Essa semana está especialmente corrida. Estamos trocando dia pela noite e trabalhando bastante no Donna Fashion Iguatemi (espero que vocês estejam conseguindo assistir aos desfiles lá no shopping, ao vivo na internet ou mesmo espiando as galerias de fotos do site). Já babei por muita coisa que vi na passarela e estou especialmente encantada pelos vestidinhos curtos com mangas compridas, aqueles que as famosas amam em red carpet. Inclusive, na minha coluna da revista Donna do próximo domingo, eu vou contar onde tem para vender os modelos de couro mais desejados do momento.
Mas o que me traz aqui, de “chambre” (amo essa palavra), sonolenta e com toalha enrolada na cabeça, é outro. Eu poderia estar aproveitando a manhã para dormir até mais tarde, mas vim aqui falar sobre como eu estou magra, feia e dando péssimo exemplo. Palavras, é bom ressaltar, que não são minhas, mas que estão registradas em várias mensagens enviadas a mim durante esta semana.
Por onde eu começo? Hummm. Bom, quem sabe dizendo que falar da minha vida nunca foi problema para mim. Eu contei tudo do meu casamento (as partes boas e os momentos de desespero), eu escrevo aqui que tenho celulite, que acho meu nariz caído e até divido meus dilemas mentais mais profundos. Essa é a Gabi. Quem gosta, passa no blog ou no Facebook, lê, comenta, concordando ou discordando, vai embora e volta de novo. Quem não gosta, não lê, não passa no Facebook ou decide que precisa urgentemente fazer com que eu mude a minha personalidade. Uma moça me escreve direto: “Te valoriza, guria! Para de escrever sobre teus defeitos!”. É um conselho que vale a pena ser observado, porque se a gente só destaca o que acha que tem de ruim, vai ser complicado querer que os outros destaquem o que tu, teoricamente, teria de bom. Deu para entender? Pois então. A questão é que minha celulite, meu nariz, meu salário que não é grandão, minha casa estar de pernas para o ar ou eu estar podre de cansada dizendo que uso chambre, não soam para mim como uma manifestação de defeitos. Quando comento essas coisas, seja em blog, no FB ou com amigas, me sinto mulher. Me sinto real. Melhor: me sinto normal. Quantas de vocês aí têm celulite? E vocês que não têm, parem agora de ler esse texto e levantem as mãos para o céu agradecendo a bênção, viu?
A última rodada de críticas que venho recebendo tem a ver com meu peso. Eu contei, em mais um daqueles posts de abrir o coração, o que aconteceu para que 13 quilos fossem dar uma passeadinha. O que me fez perder peso não foi um evento necessariamente bom, mas o resultado me deixou feliz. Eu vivia lutando contra quilos a mais, já que sou uma glutona de marca maior. Adoro fritura, salgadinho, refrigerante, pizza. Detesto – ou detestava – verdes e frutas. Quando me vi com 10 quilos a menos, peso que eu tinha na época do meu casamento, há quase 4 anos, pensei: “Tá bem. Vou fazer deste limão uma limonada. Eu vou manter meu peso, mas de uma forma saudável, que é como os médicos dizem que a gente tem que fazer”. Foi aí que implantei na rotina 3 hábitos essenciais: agora eu tomo café da manhã (antes eu detestava), bebo água (abasteço minha garrafinha no trabalho o tempo todo) e incluí carnes brancas, vegetais, legumes e frutas no dia a dia. O detalhe importante: passei a gostar desse combo porque não estou comendo nada forçada, com o objetivo de secar, mas sim de alimentar meu corpo com vitaminas e nutrientes que ele não devia ver há um bom tempo. E tem dado certo: meu peso estabilizou, e olha que eu piso na jaca direto.
Um adendo: eu nunca fui uma menina acima do peso. Lá em 2011 eu tive uma fase de 75 quilos, meu máximo na vida. De resto, sempre fiquei ali na casinha dos 64, 65 ou uns 69 quando voltava de viagens (como não comer de tudo na França?). Agora, são 55, o que realmente me dá uma aparência de estar bem mais magra do que antes. Estou feia, segundo alguns leitores (e eu não discordo de vocês, viu? Gosto é gosto e eu tenho espelho em casa para saber que não sou a Gisele Bündchen). Segundo outros, postar fotos minhas no FB está dando péssimo exemplo para as pessoas.
Uou, uou, uou. Peraí. Aqui eu queria a permissão de vocês para discordar um pouquinho.
