No sábado fez 20 anos que o senador catarinense Dirceu Carneiro entregou a Fernando Collor a decisão do Senado que o afastava da presidência da República e iniciava seu processo de impeachment. De sua fazenda em Campos Novos, Carneiro lembra da forma civilizada como se deu o afastamento do presidente, lamenta a atual falta de consistência ideológica dos partidos e avalia o governo de Raimundo Colombo, que começou na política lhe fazendo oposição em Lages.
Tem orgulho de ter participado do impeachment?
Como primeiro-secretário do Senado, cabia a mim executar todas as decisões. Aquele foi um momento muito contundente da história, um registro forte na minha trajetória. Mas não é algo que eu possa dizer que tenho orgulho, porque foi resultado de um frustração muito forte, de ver que depois de tantos anos sem eleições diretas, foi preciso retirar alguém eleito democraticamente do poder.
Como vê o quadro político atual?
Naquele período o exercício político parecia bem mais contundente e mais definido do ponto de vista ideológico. A medida que foi sendo liberada a organização político-partidária, surgiram diversas siglas sem consistência. O que se vê hoje são muitas letras e siglas e uma verdadeira falência das questões ideológicas. Em 1994, eu fui contra a aliança do PSDB com o PFL por entender que os partidos deveriam se aliar aos do mesmo campo ideológico e não apenas somar esforços em busca do poder. Hoje são todos assim.
Em 1982, Raimundo Colombo foi indicado pelo governo estadual para a função de administrador regional em Lages, quando o senhor era prefeito. Era uma espécie de contraponto à sua gestão. Como o senhor vê o governo dele hoje?
É verdade, eu conheço o Colombo desde o início de sua carreira política. Depois disso, ele passou por diversos cargos, sempre de forma legítima. Hoje, tem feito um governo que não é nem brilhante e nem omisso. É um governo normal, esforçado. Mas ele também é produto dessa confusão ideológica. Se elegeu com o apoio do PMDB que sempre combateu.
Um dos candidatos a prefeito de Lages, Elizeu Mattos (PMDB), trabalhou com o senhor. Tem seu apoio?
Eu apoio Elizeu, gravei para o programa, disse que é uma pessoa que se preparou e que é melhor opção do que o candidato que o Colombo escolheu. Mas tento não me expor muito, porque estou fora da atividade política.
Acredita que o quadro político atual pode mudar?
Vão surgir novas formas de participação, não partidária, com a internet, que permitam outros processos. Participação direta. Não acredito que os partidos possam resgatar uma credibilidade e uma certa isenção que eu sempre achei necessárias para tratar da coisa pública. A gente vê coisas tão ridículas por parte dos escolhidos, dos objetivos partidários e das metas alcançadas que dá até um cansaço.