
Em 1938: Gervis Damian (à direita, de calças curtas), os pais João e Dozolina (sentados) e os sete irmãos. Foto: acervo de família, divulgação
Ele chegou a Caxias em 15 de janeiro de 1950, no dia do aniversário. Na manhã seguinte, começou a trabalhar na antiga Industrial Madeireira, onde por anos acompanhou de perto a saída de centenas de caminhões de madeira que auxiliariam na reconstrução da Europa do pós-guerra. E até hoje descreve, com riqueza de detalhes, o processo de fabricação dos móveis da empresa, cujas portas onduladas fizeram história no design da Serra e nos lares de centenas de famílias.
Falamos de seu Gervis Damian, que nesta sexta (15) celebra 90 anos. A comemoração será em família, ao redor da esposa, Julia, dos cinco filhos – Vera Lucia, Vera Mari, João Luis, Marcia e Nilva -, dos quatro netos e dos cinco bisnetos.
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Julia Argenta Damian e Gervis Damian logo após o casamento, realizado em 1957. Foto: acervo de família, divulgação
O início
Toda essa história remete a 1926, quando nascia em Rio do Cedro, sul de Santa Catarina, o quinto de uma prole de oito irmãos, três homens e cinco mulheres. Filho homem mais novo do casal João Damian e Dozolina Vetorazzi Damian, seu Gervis nunca soube informar de onde a mãe tirou um nome tão diferente, mas lembra que, quando tinha 14 anos, uma grande seca se abateu sobre a região de Rio do Cedro.
A solução para as famílias era buscar algum recurso fora. Com o irmão mais velho, Gervis partiu para Criciúma, a fim de trabalhar nas minas de carvão. Pouco tempo depois, ambos voltaram para ajudar na colheita das terras da família. Foi quando seu Gervis arranjou um novo emprego como marceneiro, aos 16 anos.
Graças a esse aprendizado, recebeu um convite para trabalhar numa fábrica de móveis de Canela, onde chegou com apenas 21 anos, em 1947. Na praça da cidade serrana, ele conheceu a jovem Julia, que tinha ido com um grupo de amigas caxienses passar um final de semana na Região das Hortênsias.
Conversaram e só voltaram a se encontrar durante um passeio de roda gigante na Festa da Uva de 1950. E, logicamente, toda essa história deu em casamento. A união veio sete anos depois, em 1957.
Em 2017, portanto, teremos mais uma comemoração: as bodas de diamante de seu Gervis e dona Julia, juntos há 60 anos.
Nostalgia do verão: os irmãos Damian nos anos 1970.

Ensaio: Gervis Damian (com o violão) e amigos em meados dos anos 1940. Foto: acervo de família, divulgação

Footing dominical: Gervis Damian e um amigo durante um passeio pela Av. Júlio de Castilhos, defronte à Praça Dante. Foto: acervo de família, divulgação

Gervis e sua moto alemã na Av. Rio Branco em meados dos anos 1950. Quando ele chegou à cidade, em 1950, hospedou-se no antigo hotel da família Casara, na esquina da Av. Rio Branco com a Olavo Bilac (o casarão ao fundo). Foto: acervo de família, divulgação
Moto alemã
Nos anos 1950, seu Gervis acompanhou a rotina e os programas obrigatórios da população na área central, como os passeios de final de semana no entorno da Praça Dante Alighieri – o famoso footing.
Por volta dessa época, ele adquiriu também uma moto NSU alemã, 250 cilindradas, integrando-se ao grupo de motociclistas locais (foto acima).
Amantes da velocidade: motociclismo caxiense nos anos 1950.
Anos 1950: flertes dominicais nos arredores da Praça Dante.
Jardins da Praça Dante Alighieri nos anos 1950.

O emrpesário Gervis Damian (o quarto a partir da esquerda) durante uma mostra de sua empresa de móveis na Festa da Uva. Foto: acervo de família, divulgação
Marcenaria em 1954
Em 1954, seu Gervis montou uma pequena marcenaria, produzindo móveis sob encomenda _ ele mesmo projetou e construiu a casa em que foi morar com a esposa, Julia, e onde nasceu a primeira filha, Vera Lúcia.
A qualidade do trabalho logo chamou a atenção de investidores, que o convidaram para fundar uma fábrica de móveis maior e mais moderna. Surgia aí a Marcenaria Andrade Neves, com loja própria e localizada na rua homônima.
Consolidada entre clientes e amigos, nos anos 1970 a empresa cresceu, mudou de nome para Móveis Man e passou a vender para todo o Brasil.
Já em 1983 saiu da fábrica e fundou, com outro sócio, uma nova empresa, a Móveis Mirage, que também atendia a todo o Brasil.
Hotel Avenida: um clássico da Av. Rio Branco.

Fotografar crianças, uma das paixões de seu Gervis Damian. À direita, a filha Vera Lúcia. Foto: acervo de família, divulgação

Nostalgia da infância: quatro dos filhos de Gervis Damian e amigos no final dos anos 1960. Foto: acervo de família, divulgação
Números “de cabeça”
Quando completou 70 anos, Gervis decidiu parar de trabalhar, mas a decisão não durou mais do que 15 dias. Acabou criando uma nova empresa para representação de materiais de construção.
Como bom capricorniano, está até hoje envolvido com trabalho. Inclusive, surpreende a todos pela memória excepcional, guardando todos os números de telefone dos clientes “de cabeça” e contando, em detalhes, muitas das histórias da cidade que adotou para si.
- A vida é muito boa, mas é curta – resume o entusiasta, que nos finais de semana, “pra descansar na chácara”, retoma o passado pegando na enxada para plantar abóboras, feijão, tomates, milho, alface, radicci…
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