Para a população de Antônio Prado, o dia 2 de junho de 1968 pôs fim a uma reivindicação de mais de seis décadas. Há 47 anos, era inaugurada na ERS-122, entre o município e Flores da Cunha, a Ponte do Passo do Zeferino.
Seria a primeira ponte a ser erguida sobre o Rio das Antas, mas divergências políticas entre as cidades de Vacaria, Antônio Prado e Caxias do Sul acabaram por privilegiar a construção, ainda em 1907, da Ponte dos Korff, nos Campos de Cima da Serra. Era o caminho utilizado pelos tropeiros no início do Século 20 para transportar mercadorias ao centro do país e vice-versa.
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O convite
O convite oficial de inauguração, disponibilizado pelo leitor Kleiton Pena, traz um pouco daqueles tempos (foto acima). O programa incluiu a recepção ao governador do Estado, Walter Peracchi Barcelos, pela comitiva do prefeito de Antônio Prado, Luiz Baggio.
Após a missa solene celebrada pelo bispo diocesano Dom Benedito Zorzi na Praça Garibaldi, o grupo participou de um almoço na Gruta de Nossa Senhora de Lourdes. A inauguração oficial só chegou à tarde, quando a obra foi entregue por Peracchi Barcellos e abençoada pelo bispo de Vacaria, Dom Henrique Gelain.
Porém, 15 anos antes, em 13 de agosto de 1953, o jornal A Época já discorria sobre a importância do acesso para a região:
“A construção de uma ponte sobre o Rio das Antas no Passo do Zeferino, entre Flores da Cunha e Antônio Prado, constitui antiga aspiração das populações daqueles dois municípios e de outros núcleos populacionais desta região. Isto porque a travessia do rio, através da balsa existente naquele local, é sempre problemática. Qualquer chuva impede o funcionamento da balsa, causando prejuízos e transtornos entre as localidades situadas aquém e além do rio…”
O Fiador do Rio Grande
Por coincidência, no mesmo ano em que a Ponte dos Korff era inaugurada também nascia Valdomiro Bocchese (1907-1983). Prefeito de Antônio Prado entre 1969 e 1972, Bocchese ficou conhecido como “o fiador do Rio Grande”, nas palavras do historiador Mario Gardelin.
Com a obra da ponte prometida ao povo pradense pelo governo de Hildo Menegheti, mas com o Estado em sérias dificuldades financeiras, o empresário e líder político tomou a dianteira: avalizou a construção da ponte e forneceu material para pagamento futuro. Também hospedou em sua residência parte da equipe técnica durante a construção.
Em 2007, por ocasião de seu centenário, a estrutura passou a se chamar Ponte Valdomiro Bocchese.

Valdomiro Bocchese: empresário e ex-prefeito de Antônio Prado foi um dos maiores incentivadores e custeadores da obra. Foto: banco de dados/Agência RBS
Ironia
Antônio Prado ter sido preterida na construção da ponte – e também ter sido deixada de fora do grande tráfego rodoviário do país a partir dos anos 1930, com a chegada da BR-116 e o abandono da Estrada Júlio de Castilhos – acabou contribuindo por “minar” seu desenvolvimento econômico.
O resultado, porém, foi a preservação de seu riquíssimo patrimônio histórico, considerado o maior conjunto arquitetônico da imigração italiana no Brasil.
Males que, para muitos, vieram para o bem…

Centro histórico de Antônio Prado: atraso no desenvolvimento econômico contribuiu para a preservação do casario tombado. Foto: Fernando Gomes, banco de dados/Agência RBS

Arquitetura da imigração italiana em Antônio Prado é referência nacional. Foto: Fernando Gomes, banco de dados/Agência RBS
A Ponte dos Korff
Inaugurada em 15 de fevereiro de 1907, a Ponte dos Korff, entre os distritos de São Manuel (Campestre da Serra) e Criúva (Caxias), foi declarada patrimônio histórico do Rio Grande do Sul em 2006.
A centenária estrutura foi trazida da Alemanha até o porto de Rio Grande e chegou ao Passo dos Korff em cargueiros. Situada a 39 Km do centro de Vacaria, a ponte não possui parafusos e foi montada com rebites. Tem 108m de comprimento e 19,6m de altura. Seu assoalho é de madeira, e seus pilares, de pedra.

Ponte dos Korff, a primeira do Rio das Antas, foi inaugurada em 1907. Foto: Roni Rigon, banco de dados/Pioneiro

Estruturas de ferro da Ponte dos Korff vieram da Alemanha. Foto: Roni Rigon, banco de dados/Pioneiro
Vila Korff
Na época da construção da ponte, o distrito de São Manuel denominava-se “Vila Korff” (nome do primeiro colonizador) e pertencia ao município de Vacaria.
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