
Montagem das estruturas em finais de 1974. Foto: Mauro De Blanco, acervo pessoal de Paulo Bertussi, divulgação

Ao mesmo tempo em que trabalhavam na montagem, operários tinham uma visão privilegiada da cidade. Foto: Mauro De Blanco, acervo pessoal de Paulo Bertussi, divulgação

Os “cachos” e “folhas de parreira” vistos do alto. Foto: Mauro De Blanco, acervo pessoal de Paulo Bertussi, divulgação
Se os 140 anos de imigração italiana, comemorados em 2015, já vem mobilizando a agenda cultural da cidade, imagine há 40 anos, quando a Festa da Uva celebrava o centenário da chegada dos primeiros colonizadores. Em termos de infraestrutura, o grande destaque do ano de 1975 foi a inauguração do emblemático Parque Mario Bernardino Ramos, os Pavilhões da Festa da Uva.
Depois de seis edições (1954, 1958, 1961, 1965, 1969 e 1972) valendo-se de um pavilhão na Rua Alfredo Chaves ( hoje sede da prefeitura), a organização não titubeou: a festa dos 100 anos necessitava de um local maior para atender aos interesses dos expositores. O objetivo era claro: superar em tamanho, repercussão e público as edições anteriores.
Para tanto, uma área de aproximadamente 420 mil metros quadrados, localizada próxima ao Seminário Diocesano Nossa Senhora Aparecida e pertencente à Mitra Diocesana, foi adquirida durante a gestão do então prefeito Mário Bernardino Ramos (1972-1975).
Após a criação e oficialização da empresa Festa Nacional da Uva, Turismo e Empreendimentos, o parque começou a tomar forma. E impressionava, a começar pela vista: uma bela panorâmica da cidade, de onde era possível contemplar uma sequência de prédios subindo diariamente, reflexo do desenvolvimento econômico e daqueles tempos do “milagre brasileiro”.
O espaço também seria suficiente para abrigar dois pavilhões, área de shows e estacionamento.

Fotógrafo Mauro De Blanco produziu um álbum especial sobre a construção do novo parque da Festa da Uva. Foto: Mauro De Blanco, acervo pessoal de Paulo Bertussi, divulgação
A construção em imagens
Um rico álbum de fotos e croquis pertencente ao arquiteto Paulo Bertussi detalha todo esse processo, que se estendeu de dezembro de 1973, quando os estudos começaram, até janeiro de 1975, época em que o parque foi concluído – a festa iniciou oficialmente em 14 de fevereiro daquele ano e estendeu-se até 15 de março.
Conforme relata o jornalista Luiz Carlos Erbes, autor do livro Festa da Uva – A Alma de um Povo, “da cidade não se podia ver a dimensão dos dois pavilhões: eram 34 mil metros quadrados de área construída. Os estandes maiores tinham 456 metros quadrados, um espaço enorme em comparação ao pavilhão que abrigara até 1972 a exposição industrial.”

Hotel e centro de eventos redondo acabou ficando apenas no papel. Foto: reprodução de croqui por Antonio Filippini, acervo pessoal de Paulo Bertussi, divulgação
Toque redondo
Conforme o arquiteto Paulo Bertussi, a intenção da comissão de arquitetos era erguer ainda um edifício que abrigasse eventos de grande porte e, ao mesmo tempo, oferecesse uma infraestrutura para o público se instalar.
- O prédio-hotel teria formato redondo, pois na época tudo que era bacana precisava ter um toque redondo – recorda Bertussi, que dividiu o projeto de todo o parque com os colegas arquitetos João Alberto Marchioro, Rubens Arthur Baldisserotto e Antonio Fernande Filippini.
Acesso pelos fundos
No então chamado “ Concurso de Ideias”, o quarteto recém-formado concorreu com outros desenhos, elaborados pelos próprios professores de faculdade. Um dos pontos inovadores foi a entrada do parque pela Rua Ludovico Cavinatto. Os outros desenhos indicavam o acesso pela Rua Ivo Remo Comandulli, obrigando o visitante a enfrentar um morro até chegar aos Pavilhões.
– Fizemos com que a entrada do parque fosse pelos fundos. Era uma estratégia para driblar a declividade. Parece estranho, mas deu certo, né? – lembra o arquiteto João Alberto Marchioro.

Trabalhos de fundação e terraplanagem dominaram o ano de 1974. Foto: Mauro De Blanco, acervo pessoal de Paulo Bertussi, divulgação
Esqueletos no terreno
Em entrevista ao Pioneiro em janeiro de 2014, o arquiteto João Alberto Marchioro recordou dos trabalhos de quatro décadas atrás. O mais difícil, segundo ele, foi lidar com a topografia declinada do espaço.
- Onde hoje tem o Pavilhão 2 era o campo de futebol dos padres do Seminário Diocesano e, logo atrás, tinha um cemitério de religiosos. Quando as máquinas começaram a trabalhar, encontramos até ossos e esqueletos – recorda.

Até esqueletos foram achados durante os trabalhos. Foto: Mauro De Blanco, acervo pessoal de Paulo Bertussi, divulgação

O parque e o “vizinho” Seminário Diocesano Nossa Senhora Aparecida (à esquerda). Foto: Mauro De Blanco, acervo pessoal de Paulo Bertussi, divulgação
Os 25 caminhões
Já que o tempo para construção da estrutura era escasso (o projeto foi elaborado em nove meses), o grupo emplacou outra inovação que se mostrava ágil e econômica para a época.
Enquanto as máquinas trabalhavam para terraplenar o espaço, a estrutura metálica dos pavilhões era montada em outra empresa, em Curitiba, de forma pré-fabricada. O transporte da estrutura provoca boas lembranças em Marchioro.
- Era de arrepiar. Eram uns 25 caminhões, vindos em comboio, com ferro pendurado e faixas do lado escrito Festa da Uva. Eles desciam a BR-116 e paravam no Imigrante para fazer foto – recorda.

A chegada dos caminhões com as estruturas de ferro vindas de Curitiba. Foto: Scalco, acervo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami, divulgação
O nome
O Parque da Festa da Uva, popularmente conhecido como Pavilhões, leva também a denominação Parque de Exposições Centenário. Oficialmente, chama-se Parque de Exposições Dr. Mário Bernardino Ramos, prefeito de Caxias entre 1973 e 1975 e presidente da Festa da Uva de 1972.
Um dos símbolos temáticos do parque é o telhado, que reproduz o formato dos cachos de uva e das folhas de parreira.
Os arquitetos João Alberto Marchioro, Rubens Arthur Baldisserotto e Antonio Fernande Filippini dividiram todo o projeto e não somente o hotel redondo, como dá entender o texto.
Rodrigo, show, querido e respeitável Jornalista. Tudo de bom e reiterados cumprimentos, extensivos ao Pioneiro.