessoal.
Contra _ Sua festa, Gente Bonita – Clima de Paquera, foi apontada como uma das 10 mais pelo jornal Folha de S. Paulo. Qual é a química?
Matias _ De tudo. O mashup é o gancho da festa, pra quem não sabe, mashup é um tipo de remix que junta duas músicas diferentes num mesmo espaço – o vocal de uma com o instrumental de outra. Mas não vamos ouvir só mashup. O truque é que se duas músicas completamente opostas – como Michael Jackson e Eminem ou Madonna e Pixies – podem ser ouvidas ao mesmo tempo, por que não estender esse conceito todo para a pista inteira? Então a Gente Bonita não é uma festa de rock, nem de música eletrônica, nem de música brasileira, de rap, nem indie, nem black ou de anos 80. A gente toca de tudo – o importante é fazer o povo se divertir e dançar.
Contra _ E por falar em mashup, este gênero também suscita muitas polêmicas, principalmente no que diz respeito aos direitos autorais. Este também não seria um outro dogma fadado à desintegração com a música digital?
Matias _ Desintegração é exagero, mas certamente o direito autoral está passando por mudanças graves – e necessárias. Com a cultura do remix, o conceito de propriedade intelectual está sendo revisto e é possível que vivamos um futuro em que todo mundo pode acrescentar algo a uma música, a um filme, a um programa de TV. A interação do futuro vai ser mais ou menos assim: %22Acho que essa música ficaria melhor se não tivesse esse solo e tivesse uma menina cantando em vez desse cara%22.
Claro que vai levar tempo – mas esse será o entretenimento do futuro.
O espectador quer sugerir, participar – e não apenas ficar assistindo.
Contra _ Para ter o seu respeito, um DJ precisa tocar house?
Matias _ O DJ precisa tocar música boa para dançar. O pior DJ é o cara que toca só músicas desconhecidas do público para se exibir o quanto ele conhece de música – sem se preocupar se o público está gostando ou não. O DJ é um funcionário da noite e sua função é fazer o povo se divertir dançando. Não tem nada a ver com gênero musical.
Postado por Marcos