Eu estou feliz com minha perda de peso? Claro! Voltei a entrar nas roupas que não cabiam mais, me sinto mais confiante para finalmente usar cropped top, que achava lindo, mas detestava em mim. Ontem fui comprar uma saia lápis e a vendedora me analisou de cima a baixo e disse: “Humm, pra ti acho que tem que ser PP”. Até ontem, era G. Quem é mulher sabe que isso é divertido de ouvir. Estar mais magra te permite se vestir de outro jeito, experimentar coisas novas. Mas eu estou mais feliz com a minha nova atitude diante da comida. Estou numa fase de não comer meus sentimentos. Não sento na frente da tevê entediada com um pacote de Oreo só para passar tempo. Mas pego o mesmo pacote de Oreo e vou comer na pracinha perto de casa enquanto o cachorro brinca. Se vai durar? Para ser bem sincera, eu duvido: Gabi rima com bacon. Eu acredito que daqui há um tempo, vou começar a jacar de novo e retornar para aqueles 60 e poucos. Mas enquanto eu conseguir me manter assim, vou vibrar. Me sinto mais disposta, mais energizada. Terei que fazer uma pequena cirurgia para tirar pedras da vesícula e me sinto bem mais saudável para passar por isso aqui do que no tempo que amanhecia tomando Red Bull.
Esse blog não vai virar fitblog, com dica de comida saudável que preparei em casa com 3 brotos de bambu e um fio de azeite. Mas se um dia eu descobrir que bambu com azeite é bom (o que duvido), juro que posto a receita. Nem que seja para alguém copiar em casa jogando um monte de fatias de queijo cheddar em cima (essa receita fica cada vez mais nojenta).
Eu tenho 36 anos e uma pele bem cascudinha no que diz respeito a xingões, ofensas na internet. Sei separar o que é estupidez pura e simples, do que é maldade e do que é uma crítica positiva. A quem é estúpido e me chama de caveira ambulante (cara, sente o exagero), espero que as palavras acima sobre eu estar meu cuidando alterem de alguma forma a sua opinião. Já sobre eu estar feia, não posso fazer nada. Tem coisas, amigos, que nem toda maquiagem do mundo resolve. Com quem é maldoso porque acordou com o pé esquerdo e decidiu que a vida só faz sentido se xingar e ofender muuuuuito na internet, minhas lástimas. Aquela minha pele cascudinha me deu o poder de entender quando algo é pesado, mas para o bem, e quando algo é pesado porque a pessoa se acha invencível atrás da tela do computador. Não é. Para você, nosso encontro será brevemente marcado em ambiente policial e judicial, pois confio cegamente no belo e dedicado trabalho da Delegacia de Crimes Cibernéticos, que dará andamento ao boletim de ocorrência aberto por mim (estou de boca aberta com a atenção dada ao meu caso pela Polícia Civil, a quem, independentemente de resultado, vou agradecer eternamente). E para quem me chama de feia como uma crítica construtiva, obrigada. Sério. Existem palavras e palavras para expressar o sentimento por alguém. As da crítica construtiva vêm acompanhadas de meiguices que mostram que a pessoa se preocupa contigo. A vocês, meu beijo e meu juramento: a saúde está em dia. Não se preocupem, tá?
O maior volume de e-mails, tweets e afins chegou depois da foto abaixo, postada ontem no FB. Eu queria mostrar minha blusa, criada pela Franciele Comparin (anotem esse nome), uma das vencedoras do projeto Senac Next Generation, que destaca novos talentos da moda. Alguns me acharam magra demais e vieram para cima dizendo que eu estava dando um exemplo ruim.

Estou longe de ser dona da verdade, mas eu não consigo ver numa quase selfie algum péssimo exemplo. Sim, eu perdi peso, e eu contei aqui o que aconteceu. Eu não sou anoréxica, não sou bulímica, não deixo de comer. Pelo contrário: estou seguindo a cartilha da saúde para me manter uns quilos mais magra (o que me faz sentir mais disposta) e bem, prontinha para passar dos 90 anos com folga. Eu não me vejo tão magra quanto os outros dizem, mas é claro que olho no espelho, vejo uma diferença e às vezes até eu mesma me acho feia. Faz parte da vida. Se entender é um processo que começa quando a gente nasce e, espero eu, pela fé que tenho, que não termine quando meu corpo morrer.
Fico com uma frase da Deb Xavier, que me viu ontem no Donna Fashion, me puxou para o lado e disse: “Tu estás linda. E não é por estar magra. Tu estava linda antes”. Eu me sinto linda quando estou feliz, em paz com minha consciência, trabalhando no que amo, levando o dog para passear, fazendo malabarismo com o salário, comprando um sapato novo, visitando meus pais, torcendo pela chegada do meu sobrinho. Eu estou feliz agora. Então estou linda. Por fora, todo mundo tem o direito de discordar. Mas do meu interiorzinho, eu que entendo.
Beijos e obrigada de coração pela preocupação. Beijo especial para quem concorda que beleza não se mede na balança, mas pelo tamanho do coração.
Pessoas amadas que deixaram recados